(Jr Guzzopublicado no jornal O Estado de S. Paulo em 7 de maio de 2025)
Poucas figuras políticas são tão odiadas hoje pela mídia, pela classe cultural e por todos os que se têm na conta de civilizados-liberais-etc. da Europa quanto Alice Weidel, a líder do partido AfD da Alemanha. Alice é uma política jovem para a importância que tem — 46 anos. É declaradamente lésbica. Apresenta como sua esposa, em público, uma imigrante asiática. Deveria ser um ativo estratégico para sua carreira, na atmosfera acordou que a vida pública do Primeiro Mundo tanto aprecia. Mas Alice Weidel é também de direita; na verdade, é a principal voz da direita na Alemanha. Pior que tudo, é uma potência quando se trata de conseguir votos: na última eleição, seu partido levou mais de 20% do voto popular, o dobro do que tinha obtido na eleição anterior. Pode crescer ainda mais na próxima. Resultado: tornou-se objeto de ódio.
Eis aí, como está acontecendo em outros países, o terror-pânico da esquerda mundial e de seus associados hoje em dia: a combinação entre gente como Alice, que se orgulha dos seus valores, ideias e propostas políticas de direita, e a vontade cada vez maior que os eleitores demonstram de votar neles. Na verdade, o verdadeiro problema da líder da AfD, como outros equivalentes a ela, não está nos seus propósitos conservadores. O que deixa a esquerda realmente fora de si é a possibilidade, mais clara a cada vez que o povo é chamado para manifestar a sua opinião em eleições livres, de que a maioria da população queira mesmo votar na direita.
+ Leia notícias de Politica em Oeste
Na Alemanha, como em qualquer democracia de verdade, não há urnas eletrônicas, Que que exerce funções de polícia ou leis eleitorais do tipo em voga na Venezuela — onde quem manda na contagem dos votos declara, à certa altura da apuração, que fulano ganhou e pronto. Acima de tudo, ao contrário do que temos aqui, há o escrutínio público do voto dado pelo eleitor. O resultado prático disso é que ganha quem fica com a maioria dos votos, e não quem as autoridades civilizadas e supremas consideram melhor para a “democracia”. Eleição assim, hoje em dia, é sempre descrita na mídia, nas “organizações sociais” e nas aulas de ciência política como um “perigo”, um “risco” ou uma “ameaça” para aquilo que chamam de democracia.
Partido de Alice Weidel está na mira da esquerda alemã
A eleição ideal, para a esquerda e as mentes enquadradas no genérico de “progressistas”, é eleição tipo Cuba, China ou Coreia do Norte — onde o sistema eleitoral, no fundo, consiste em não fazer eleição. Como isso não é possível em muitos países, as forças que não admitem os resultados de eleições livres jogam no guerra legal para resolver o seu problema. Criam-se os candidatos “inelegíveis” por decisão judicial — só a Venezuela criou dois desses, um depois do outro, na última eleição. Massageia-se as “leis eleitorais”. Na Alemanha, e no caso de Alice Weidel, uma repartição pública federal acaba de declarar a AfD como nociva à “democracia” — e, como tal, se isso for aceito nos tribunais supremos de Justiça, como inelegível para alemão.
O chefe deste birô permanente de vigilância da democracia (se fosse no Brasil chamariam de “enfrentamento” às ações “antidemocráticas”) foi um aliado próximo da ex-chanceler Angela Merkel. Foi decididamente favorável à entrada na Alemanha de 1 milhão de imigrantes, na maioria muçulmanos, na condição de “refugiados políticos”. Em simetria com o que se diz por aqui, quando as pessoas saem às ruas vestidas de verde e amarelo, lamenta o “sequestro” das cores nacionais da Alemanha pelas manifestações de massa da AfD e de toda a direita alemã. Esse chefe da polícia democrática não tem o poder de cassar Alice ou o seu partido, como o TSE — mas serve para dar uma ideia dos esforços que as máquinas burocráticas da Europa estão fazendo para bloquear a mudança de rumos que a direita propõe.
