Os números da segurança pública na cidade de São Paulo têm aspectos bons e ruins. Os bons: comparada a outras grandes cidades, a capital paulista apresenta um desempenho muito superior. Os ruins: o índice de criminalidade em São Paulo continua saliente.
Mas, para quem mora na cidade, faz pouco sentido proferir que São Paulo, com um todo, é uma cidade segura ou insegura. Com 1,5 milénio quilômetros quadrados e 11,4 milhões de habitantes, a capital paulista tem mais habitantes que Portugal.
Para permitir uma estudo mais detalhada da criminalidade nos diferentes bairros de São Paulo, a Publicação do Povo colheu as estatísticas de 2022, 2023 e 2024 (até julho). O resultado tem dados surpreendentes.
Porquê a nota foi calculada
Confira:
O ranking da segurança pública dos bairros de São Paulo, elaborado pela Publicação do Povo, levou em conta crimes contra a vida, assaltos e furtos de veículos. Furtos menores e outros crimes (uma vez que porte de drogas) tendem a ter um supino índice de subnotificação, o que distorce os resultados.
O ranking dos bairros mais seguros de São Paulo é dividido por distritos policiais (delegacias), e mostra as áreas que tiveram o maior número de ocorrências policiais.
O critério é simples: quanto mais crimes registrados naquela delegacia, menor é a nota.
O ranking utiliza o número bruto das ocorrências policiais porque uma estimativa da taxa de criminalidade de tratado com a população criaria distorções. Por exemplo: o número de pessoas que circula pela região médio é muitas vezes maior do que o número de pessoas que de trajo vive na superfície.
Em média, cada província policial é responsável por uma superfície de 140 milénio habitantes. O ranking da Publicação do Povo simplesmente mede, de forma direta, quantos crimes aconteceram em cada região.
A capital paulista tem 93 distritos policiais. Nem todos eles equivalem a um bairro. Higienópolis, por exemplo, não tem delegacia própria, e faz segmento do Região Policial da Consolação. Ao mesmo tempo, Itaquera e Cohab Itaquera são dois distritos policiais distintos.
Ainda assim, a lista permite uma confrontação direta entre as regiões da capital paulista.
Categorias
A nota universal de cada província policial foi calculada com base em três categorias. A primeira é a dos crimes contra a vida, que teve o maior peso. Dentro dessa categoria, os latrocínios também receberam um peso mais saliente — já que essa estatística reflete melhor os riscos reais para quem circula nessas regiões.
A segunda categoria foi a dos roubos, e inclui os roubos de veículos (que são contabilizados uma vez que um índice à segmento) e os dados apresentados uma vez que “Roubos – outros” pela Secretaria de Segurança Pública. Essa categoria tem peso 2.
A terceira categoria é a dos furtos de veículos, que recebeu peso 1.
A distribuição dos pesos foi a seguinte:
Crimes contra a vida – Peso 3
– Homicídios e lesões corporais seguidas de morte (peso 1)
– Latrocínios (peso 1,5)
Assaltos – Peso 2
– Roubos de veículos
– Roubos – outros
Furtos – Peso 1
– Furtos de veículos
Em todos os cinco quesitos, os dez piores índices levaram nota zero. A partir daí, a nota foi calculada de forma linear. Só receberam nota dez os distritos que tiveram zero ocorrência daquele tipo.
Uma nota subida não significa que aquele província está perto da sublimidade, mas indica que aquele bairro teve um desempenho melhor que os demais.
Os bairros mais seguros de São Paulo
Em primeiro lugar no ranking dos bairros mais seguros de São Paulo, aparece o Região Policial do Belém, na região da Mooca.
No período analisado, o bairro teve seis homicídios (nenhum deles foi latrocínio), 60 roubos de veículos, 1.088 assaltos (excluindo os roubos de veículo) e 382 furtos de veículos.
O bairro mais seguro de São Paulo teve “apenas” um assalto por dia, em média.
Mas poderia ser muito pior.
No mesmo período, o vizinho Brás (em 20° lugar dentre os bairros mais seguros) teve 17 assassinatos, 99 roubos a veículos, 3.190 roubos, e 1.087 furtos de veículos.
No província da Sé (57° lugar), os números foram de 34, 83, 471 e 10.737, respectivamente. A região teve, em média, 12 assaltos por dia.
Em 93° e último lugar, São Mateus registrou 32 assassinatos (incluindo cinco latrocínios), 1.342 roubos de veículos, 1.847 furtos de veículos e 5.848 roubos (excluindo roubos de veículos). Na nota universal, de 0 a 10, o província recebeu uma pontuação de 0,67.
O segundo lugar na lista é um bairro modesto: o Jardim Robru, na Zona Leste, obteve 8,79 pontos no ranking universal. Um sinal de que áreas de baixa renda não são sinônimo de zonas violentas.
Mesmo quando se leva em conta a população do província, os números continuam positivos: o Jardim Robru teve uma taxa de homicídios de 1,5 por 100 milénio habitantes (quando se calcula a média anual entre 2022 e julho de 2023). Nos Jardins, um dos bairros mais nobres da capital, a taxa foi de 2,8.
O fenômeno se repete em outros critérios. A taxa de assaltos dos distritos policiais da Consolação (3,9 milénio por 100.000 habitantes por ano) e de Pinheiros (2,7 milénio) está muito supra do de bairros de renda mais baixa, uma vez que Ermelino Matarazzo (627 por 100 milénio habitantes) e Perus (604).
Características urbanísticas fazem diferença
Para a professora de Urbanismo Loyde Abreu-Harbich, da Universidade Presbiteriana Mackenzie, os resultados mostram que a reciprocidade entre renda e segurança está longe de ser perfeita. Ela diz que alguns bairros mais pobres de São Paulo têm uma propriedade ausente em regiões mais abastadas: o siso de comunidade. “O sentimento de pertencimento ao lugar ajuda a cuidar da segurança do bairro, que é o elemento de vitalidade urbana que chamo de olhos na rua”, explica.
A professora acrescenta que, além do policiamento, as características urbanísticas de cada região afetam os índices de criminalidade. A falta de iluminação adequada e a falta de janelas tendem a aumentar as oportunidades para ações criminosas.
Outrossim, zonas mais ricas são o branco preferencial de criminosos interessados em cometer assaltos ou latrocínio de veículos.
Homicídios estão em baixa, mas violação continua saliente
A taxa de homicídios paulistana é a menor dentre as capitais do país. Segundo a Secretaria de Segurança Pública do Estado, o município teve em 2023 sua menor taxa de homicídios já registrada: 4,5 mortes por 100 milénio habitantes — metade do índice de 2015, que já era metade do registrado em 2006, que era menos da metade da taxa de 2001 (51,9 milénio por 100 milénio habitantes).
O Atlas da Violência, elaborado pelo IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), tem números menos impressionantes: o relatório leva em conta o que considera “homicídios ocultos” e coloca São Paulo com 15,4 assassinatos por 100 milénio habitantes. Ainda assim, por esse critério a cidade é a terceira capital estadual com menos assassinatos no país. Unicamente Cuiabá e Florianópolis tiveram um desempenho melhor em 2022, data dos últimos números consolidados.
Ao mesmo tempo em que os homicídios estão em queda, é impossível proferir que São Paulo é uma cidade segura. O número de roubos, assaltos e furtos permanece muito supra do razoável, e tem um efeito infindável sobre a sensação de segurança. O índice de roubos (leia-se assaltos) é praticamente o mesmo de duas décadas detrás, e aumentou 17% entre 2012 e 2022.