Um projeto capitaneado pelo movimento Regnum Christi vem mudando a realidade de comunidades cristãs pelo Brasil por meio da reforma e construção de capelas dedicadas a celebrações religiosas. No projeto Superação, voluntários arrecadam recursos e erguem os novos templos em paróquias de comunidades carentes, levando conforto e instalações adequadas àqueles que muitas vezes contam com espaços improvisados para suas orações.
Desde que foi fundado, em 2010, o projeto construiu e reformou 43 capelas nos estados de São Paulo e Rio de Janeiro, além de Brasília. A 44ª capela foi erguida durante o último carnaval na cidade de Fazenda Rio Grande, na Região Metropolitana de Curitiba. Para os fiéis da Paróquia Nossa Senhora da Luz, o grupo de voluntários construiu, em apenas quatro dias, a Capela de Nossa Senhora da Caridade.
A iniciativa – a primeira no Sul do país – permitiu que os fiéis saíssem de uma área no porão de um supermercado, no bairro onde foram realizadas as celebrações nos últimos dois anos. Para tirar o projeto do papel em tão pouco tempo, 150 voluntários, metade ligada diretamente ao projeto Superação e metade formada por membros da comunidade local, trabalharam na construção da capela, que tem capacidade para receber 60 pessoas.
“Para nós, essa construção seria algo para daqui a uns 5, 6 anos”, disse o padre Leonardo Cruz, da Paróquia Nossa Senhora da Luz. “Mas Nossa Senhora da Caridade mostrou o quanto é forte”, completou, comemorando a conclusão das obras da nova capela.
Projeto de construção das capelas foi trazido do Chile
O projeto segue uma padronização, o que de acordo com Luis Felipe Comparim, coordenador local do Superação no Paraná, facilita o trabalho. “Como já foram mais de 40 capelas construídas, o pessoal meio que sabe o que precisa ser feito em cada etapa, e consegue compartilhar essas informações com os voluntários locais. Assim fica muito mais rápido e fácil”, explicou, em entrevista à Gazeta do Povo.
Comparim lembrou que, no início do projeto, há 15 anos, um grupo de integrantes do Regnum Christi, movimento de religiosos e leigos da Igreja Católica, esteve no Chile para acompanhar uma iniciativa semelhante. De lá trouxeram, além da ideia, a “lista de ingredientes” e a “receita” para a construção das capelas.
Porém, logo na primeira construção, em uma comunidade carente de Embu das Artes, em São Paulo, por pouco o sonho de uma nova capela não vira pesadelo. O projeto precisou ser readequado para o Brasil.
“Do lado do local onde a capela estava sengo erguida, um marceneiro começou a observar o trabalho. Ele percebeu que tinha algo de errado, e alertou: ‘se vocês seguirem desse jeito, essa capela vai cair’. Ele ajudou nessa adaptação e o trabalho deu tão certo que ele segue com a gente até hoje”, contou Comparim.
Marceneiro que ajudou no projeto teve a vida transformada pelas capelas
O marceneiro é Dimas Batista, para quem o projeto trouxe um novo significado para sua vida. Ele estava se recuperando de cirurgias cardíacas e com poucas perspectivas. “Eu estava saindo do alcoolismo, havia perdido tudo, minha marcenaria, minhas ferramentas, não conseguia nem mais bater um prego. Ainda assim eu vi que tinha algo errado ali, e pedi para ajudar. Agora, quase 15 anos depois daquele outubro de 2010, acho que acabou dando certo”, brincou.
No início, revelou o marceneiro, a participação como voluntário era quase que a contragosto. Convidado para acompanhar os trabalhos, “seu Dimas” – como é conhecido na comunidade – relutava em aceitar. E após cada construção, o sentimento era de dúvida e até mesmo de consternação.
“Eu saía me perguntando por que tinha aceitado e jurava para mim mesmo: ‘podem me chamar de novo, eu não vou voltar’. Só que na sétima capela eu ouvi um testemunho na cerimônia de entrega que mudou meu coração. Hoje eu me vejo como um privilegiado, entendi que esse é um propósito que Deus colocou na minha vida”, contou.
Hoje aposentado, o marceneiro segue acompanhando a equipe do projeto. Ele participou da construção da capela mais recente, no Paraná, com menos mão na massa e mais informação aos voluntários. Ainda assim, disse, enquanto tiver forças quer seguir fazendo parte da iniciativa.
“Deus me tirou do conforto que eu tinha, me levou para outra realidade e assim me fez sentir especial sem ser melhor do que os outros. Eu só peço que Ele aceite meu trabalho, porque eu não entendia esse propósito. Enquanto eu estiver respirando e conseguir bater um só prego que seja, quero continuar nesse trabalho”, disse.
Iniciativa conta com novos voluntários para a construção de mais capelas no PR
Para angariar recursos necessários para a compra do material, o grupo faz ações como vendas de rifas, salgadinhos e uma busca ativa por patrocínios junto a empresários da região. Tudo é feito de forma a não repassar custo à comunidade local.
“Só o que a gente pede é que o terreno esteja apto para receber a construção e que haja uma estrutura para receber o nosso pessoal, com hospedagem e alimentação. Então são formados grupos de voluntários dos alojamentos e da alimentação, e a gente consegue, assim, fazer o nosso trabalho”, comentou Luis Felipe Comparim, coordenador regional do projeto Superação.
À reportagem da Gazeta do Povoele confirmou que a iniciativa planeja construir capelas em comunidades carentes do Paraná. O cadastro de voluntários e interessados em patrocinar o projeto pode ser feito por meio do perfil oficial do Apostolado Superação RC Curitiba no Instagram. “Nós ainda não definimos o local, mas estamos abertos para receber novos voluntários e conhecer as histórias dessas comunidades”, completou o coordenador.