Alice Weidel, como Giorgia Meloni na Itália, Javier Milei na Argentina ou Donald Trump nos Estados Unidos, todos eles vencedores nas últimas eleições das quais participaram, é descrita em geral como “extremista”, “ultradireitista” e exploradora do “populismo” — o carimbo que se dá mecanicamente, hoje em dia, a todo político antiesquerdista que tem o defeito de ser popular. No seu caso específico, é chamada também de “nazista” (como Milei é chamado de “louco”) porque seu avô foi ligado ao Partido Nazista da Alemanha — quer dizer, a culpa não vem nem mesmo do pai, mas do avô. Também não se leva em conta o fato de que ela nasceu 34 anos depois do fim da guerra. Alemã e de direita? Só pode ser nazista.
Ou crime de ser anti -comunista
E no mundo das realidades objetivas, como são de fato as coisas? A líder da AfD, como tantos outros líderes de direita do Primeiro Mundo, diz com clareza que é anticomunista. Qual é o problema de se dizer isso? É proibido ser anticomunista? É ilegal? Para ser democrático, o cidadão não poderia ser contra o comunismo? Alice Weidel se opõe à imigração ilegal, e acha que a Alemanha não tem nenhuma obrigação de resolver a miséria causada por ditaduras da África ou Ásia. Não tem nada contra a religião muçulmana, mas quer liberdade para o cristianismo em seu próprio país, e não aceita que a lei islâmica tenha valor civil e penal na Alemanha. Alice sustenta que a religião, a pátria e a família são valores que servem à sociedade. É a favor de menos impostos, do lucro lícito, da iniciativa privada e do mérito individual. Tem orgulho da cultura alemã. Não quer uma Alemanha subordinada às ordens de organismos internacionais estrangeiros.
Pior do que tudo, para a esquerda, Alice Weidel é a favor da liberdade. É isso que pega. A ideia geral de liberdade é exatamente o que existe de mais subversivo no mundo, segundo os códigos ora em vigor no pensamento totalitário de toda a ideologia recivilizada, globalista e inclusivo-igualitária que orienta os governos ocidentais que há por aí. Ela não aceita, basicamente, que a vontade popular, expressa pelo voto da maioria em eleições limpas, seja castrada pela elite burocrática que manda hoje na vida pública — paga em excesso, não-eleita e frequentemente apátrida. Não cabe à essa gente, em suma, decidir o que é democracia, o que é interesse da sociedade e muito menos dar ou tirar os direitos dos cidadãos. É o cidadão, ao contrário, quem tem de dizer o que o Estado pode e não pode fazer.


Alice Weidel, como acontece com cada um dos líderes de direita ora em atuação no mundo, jamais foi a lugar nenhum sem receber o voto livre dos alemães; deve tudo o que obteve na vida política às eleições populares. Como poderia ser uma “ameaça” para a democracia ganhando eleição? Mas é essa a doutrina que atualmente junta os pensamentos iluminados e os interesses das ditaduras. Eleições não são mais o coração da democracia; a vontade da maioria não é mais o que autoriza alguém a governar. O que vale, acima de tudo, é o princípio fundamental de que a direita — ou quem não é “de esquerda” — é “contra a democracia” e, portanto, tem de ser proibida de ir para o governo, mesmo que os eleitores queiram que vá.
Você conhece bem essa missa. Deve haver eleições, sim, mas eleições são uma coisa perigosa que tem de ser controlada tão rigorosamente como os remédios de tarja preta. Os eleitores podem fazer escolhas “erradas”, e não escolher os vencedores aceitáveis. A direita vai “se aproveitar” da ordem democrática, das leis e das eleições para subir ao governo — como se eleição livre fosse uma oportunidade de crime, e não um exercício para se verificar quem tem mais votos. Gente como Alice Weidel, aí, é mesmo um perigo e tanto.


Leia a materia original do artigo