Aumentar o protagonismo feminino na produção de café, dar visibilidade e capacitar as produtoras nas diferentes etapas da cadeia produtiva. Foi com esses objetivos que, em 2023, a Associação de Produtores de Cafés Especiais do Caparaó (Apec), gestora da Denominação de Origem do Café do Caparaó (DO), localizada no entorno do Parque Nacional do Caparaó, criou o Projeto Digital de Mulher Caparaó.
A iniciativa surgiu quando os gestores da associação perceberam um aumento na participação das mulheres nas ações desenvolvidas pela Apec, bem como o crescimento no número de associadas. Cerca de 30 mulheres de 12 dos 16 municípios que abrangem a DO, tanto mineiros quanto capixabas, fazem parte do projeto, que este ano chega à sua terceira edição.
“Notamos muitas mulheres tomando a frente das lavouras, se envolvendo com a associação, e vimos a necessidade de desenvolver algo voltado para elas, de dar destaque ao trabalho que realizam na produção de cafés especiais. Criamos a associação, e um dos pilares foi ouvi-las para obter um panorama real de suas necessidades”, explica Gustavo Vilas Boas, que atua na administração da Apec.
Quanto ao nome, Vilas Boas esclarece que “vem de impressão digital, de deixar a marca das mulheres do Caparaó nos cafés produzidos pelas famílias”. Após ouvir as participantes, foram desenvolvidas capacitações baseadas nas necessidades comuns entre as cafeicultoras.

Entre as ações estão palestras, consultorias, assistência técnica na produção, rastreabilidade dos lotes de café por elas produzidos e a criação de um banco de dados de produtoras focadas na produção sustentável de café. Cecília Nakao, presidente da Apec, destaca a importância do cuidado com as mulheres para o fortalecimento da associação.
“A produção de cafés especiais muitas vezes é complementada pela dedicação das mulheres na fase pós-colheita, especialmente na secagem dos grãos. Trazer empoderamento e protagonismo a essas mulheres resulta, consequentemente, em maior engajamento na proteção da origem e no aumento do volume de cafés especiais. É uma forma de fortalecer a Denominação de Origem Caparaó”, afirma.
Entre as ações realizadas em 2024, o Projeto Digital de Mulher Caparaó financiou a participação de mulheres na Semana Internacional do Café (SIC), em Belo Horizonte. Para participarem do evento, que é uma vitrine de alcance nacional e internacional para cafés de alta qualidade, elas participaram de uma palestra que abordou desde dicas de vestuário até comportamentos em uma feira.
A cafeicultora Maria Cristina da Silva Horst (48), do Sítio Café do Príncipe, em São João do Príncipe, Iúna, que participou das duas edições do projeto, foi uma das mulheres que visitou a SIC. Dona da marca que leva o nome do sítio da família, Café do Príncipe, Cristina comenta sobre a experiência.
“Por meio do Projeto Digital de Mulher, recebi muitas informações importantes. Aprendi como comercializar meu produto, como contar minha história e como servir o café para as pessoas presentes na feira. Na SIC, pude vender meu café torrado, fazer contato com interessados em comprar o café verde e conhecer muitas pessoas. Foi uma experiência muito enriquecedora participar da feira e do projeto”, relata Cristina.
Outra participante é Paula Luiza Cotrim de Oliveira Gripe (43), de Alto Jequitibá, no Caparaó mineiro. Ligada à cafeicultura desde a infância e produtora de café há 25 anos, Paula lembra que, em 2018, sua família criou a marca Coffee Gripe. Desde então, passaram a fazer parte de várias associações, entre elas a Apec.
Em 2024, Paula decidiu participar do projeto. “Além de aprender sobre vendas, posicionamento e como identificar oportunidades, com as capacitações tive a chance de reformular e divulgar não só a nossa marca de café, mas também a região. O projeto trouxe visibilidade aos produtores, especialmente às mulheres”, destaca.
Sobre a participação na SIC, Paula afirma que “foi um marco para nós, mulheres e produtoras, mostrar o trabalho que realizamos em nossas propriedades. Ter essa visibilidade na feira foi muito proveitoso“.
A ação de encerramento do ano passado consistiu na produção de mil pacotes de cafés especiais, exclusivamente por mulheres, que foram entregues às agências do Banestes, patrocinadora do projeto em 2024.
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