Uma pesquisa de seis anos, conduzida em 12 municípios das regiões de Montanhas, Caparaó e Noroeste do Espírito Santo, aponta para uma verdadeira revolução na produção de café arábica. O estudo do Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper) validou 10 cultivares que se destacaram pela alta produtividade, qualidade superior dos grãos e menor necessidade de defensivos.
Os experimentos, realizados em parceria com produtores locais, revelaram cultivares promissoras como Catucaí 785/15, Catucaí Amarelo 2SL, Catucaiam 24137, Japy, Acauãnovo, Arara, IPR 103 e Tupi IAC 1669-33. As lavouras que participaram da pesquisa estavam localizadas em Alto Rio Novo, Mantenópolis, Santa Teresa, São Roque do Canaã, Conceição do Castelo, Venda Nova do Imigrante, Santa Maria de Jetibá, Afonso Cláudio, Brejetuba, Ibitirama, Guaçuí, Muniz Freire e Dores do Rio Preto.
Os resultados surpreenderam. A adoção de cultivares mais adaptadas às condições climáticas, de altitude e solo do Espírito Santo tem o potencial de quase dobrar a produção estadual, saltando de 3,3 milhões para 5,9 milhões de sacas. Esse incremento de 2,6 milhões de sacas representaria um impacto econômico superior a R$ 5 bilhões, sem considerar a redução nos custos com fertilizantes e controle de pragas como a ferrugem. Os detalhes da pesquisa foram apresentados durante um evento especial, na última quarta-feira (7), em Brejetuba, município reconhecido como a “capital estadual” do café arábica.
O que diz o estudo
Confira:
A cartilha com as conclusões do estudo está disponível clicando aqui. Os dados mostram que na Região de Montanhas os pesquisadores descobriram que as cultivares Catucaiam 24137, Arara, IPR 103, Acauãnovo, Japy, Catucaí Amarelo 2SL e Tupi IAC 1669-33 formaram o grupo de maior produtividade, com médias superiores a 50 sacas por hectare, lideradas pela Catucaiam 24137 (52,4 sc/ha). Em relação à qualidade, todas as cultivares demonstraram potencial para cafés especiais, com notas acima de 80 pontos, sendo ‘Catuaí Vermelho IAC 44’ e ‘Acauãnovo’ as com menores notas (85 pontos) e ‘Catucaí 785-15’ e ‘Arara’ as de maior destaque (86,9 pontos), evidenciando o potencial de cultivares tradicionais e mais recentes para aprimorar a experiência sensorial do café capixaba.

No Caparaó, as cultivares Arara (49,5 sc/ha), IPR 103 (48,8 sc/ha), Catucaiam 24137 (48,6 sc/ha), Tupi IAC 1669-33 (48,3 sc/ha) e Catucaí Amarelo 2SL (47,0 sc/ha) se destacaram com as maiores produtividades. Já na Região Noroeste, as maiores produtividades foram alcançadas pelas cultivares IPR 103 (61,6 sc/ha), Acauãnovo (60,0 sc/ha) e Arara (57,6 sc/ha), com um desempenho notável também de Japy, Catucaí Amarelo 2SL, Tupi IAC 1669-33, Catucaí 785-15 e Catucaiam 24137.
Uma análise abrangente de 12 experimentos em três regiões distintas identificou diferenças significativas na produtividade média de diversas cultivares de café, permitindo a formação de três grupos distintos. No grupo de maior destaque, figuram as cultivares IPR 103 (53,9 sc/ha), Arara (52,8 sc/ha) e Acauãnovo (51,7 sc/ha), seguidas de perto por Catucaí Amarelo 2SL (50,4 sc/ha), Tupi IAC 1669-33 (50,3 sc/ha), Japy (50,2 sc/ha), Catucaiam 24137 (49,6 sc/ha) e Catucaí 785-15 (46,4 sc/ha). Um segundo grupo apresentou produtividade intermediária, liderado pela cultivar Catuaí Vermelho IAC 44 (43,7 sc/ha), enquanto a cultivar Catiguá MG2 (35,3 sc/ha) formou o grupo de menor produtividade média.
