Como o cooperativismo agro pode evoluir? Quais passos precisam ser dados para que as cooperativas possam ampliar sua atuação e participação no mercado? Para responder a essas e outras perguntas, o Sistema OCB/ES, em parceria com o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) realizou a 2ª edição do Seminário Capixaba de Aperfeiçoamento das Cooperativas do Ramo Agropecuário.
O evento ocorreu entre os dias 8 e 9 de maio, no Hotel Fazenda China Park, em Domingos Martins. Estiveram presentes mais de 110 lideranças das cooperativas do Ramo Agropecuário e de cooperativas do Ramo Crédito que atuam com o crédito rural.
A abertura do encontro foi realizada pelo presidente do Sistema OCB/ES, Dr. Pedro Scarpi Melhorim. “Queremos agradecer a cada um dos senhores e senhores que separam esses dois dias para estarem aqui. Isso mostra o compromisso que cada um assumiu com a evolução do nosso modelo de negócio, gerando retornos aos nossos cooperados e à sociedade”, pontuou.
Na sequência, o diretor-executivo da organização, Carlos André Santos de Oliveira, convidou os participantes a aproveitarem as discussões. “Cada um dos temas aqui foi pensado para a realidade do Espírito Santo. Por isso, queremos que absorvam o máximo de informação e, principalmente, que levem isso para a prática. O cooperativismo agro é muito forte e pode ir muito mais longe”, completou.
O momento de falas foi encerrado pelo superintendente federal de Agricultura e Pecuária no Estado do Espírito Santo, Guilherme Gomes de Souza, que representou o Mapa. Ele parabenizou o cooperativismo pela realização do evento e destacou a parceria do ministério para ações que visem potencializar o setor agro no estado e no Brasil.
“Eu me sinto muito em casa, pois sou cooperado e fã incondicional do cooperativismo. O Mapa tem mais de 164 anos presentes na história desse país, e é uma honra muito grande saber que, entre as missões que ele tem, está o apoio ao cooperativismo. É uma obrigação do Ministério da Agricultura apoiar as ações do cooperativismo”, disse.
Primeiro dia
Confira:
Integrar cooperativismo e inovação
A programação do primeiro dia foi iniciada pelo painel “Integrando inovação nas cooperativas”. O momento foi aberto com uma palestra conduzida pela consultora e mestra em Agricultura Tropical Fabiane Astolpho, que abordou a inovação e tecnologia no agronegócio. Em sua fala, a palestrante convidou o público a imaginar o futuro esperado para as suas cooperativas.


“Precisamos falar de estratégia. Inovação é definir os passos estratégicos que a cooperativa precisa para alcançar o futuro esperado. Não podemos aguardar as coisas acontecerem para, então, planejarmos. O que nós precisamos fazer é construir o futuro. O que fazemos hoje impacta o amanhã”, pontuou.
Em seguida, o engenheiro agrônomo e gerente de Geração e Difusão de Tecnologia no Centro Tecnológico da Cooperativa Agroindustrial dos Produtores Rurais do Sudoeste Goiano (Comigo), Eduardo Hara, apresentou o case de sucesso do Sistema de Gestão Super-Pec.
O sistema é um ambiente integrado para a gestão de análise de dados para a pecuária. A ferramenta foi adaptada para a realidade da cooperativa, junto com a instrumentalização e capacitação da equipe. O projeto foi criado com o objetivo de oferecer ferramentas de gestão e apoio tecnológico para os produtores da Comigo.
As apresentações do painel foram encerradas pelo médico veterinário e gerente técnico da Cooperativa dos Cafeicultores da Região de Lajinha (Coocafé), Valdean Loureço Teófilo. O case mostrado por ele foi da NetZero (usina de biochar), com foco na produção de café sustentável.
A coop possui uma parceria com a startup francesa NetZero para a produção do biochar a partir de palhas de café, ação conectada aos princípios do ESG e que utiliza um matéria-prima antes descartada. O biochar é um material rico em carbono que tem propriedades que geram, no solo, um ambiente propício a microrganismos que levam nutrientes até a planta, o que o torna um potente fertilizante.
Ao final, todos os convidados foram para uma roda de debate, que foi mediado pela gerente da Unidade de Competitividade e Produtividade do Sebrae/ES, Ana Karla Macabu Pinheiro. O momento permitiu aos convidados cruzarem os temas abordados e responderem às perguntas do público.
Foco na marca
A programação seguiu com o diretor criativo da Plimper Design, Romis Carmo, que ministrou a palestra “InspiraCoop – gente é a nossa inspiração”. Com mais de 20 anos de experiência, o palestrante abordou um tema que tem conexão direta com o cooperativismo: a importância de colocar as pessoas no centro, inclusive na criação e estratégia de marca.
