Em uma longa entrevista à revista norte-americana O nova -iorquino publicada nesta segunda-feira, 7, o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), descreve sua atuação contra o que define como “novo populismo extremista digital” e critica as redes sociais e seus donos, especialmente Elon Musk, ao citar Goebbels.
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““ (Joseph) Goebbels estivesse vivo e tivesse acesso ao X, estaríamos condenados”, afirmou o ministro, em referência ao ministro da propaganda na Alemanha Nazista entre 1933 e 1945. “Os nazistas teriam conquistado o mundo.”
A entrevista, conduzida pelo jornalista Jon Lee Anderson — conhecido por sua biografia de Che Guevara —, aborda os bastidores da batalha travada entre Moraes e a ascensão de movimentos de direita impulsionados por plataformas digitais.
Com um passado de secretário de segurança em São Paulo e ministro da Justiça no governo Temer, Moraes diz que não esperava ser alçado ao centro de uma crise democrática. “Nem meus colegas nem eu podíamos imaginar que a democracia brasileira estaria em risco”, alegou. “Alcançou um nível inimaginável.”
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Segundo ele, a radicalização política no Brasil se deu em paralelo ao uso estratégico e massivo das redes sociais por grupos de direita. Ele destaca a Primavera árabe como ponto de virada. “A extrema-direita percebeu, durante a Primavera Árabe, que era possível mobilizar pessoas sem intermediários”, analisou.
Os Goebbels um almíscar
A relação com Musk tornou-se áspera depois de o empresário se recusar a obedecer ordens judiciais de retirada de conteúdos e suspensão de contas, por considerá-las ilegítimas. Em reação, Moraes congelou as contas da X e da Starlink e impôs uma multa milionária.
Em resposta, Musk chamou o ministro de “ditador do mal fantasiado de juiz”. Moraes retrucou com ironia: “Para ser sincero, acho engraçado”, admitiu. “Como todas as outras empresas, esta também deve cumprir a lei brasileira.”
Para Moraes, as Grandes técnicos agem como uma versão moderna da Companhia das Índias Orientais: “Querem criar uma nova Companhia das Índias para controlar o mundo”, compara. “Não respeitam jurisdições porque querem ser imunes às nações.”

A entrevista também expõe a conexão entre o ex-presidente Jair Bolsonaro, Donald Trump e Musk, vista por Moraes como parte de uma coalizão transnacional de influenciadores de direita que buscam contestar instituições democráticas. “Nos Estados Unidos, Trump acusou o voto por correspondência de ser fraudulento; no Brasil, Bolsonaro acusou as urnas eletrônicas de serem fraudulentas”, acusou.
Moraes evitou comentar diretamente o envolvimento de Bolsonaro nos atos de 8 de janeiro de 2023, mas enfatizou que a tentativa de golpe contou com apoio de altos comandos militares e visava a provocar uma crise institucional que justificasse intervenção do Exército.
A denúncia da Polícia Federal acusa Bolsonaro de ser parte direta de um plano chamado Punhal Verde e Amarelo, que incluía o assassinato de Lula e do próprio Moraes. “Brinco com minha equipe de segurança que eu não podia morrer”, disse. “O herói do filme tem que continuar.”
“Não toleraremos o caos”
“Enviaremos uma mensagem clara ao país: não toleraremos o caos no Brasil”, decretou Moraes, que demonstra se ver como defensor das instituições diante de uma ameaça real. “A democracia correu risco, e ainda corre.”
Mesmo diante das pressões internacionais, como declarações de congressistas republicanos a favor de sanções, Moraes mantém sua posição. “Eles podem entrar com ações, mandar o Trump falar”, desdenhou. “Se mandarem um porta-aviões, aí veremos. Se não chegar ao Lago Paranoá (lago artificial em Brasília)não vai influenciar a decisão aqui no Brasil.”


A entrevista não poupa as contradições da atuação de Moraes. Acusado de concentrar poderes, perseguir opositores, bloquear contas e impor multas desproporcionais, ele diz que “a liberdade de expressão não é liberdade para destruir a democracia” e que, “se os governos não agirem agora para controlar as redes sociais, será tarde demais”.
A reportagem da nova iorquino encerra com a reflexão de Moraes sobre o poder da tecnologia e o futuro da democracia. “As redes sociais são hoje o maior poder de todos”, alega. “Não só influencia as pessoas, como também gera as maiores receitas publicitárias do mundo, o que lhe confere o poder financeiro para influenciar as eleições.”
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