Produtores acompanharam de perto
Em Guaçuí, no coração do Caparaó Capixaba, o produtor Leandro Dessi de Paula acompanhou de perto os resultados da pesquisa em sua propriedade. Ele mantém uma unidade experimental com as dez cultivares validadas, onde são avaliadas tanto a produtividade quanto a qualidade dos grãos. “É um legado muito grande. Os produtores podem conhecer qual variedade melhor se adapta à região. Ali é possível delimitar qual a altitude ideal, a variedade mais adequada, se o foco é maior produtividade ou qualidade, ou um equilíbrio entre os dois. É um experimento que vai ajudar muito a cafeicultura de arábica da região”, celebra Leandro.
Cesar Krohling, um dos pesquisadores que liderou o estudo ao lado de Maurício Fornazier, destaca o impacto do projeto na produção. “O projeto prova os três eixos da sustentabilidade: o econômico, com mais produtividade e mais qualidade, gerando renda e bem-estar social para as famílias e fixando a juventude rural no campo; o ambiental, com a redução do uso de fungicidas; e o social, com lavouras de alta produtividade gerando mais renda para quem colhe o café, que passa a colher o dobro de sacas por dia e fica menos exposto a produtos químicos”, detalha César Krohling.
Para o secretário de Estado da Agricultura, Enio Bergoli, a pesquisa reforça a posição de destaque do Espírito Santo na produção cafeeira. Ele comparou o Estado com Minas Gerais, o maior produtor do país, que concentra 50% da produção nacional em apenas 20% das propriedades. “No Espírito Santo, 70% das propriedades capixabas produzem café. Portanto, é no nosso Estado que a cafeicultura tem papel de maior destaque na formação de emprego, renda e dinamismo econômico nos demais setores”, explicou Bergoli, ressaltando a importância da inovação para manter a competitividade dos produtores capixabas.
Produtividade sustentável
O governador do Espírito Santo, Renato Casagrande, enfatizou o potencial da pesquisa para impulsionar o setor. “Esse é um experimento que fizemos com produtores das regiões de arábica do Espírito Santo. Aumentar a produtividade com menor incidência de doenças é tudo o que desejamos. Já somos bons, queremos ser ainda melhores. Tenho certeza que esse investimento em tecnologia e inovação dará aos agricultores mais renda e ao Estado mais desenvolvimento”, afirmou.
O diretor técnico do Incaper, Antonio Elias, celebrou a união de esforços que possibilitou os resultados. “Vivenciamos hoje um marco histórico do que nós, como pesquisadores e extensionistas, apregoamos a vida inteira. A pesquisa junto com a extensão e ao lado do produtor faz com que tenhamos resultados como este. Quando essa trilogia participa, há garantia de que essa inovação já está no campo”, pontuou Elias.
O diretor-geral do Incaper, Alessandro Broedel, destacou a importância da parceria com os produtores no processo de validação. “Essa validação é fruto de um trabalho técnico rigoroso e realizado em parceria com produtores que abriram as portas de suas propriedades para a ciência. É um marco importante para a cafeicultura capixaba, pois entrega conhecimento aplicado, pronto para ser usado na melhoria da produtividade, da rentabilidade e da sustentabilidade nas lavouras de arábica”, concluiu Broedel.
Cartilha técnica disponível
O Incaper lançou uma cartilha com informações detalhadas sobre as cultivares indicadas, apontando o comportamento e desempenho delas em cada região. O material reúne dados sobre produtividade, qualidade da bebida, resistência a pragas e doenças, vigor vegetativo, rendimento de peneira, adaptabilidade e estabilidade de produção.
Exemplares impressos foram distribuídos durante o evento e a versão digital está disponível na Biblioteca Rui Tendinha, do Incaper. Acesse clicando aqui.