“Não podemos mais fazer uma criação solitária, mas sim uma criação solidária. Nós precisamos inspirar todos os dias e estimular o pensamento colaborativo criativo. Não podemos esquecer que gente é quem queremos atingir. Por isso, é para as pessoas que temos que voltar o nosso olhar”, explicou.
Humor e liderança
O último momento do dia foi a palestra-show intitulada “Liderar com humor aproxima o colaborador”, comandada pelo humorista Rossini Macedo. Empresário no ramo de acessórios, ele largou tudo para viver da arte do sorriso. E foi com esse bom-humor que ele levou os participantes a refletirem sobre a importância de lideranças humanas em negócios de sucesso.
Segundo dia
Os participantes foram recepcionados pelo deputado federal Evair de Melo. Defensor do modelo de negócio e comprometido com o seu desenvolvimento, Evair foi responsável por destinar recursos de emenda parlamentar para a realização do seminário, que focou o aperfeiçoamento das coops agro.
“O cooperativismo assume um papel importante na sociedade. Por algum tempo, as cooperativas foram colocadas quase como ONGs. Apesar do seu forte trabalho na área social, o cooperativismo é negócio e precisa ser enxergado como isso. Ele é fundamental e o melhor caminho para avançarmos ainda mais”, disse o deputado.
Desafios em debate
Na sequência, o secretário de Estado da Agricultura, Abastecimento, Aquicultura e Pesca, Enio Bergoli, deu sequência à programação com a palestra “Perspectivas, desafios e oportunidades do agro capixaba”. Durante a sua fala, ele destacou projetos realizados entre a secretaria e o cooperativismo, além de dados que mostram a força do movimento cooperativista na produção de diferentes culturas e também no crédito rural.
“As cooperativas já têm uma contribuição significativa no agro capixaba, mas podemos ser mais arrojados. Temos oportunidades existentes e, para isso, precisamos estar sempre em evolução, focando em pesquisa e inovação, assistência técnica e gerencial, inclusão da agricultura familiar e promoção da sucessão familiar. Além disso, precisamos chegar com mais tecnologia para os pequenos produtores, para que eles também tenham mais competitividade”, disse.
O secretário também foi responsável por mediar o segundo painel do evento, intitulado “Desafios em debate – o papel das cooperativas no desenvolvimento do agro”. O bate-papo contou com a participação do superintendente da Cooabriel, Carlos Augusto Pandolfi; do CEO da Nater Coop, Marcelino Bellardt; do superintendente da Selita, Luciano Salles; do superintendente da Cacal, Antonio Savio Piassi; e do presidente da Coopram, Darli José Schaefer.
Mercado de carbono
O mercado de carbono regulado como possibilidade de transformar práticas no campo em novas formas de receita também entrou em debate no seminário com uma palestra conduzida pelo doutor em Direito Leonardo Munhoz. Ele trouxe um panorama da legislação que regula o mercado de carbono no Brasil.
“Precisamos ver quais as oportunidades que essa lei pode ter para as cooperativas e para os cooperados. Hoje, no Brasil, o mercado de carbono voluntário é só para grandes produtores ou grandes empresas, é muito caro e é de pequena escala ainda, de preços flutuantes. Com o mercado regulado, a tendência é que possamos ter um uso maior por parte dos pequenos e médios produtores, com as cooperativas organizadores desses cooperados”, explicou.
Neutralidade de carbono
Conectados a esse tema, o Sistema OCB Nacional elaborou uma solução intitulada “Neutralidade de Carbono”, com o objetivo de auxiliar as cooperativas na redução e neutralização das emissões de gases de efeito estufa (GEE), contribuindo para a descarbonização e o cumprimento das metas globais de sustentabilidade.
A iniciativa foi apresentada pela analista da organização, Laís Barbosa. “O mercado de carbono é uma excelente oportunidade. Para a cooperativa poder aproveitar essa oportunidade, ela precisa entender se tem aptidão para estar nesse mercado. É nessa tarefa que a solução do Sistema OCB foca, colocando as cooperativas para entender o seu impacto e como ele pode ser trabalhado”, explicou.
A Solução Neutralidade de Carbono objetiva inventariar as emissões de gases de efeito estufa (GEE) de cooperativas e cooperados e fornecer ferramentas para que eles monitorem a pegada de carbono (volume acumulado das emissões) das suas atividades e ainda adotem soluções para reduzirem ou neutralizá-las.