Com os Estados Unidos sendo o maior consumidor mundial de café, a perspectiva das tarifas anunciadas por Donald Trump sobre importantes exportadores do produto traz preocupação sobre os impactos na dinâmica do mercado cafeeiro ao longo de 2025.
As tarifas recíprocas estabelecem uma sobretaxa mínima para praticamente todos os parceiros comerciais do país. A tarifa mínima sobre as exportações do Brasil ficou em 10%, da China em 34%, da União Europeia em 20%, da Indonésia em 32% e do Vietnã, maior produtor de café robusta/conilon do mundo, a taxação ficou em 46%.Exportações
De acordo com relatório da Pine Agronegócios, com 46% de tarifa, o Vietnã enfrentaria uma das maiores taxas recíprocas e, em comparação aos seus rivais (Brasil e Indonésia), poderíamos ter uma demanda mais presente para o robusta/conilon brasileiro.

“Se tudo ficasse desta forma, as importações americanas de robusta poderiam cair vertiginosamente da origem vietnamita, mas o volume hoje importado do Vietnã pelos Estados Unidos representa aproximadamente US$ 550 milhões, ou seja, aproximadamente 1,797 milhão de sacas (11,7% do volume do Vietnã). O maior volume de café robusta exportado do Vietnã hoje vai para a Europa, e esse volume aumentaria, reduzindo na origem brasileira. Então teríamos maior demanda no Brasil e maior oferta do Vietnã na Europa e como os futuros”, destaca ainda o documento.
Diante deste cenário, consequentemente, o Brasil poderia se beneficiar de uma maior demanda por café robusta nos EUA, enquanto o Vietnã aumentaria sua oferta na Europa.
Para Laleska Moda, analista de inteligência de mercado da Hedgepoint, considerando que os países asiáticos ainda representam a maior parte das importações americanas de robusta/conilon, essa diferença entre as tarifas impostas aos países pode, sim, alterar o equilíbrio do mercado. “Com os cafés asiáticos sujeitos a preços mais altos, a demanda dos EUA pode se deslocar para origens com taxação mais baixa, como Brasil e Uganda, ao passo que o excedente de grãos asiáticos poderia ser redirecionado para outros destinos”, afirma a analista.
Segundo relatório do Cecafé, os grãos produzidos no Vietnã e Indonésia ficaram em um cenário mais competitivo para exportações no primeiro bimestre de 2025. “Muitas dessas exportações para Vietnã e Indonésia são de contratos fechados ainda em 2024, quando nossos robusta e conilon estavam mais competitivos. Vale lembrar que esses cafés já deveriam ter saído de nossos portos se não enfrentássemos intensos gargalos logísticos devido à defasagem de nossa infraestrutura portuária, que gera inúmeros e constantes atrasos de navios, alterações de escalas e rolagens de cargas”, explica Márcio Ferreira, presidente do Cecafé. Ainda assim, no primeiro bimestre deste ano, os Estados Unidos foram o principal destino dos cafés do Brasil, com a importação de 1,206 milhão de sacas, o que equivale a 16,6% do total, apesar de representar um declínio de 12,3% na comparação com janeiro e fevereiro de 2024.
O diretor executivo da MM Cafés, Marcus Magalhães, afirma que o Brasil tem muito potencial de produção e qualidade para colocar o café robusta/conilon nos EUA. “Há 2 anos, quando houve os problemas climáticos, logísticos e produtivos no Vietnã e Indonésia, o Brasil sabiamente colocou o nosso conilon na Europa, fazendo a diferença e caindo no gosto dos importadores e consumidores europeus. Se firmarem essas tarifas, agora é a vez do país tomar conta do mercado americano. Nossa taxa de 10% coloca a gente em um cenário muito competitivo, olhando para o mercado americano, porque estamos com um preço 30% mais barato que os outros produtores. Temos aí um mar aberto de possibilidades”, completa o diretor.
Vale lembrar que toda essa situação tarifária tem como bastidor também uma estimativa de crescimento de 17,2% na produção da safra 2025 para o conilon/robusta brasileiro (segundo dados da Conab) e uma quebra de 10% para essa temporada da produção vietnamita.