O assessor especial da Presidência da República, o ex-embaixador Celso Amorim, disse que o problema da eleição na Venezuela deve ser resolvido pelos venezuelanos e não por interferência externa.
A declaração foi dada durante participação de Amorim em uma audiência reservada na Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional da Câmara dos Deputados, nesta terça-feira (29).
“Estamos acompanhando de perto esse processo político, mas a solução precisa ser construída pelos próprios venezuelanos, por meio do diálogo, e não imposta de fora”, disse Amorim.
“Esse entendimento difícil é necessário, porque temos uma fronteira de dois mil quilômetros com a Venezuela, temos que cooperar contra a criminalidade internacional, proteger povos indígenas e preservar a floresta Amazônica”, completou.
Ainda, segundo o ex-chanceler, o presidente Lula (PT) não conversa com o ditador da Venezuela, Nicolás Maduro, desde as eleições.
Amorim também reforçou a posição da chancelaria em relação às sanções internacionais impostas ao regime de Maduro.
“As sanções e o isolamento internacional já se provaram ineficazes e penalizam injustamente a população”, disse.
“Mal-estar” diplomático
O deputado Luiz Philippe de Orleans e Bragança (PL-SP), um dos autores do requerimento para a audiência, perguntou a Amorim se a diplomacia classifica o regime de Maduro como uma ditadura.
Em resposta, Amorim disse ser contrário à “classificação de países” em governos ditatoriais ou democráticos. Por outro lado, afirmou que o fato de o Brasil não ter apoiado oficialmente a suposta vitória de Maduro na eleição criou um “mal-estar nas relações” bilaterais.
“Há um mal-estar hoje, eu torço para que isso desapareça, mas vai depender de ações”, afirmou o ex-chanceler.
Ao questionar Amorim, o deputado sinalizou preocupação com o aumento de “alinhamentos ideológicos” do Brasil com a ditadura venezuelana, o que, segundo o parlamentar, poderia levar o Brasil à posição de “anão político”.
“O que estamos vendo é um alinhamento do Estado brasileiro não com um governo de esquerda ou de direita, mas fazendo alinhamento ideológico e partidário a grupos terroristas e organizações criminosas”, destacou o parlamentar.
Amorim também observou que alguns posicionamentos diplomáticos do Brasil, como o veto informal à entrada da Venezuela no Brics, “diminuiu nitidamente” o diálogo com o regime de Maduro.
Maduro acusou o Itamaraty de boicotar entrada da Venezuela no Brics
Na noite de segunda-feira (28), no decorrer do seu programa de televisão, Maduro acusou o Ministério das Relações Exteriores do Brasil, o Itamaraty, de estar ligado ao Departamento de Estado americano, o que teria motivado o veto à entrada venezuelana como país-parceiro nos Brics.
“O Itamaraty é uma chancelaria que conhecemos bem, que sempre conspirou contra a Venezuela, [mas] conseguimos levar adiante segundo as regras da diplomacia, é uma chancelaria intimamente ligada ao Departamento de Estado dos EUA desde a década de 1960”, disse o ditador.
A respeito do chanceler brasileiro, Mauro Vieira, Maduro o ridicularizou e disse que ele “quase desmaiou” ao vê-lo na cúpula dos Brics realizada na semana passada em Kazan, na Rússia.
Ao tratar do assunto na audiência com Celso Amorim, o deputado federal Marcel van Hattem (NOVO-RS) disse que “além de o governo Lula está se humilhando diante de quem defende a democracia, agora está sendo humilhado pelo próprio ditador”.
O parlamentar também relembrou a prisão ilegal de Maria Oropeza, coordenadora de campanha da Maria Corina, que foi perseguida e presa por filmar a invasão de sua casa por agentes do ditador Maduro.
“O que o Brasil está fazendo pela liberdade de Maria Oropeza? O que o governo já fez ou pretende fazer para cumprir a cautelar da Comissão Interamericana de Direitos Humanos, órgão da OEA, que atendeu a solicitação do grupo Lola (Ladies of Liberty Alliance) em prol dos direitos humanos de Maria Oropeza?”, questionou Van Hattem.
Calote da Venezuela
O deputado Lucas Redecker (PSDB-RS), um dos que solicitaram a audiência com Amorim, questionou o ex-chanceler sobre os eventuais esforços da diplomacia brasileira para receber US$ 5 bilhões devidos pelo governo venezuelano.
Ao responder a questão, Amorim disse que a dívida não é de US$ 5 bilhões, mas de US$ 1,28 bilhão, segundo cotação do Ministério da Fazenda.
De acordo com Amorim, a existência da dívida é um dos motivos para o Brasil manter diálogo com o vizinho.
“Um dos objetivos de reatar rapidamente com a Venezuela era poder obter esse pagamento e poder continuar a fazer negócios”, disse.