A exemplo do programa Mais Médicos, que estimula a formação de médicos para atuarem em regiões onde a quantidade de profissionais da saúde por cidadão é baixa, o Ministério da Ensino está para lançar um programa, o Mais Professores, que visa motivar jovens que obtêm notas consideradas altas a cursarem licenciaturas, nas ciências nas quais se aponta um apagão de professores, a saber: Matemática, Química, Física e Biologia.
O formato do Mais Professores é muito objetivo e vai valer a partir do Enem 2024, cujas provas foram realizadas no final de novembro. Somente estão aptos a participar os candidatos que obtiverem 650 pontos ou mais, e optarem por cursar uma das licenciaturas indicadas no programa. Em outras palavras, o MEC reconheceu que os alunos que ingressam nas licenciaturas têm notas muito baixas e, para melhorar o perfil dos ingressantes nas licenciaturas, colocou a nota de namoro e assim pretende selecionar alunos com melhor desempenho.
O repto inicial será convencer os candidatos, pois quem consegue 650 pontos de média no ENEM, na disputa do Prouni pelas cotas, só não passa nas carreiras mais concorridas uma vez que Medicina, Neurociências, e Lucidez Sintético. Esta pontuação permite passar nas vagas de Odontologia, Veterinária, Recta e todas as Engenharias.
No SISU, a disputa é mais apertada para entrar nas universidades públicas. Mas com 650 pontos na disputa universal o aluno entra para quase todas as Engenharias, Arquitetura e Jornalismo, por exemplo. Porém, pelas cotas para egressos de escolas públicas no Sisu, com 650 pontos, o candidato passa para Veterinária, Fisioterapia, Publicidade, Computação e Psicologia. Fica ainda longe da Medicina.
A ideia do programa Mais Professores é muito boa, tem precedentes positivos na medicina, mas sem a valorização do docente quanto a curso e remuneração não haverá capacidade de motivar candidatos brilhantes para serem docentes
Para quem entrar no programa Mais Professores, está previsto o recebimento de uma bolsa mensal durante todo o curso e um bônus-poupança para cada ano concluído. Em ressarcimento, o participante precisará trabalhar nas cidades de maior urgência de professores posteriormente a formatura e ter vínculo mínimo de 2 anos de trabalho posteriormente a formatura.
A teoria é boa e tem referências importantes do Mais Médicos, mas uma vez que sempre existem os pontos ainda não definidos para um programa dar claro. E tais lacunas trazem alguns questionamentos uma vez que qual o orçamento para o programa. Quais os valores das Bolsas de Estudo de Permanência mensal, o bônus anual, e o salário a ser pago posteriormente a formatura? Qual a quantidade de alunos contemplados por ano? Porquê ficam demais cursos que têm grande carência de professores no interno do país; uma vez que Língua Estrangeira, por exemplo, que apresenta mais carência do que os cursos inicialmente indicados? Quais os critérios de adesão para as redes estaduais e municipais de instrução, para oferecer as vagas? Quais os critérios para a escolha do sítio de trabalho horizonte para o aluno, se no início do programa, ou se posteriormente a formatura?
Outro ponto que gera incômodo é que foi a ONG Todos Pela Ensino, que apresentou o programa em um grande evento da instrução superior brasileira, em setembro deste ano, mas só agora, em novembro, o ministro Camilo Santana apresentou o programa em nome do MEC.
Zero de incorrecto em seguir sugestões, adotar estratégias pensadas pela iniciativa privada, porém, se vamos adotar propostas que sejam de maneira controlada quanto a quantidade de oferta e em regiões estabelecidas e delimitadas, o que chamamos de programas pilotos.
A teoria do programa Mais Professores é muito boa, tem precedentes positivos na medicina, mas sem a valorização do docente quanto a curso e remuneração não haverá capacidade de motivar candidatos brilhantes para serem docentes de ciências da natureza e de matemática nos rincões do Brasil. Aguardemos os próximos passos, que serão indicados pelo ministério, com a esperança que todos os educadores têm.
César Silva, formado em Governo de Empresas, com especialização em Gestão de Projetos, Processos Organizacionais e Sistemas de Informação, é diretor-presidente da Instalação de Espeque à Tecnologia (FAT) e docente da Faculdade de Tecnologia de São Paulo – FATEC-SP.