O mercado financeiro considera certo que o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central irá elevar a taxa Selic para 14,25% ao ano nesta quarta-feira, 19. Esse patamar foi registrado durante a crise do governo Dilma Rousseff (Pt) e, caso a previsão se confirme, será o maior nível desde outubro de 2016. Naquela ocasião, o Banco Central manteve a taxa nesse nível por mais de um ano.
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A decisão faz parte de um evento conhecido como “superquarta”, quando os bancos centrais do Brasil e dos Estados Unidos definem os rumos da política monetária. Nos EUA, a expectativa é de manutenção da taxa entre 4,25% e 4,50% ao ano.
Divergências sobre próximos passos sobre a Selic
Confira:
Embora haja consenso sobre a elevação da Selic nesta reunião, analistas divergem sobre os passos seguintes do Copom. Uma pesquisa da Bloomberg com 30 instituições aponta um aumento de um ponto porcentual, mas a sinalização do Banco Central para as próximas reuniões segue incerta.
Alguns economistas acreditam que o Copom irá reduzir o ritmo de alta dos juros em maio. Outros avaliam que a autoridade monetária manterá flexibilidade para futuras decisões, sem se comprometer com um plano rígido.
Segundo a pesquisa Focus, a projeção mediana dos analistas aponta a Selic em 15% ao final do ano. Desde a última reunião, aumentou a percepção de que o aperto monetário começa a surtir efeito, refletido em sinais de desaceleração econômica.
Comunicação do Banco Central em foco
Sergio Goldenstein, ex-chefe do Departamento de Mercado Aberto do Banco Central e estrategista-chefe da Warren Rena, avalia que o Copom pode modificar sua comunicação, e enfatizar a necessidade de reduzir o ritmo de ajuste da Selic. Segundo ele, a autoridade monetária dificilmente interromperá o ciclo de alta dos juros agora, pois a projeção de inflação ainda está acima da meta.
No cenário de referência do Copom, a estimativa para a inflação do terceiro trimestre de 2026 é de 4%, enquanto a meta central é de 3%, com uma margem de tolerância de 1,5 ponto porcentual para mais ou para menos. Em fevereiro, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) registrou alta de 5,06% no acumulado de 12 meses, e reforçou a preocupação com o cumprimento da meta inflacionária.
Copom pode continuar a elevar a Selic
Goldenstein sugere que o Copom pode continuar a elevar a Selic, mas com um ajuste menor, de 0,25 ponto porcentual, em maio. Ele considera que a taxa de 14,25% já é bastante restritiva para a economia e um ajuste mais moderado permitiria uma melhor avaliação dos impactos da política monetária.
“Ele (Banco Central) já tem um grau de conforto com a Selic em 14,25% em março, que é um patamar bastante contracionista”, disse ao jornal Folha de S. Paulo. “Com um ritmo menor, ele ganha tempo para conseguir entender os efeitos defasados da política monetária.”
Luiz Fernando Figueiredo, ex-diretor do Banco Central e presidente do conselho da Jive Investments, também descarta a interrupção da alta dos juros nesta reunião. No entanto, acredita que o Copom poderá indicar que os próximos ajustes serão menos agressivos, ao sinalizar um possível fim do ciclo de aperto.
Para Figueiredo, o Banco Central tende a adotar um tom equilibrado, ao evitar rigidez excessiva. Ele acredita que a autoridade monetária pode indicar o encerramento dos aumentos de um ponto porcentual, e abrir espaço para ajustes menores, além de depender da evolução do cenário econômico.
“Na época em que estava no Banco Central, sempre preferia deixar mais em aberto (os próximos passos) porque as coisas mudam com muita rapidez”, declarou Figueiredo à Folha de S.Paulo. “O BC tem mostrado que quer ficar indicando para o mercado o que ele acha. Mas ele pode mudar de opinião.”
No cenário global, tensões comerciais nos Estados Unidos aumentam as dúvidas sobre a inflação
O desempenho da economia brasileira adiciona um elemento de incerteza. O Produto Interno Bruto (PIB) cresceu 3,4% em 2024, mas perdeu fôlego no quarto trimestre, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Apesar disso, o Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) avançou 0,9% em janeiro, e superou a projeção de 0,22% da pesquisa da Reuters.
No cenário global, tensões comerciais nos Estados Unidos aumentam as dúvidas sobre a inflação e os rumos do Federal Reserve (Fed). A postura da autoridade monetária norte-americana pode influenciar a trajetória da Selic nos próximos meses.
Mirella Hirakawa, coordenadora de pesquisa da Buysidebrazil, afirma que o Copom deve reforçar seu compromisso com a meta de inflação. Entretanto, Hirakawa reconhece sinais de moderação no cenário econômico. Um dos fatores que sustentam essa visão é a valorização do real desde janeiro, quando o dólar estava em R$ 6. Nesta terça-feira, 18, a moeda foi cotada abaixo de R$ 5,70.
Hirakawa acredita que o Copom está perto do fim do ciclo de alta dos juros e deve calibrar seus próximos passos. Segundo ela, a instituição pode abandonar o “forward guidance” e passar a tomar decisões com base nos dados econômicos. Ela espera uma alta de 0,75 ponto porcentual em maio, ao permitir ajustes graduais conforme a necessidade.
“A nossa expectativa é que vai vir uma decisão dura, porém abrindo a porta, ganhando espaço de manobra para desacelerar”, disse Hirakawa.