O ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, contrariou a versão apresentada pelo presidente Lula (PT) sobre suposto pedido ao ditador chinês, Xi Jinping, para o envio de uma pessoa de “confiança” ao Brasil para auxiliar o governo no projeto de regulação das redes sociais, em especial para tratar de questões relacionadas à plataforma chinesa, TikTok.
“Não houve convite para nenhuma autoridade chinesa (vir ao Brasil para discutir a questão do TikTok)”, afirmou Vieira durante audiência na Comissão de Relações Exteriores (CRE) do Senado, nesta terça-feira (20).
“Não há programa de visita de especialista, isso pode acontecer no futuro, o Brasil tem que regulamentar a questão das plataformas e depois (de feita essa regulamentação) o Brasil tem que tratar disso com o governo chinês”, completou.
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O ministro ainda citou preocupação com conteúdos sobre pornografia, pedofilia e desafios que levaram a morte de uma criança em Brasília por causa de um desafio no TikTok.
“Tem que ter e tem que haver algum tipo de controle, essas plataformas têm que ter algum tipo de responsabilidade (sobre os conteúdos que são veiculados)”, afirmou.
Lula apresentou versão sobre convite durante coletiva de imprensa, na China
Confira:
Ao conceder entrevista coletiva, em Pequim, na semana passada, o presidente Lula demonstrou irritação com o vazamento de uma aparente gafe cometida pela primeira-dama, Janja, durante reunião privada com o ditador chinês.
Segundo relatos, Janja teria dito diretamente ao líder chinês que o algoritmo da plataforma TikTok favorece conteúdos da direita. Xi Jinping teria respondido dizendo que o Brasil tem o direito de regular ou banir o TikTok.
Lula se irritou ao ser questionado sobre o episódio, reclamou dos ministros e aliados que estavam na reunião privada e disse que foi ele, e não a primeira-dama, quem introduziu o assunto sobre o TikTok. Ainda, segundo o petista, ele teria feito um pedido para que o ditador chinês enviasse um representante ao Brasil.
No Senado, nesta terça-feira, Vieira negou que o episódio tenha gerado qualquer mal-estar diplomático.
Vieira foi à audiência no Senado para responder sobre o asilo à ex-primeira-dama do Peru
O ministro Mauro Vieira foi chamado à Comissão do Senado para esclarecer sobre o asilo diplomático concedido à ex-primeira-dama do Peru, Nadine Heredia – esposa do ex-presidente Ollanta Humala (2011-2016) – após condenação pela Justiça peruana a 15 anos de prisão no âmbito da Operação Lava Jato.
Heredia e Humala foram acusados de lavagem de dinheiro qualificada por financiamento ilegal, por parte do ex-ditador venezuelano Hugo Chávez e da construtora brasileira Odebrecht, para campanhas eleitorais de Humala em 2006 e 2011.
O governo Lula enviou uma aeronave da Força Aérea Brasileira (FAB) para buscar Heredia no Peru. A ex-primeira dama peruana já estava abrigada na Embaixada do Brasil no Peru aguardando o “resgate”.
Caso de María Corina
Ao comparar o caso de Nadine Heredia, no Peru, com o caso de María Corina, na Venezuela, o ministro disse que o governo também ofereceu um avião da Força Aérea Brasileira (FAB) para tirar a opositora do ditador Nicolás Maduro da Venezuela, caso houvesse um salvo conduto.
Não houve salvo conduto e, por isso, segundo o ministro, o Brasil não fez a retirada, mas saudou a saída segura feita por ela e outros opositores. María Corina agradeceu o apoio do governo brasileiro na época.
Já no caso de Nadine Heredia, não houve impedimento do governo do Peru para asilo diplomático, conforme manda as convenções das Relações Internacionais sobre asilo e conduto dado a pessoas de outros países.
Relação com a Rússia
Ao falar sobre a participação do presidente Lula nas celebrações do regime Russo referentes ao “Dia da Vitória”, Vieira disse que o Brasil sempre está presente nas celebrações da vitória da Segunda Guerra.
“Sem a participação da Rússia, o desfecho da segunda guerra não teria sido como foi. (A visita e a participação do Brasil na comemoração dos 80 anos) foi um momento de comemoração dessa vitória em que o Brasil esteve presente na Itália, inclusive liderando forças americanas”, afirmou o ministro.
Nas festividades em Moscou, o presidente Lula se colocou ao lado de 19 autocratas e ditadores. Ao comentar sobre o caso, na semana passada, Vieira disse não enxergar “problema nenhum” na participação de Lula no evento russo.
Rússia X Ucrânia
De acordo com Vieira, nos diálogos entre Lula, o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, e o governo russo, foi pedido para que o Brasil passasse um recado ao ditador Vladimir Putin sobre a intermediação da guerra. Segundo o ministro, o “recado foi dado”.
Mauro Vieira ainda citou o multilateralismo e o comércio com a Rússia para justificar a relação do Brasil com o regime de Vladimir Putin.
“Inclusive, os EUA mantêm um comércio de US$ 3 bilhões com a Rússia, principalmente na questão de fertilizantes com a Rússia. Portanto, cada país precisa pensar nos seus próprios interesses”, afirmou.