Desde a transição para o atual governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), a primeira-dama Rosângela Lula da Silva, a Janja, tem sido intuito de críticas por excessos de exposição, quebras de protocolo em cerimônias oficiais, atuações não previstas para seu papel institucional e, ainda, despesas públicas controversas.
Inicialmente visto uma vez que gerador de fatos constrangedores brotados pelo libido de protagonismo, o comportamento de Janja galgou relevância no sábado (16) posteriormente ela insultar o bilionário Elon Musk, possuidor da plataforma X (idoso Twitter) e porvir integrante da novidade gestão do presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump.
Durante pintura do G20 Social, evento paralelo ao encontro de cúpula no Rio de Janeiro, Janja defendeu a regulação das redes sociais para moderar a desinformação. Ao ser interrompida por uma buzina de navio, brincou: “Acho que é o Elon Musk”, e acrescentou: “Eu não tenho medo de você, inclusive… Fuck you, Elon Musk!”
O xingamento gerou repercussão imediata, com Musk respondendo na plataforma X com emojis de risada e afirmando: “Vão perder as próximas eleições”. Ele ainda levou parlamentares da oposição a questionarem oficialmente governo e órgãos de controle sobre impactos diplomáticos e financeiros de eventos liderados por Janja.
Em seguida pedido da oposição, TCU vai investigar gastos com o Janjapalooza
Confira:
- 1 Em seguida pedido da oposição, TCU vai investigar gastos com o Janjapalooza
- 2 Regulação das redes e taxação de super-ricos fazem de Musk intuito do par Lula
- 3 Perito alerta para urgência de Janja não confundir seu papel no governo
- 4 Janja não pede desculpas a Musk e ainda serpente gabinete e agenda no Planalto
- 5 Perito aposta em candidatura de Janja a deputada federalista em 2026
Deputados pediram ao Tribunal de Contas da União (TCU) e à Procuradoria-Universal da República (PGR) investigações sobre gastos públicos relacionados ao “Festival de Cultura Aliança Global contra Fome e a Pobreza”, chamado de Janjapalooza. Antes disso, viagens internacionais de Janja foram intuito de questionamentos.
O TCU abriu investigação, a pedido dos deputados Sanderson (PL-RS) e Gustavo Gayer (PL-GO), para apurar a legitimidade dos gastos com o Janjapalooza, ao dispêndio de R$ 33 milhões. Os parlamentares alegam verosímil violação de princípios uma vez que legitimidade, eficiência e moralidade, criticando despesas com cachês artísticos em meio à crise fiscal. Segundo Sanderson, “não é admissível usar recursos públicos de forma questionável, sobretudo em momento que exige austeridade”.
O deputado Marcel Van Hattem (Novo-RS) solicitou a convocação do chanceler Mauro Vieira para explicar possíveis impactos diplomáticos da fala de Janja contra Musk. O parlamentar destacou que declarações do governo brasiliano, mesmo pessoais, podem prejudicar cooperações estratégicas.
Aliás, moções de repúdio contra a fala de Janja foram protocoladas pelos deputados Evair Vieira de Melo (PP-ES) e Zé Trovão (PL-SC). O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) qualificaram o incidente uma vez que “mais um incidente diplomático” do governo Lula.
Regulação das redes e taxação de super-ricos fazem de Musk intuito do par Lula
Elon Musk representa um opositor direto a temas centrais para Lula e Janja, uma vez que a regulamentação das plataformas digitais e a taxação dos super-ricos, áreas nas quais o bilionário é uma figura de destaque. Sua proximidade com políticos conservadores e os embates com o Judiciário brasiliano intensificam a tensão com o par presidencial.
Em agosto, a plataforma X foi suspensa no Brasil por mandamento do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federalista (STF), em razão do descumprimento de medidas judiciais. Durante um evento paralelo ao G20, Janja se referiu a Moraes uma vez que um “grande parceiro” no enfrentamento de opositores nas redes sociais.
Perito alerta para urgência de Janja não confundir seu papel no governo
Marcus Deois, diretor da consultoria política Moral, avalia que Janja percebeu logo o excesso cometido ao tutorar regulação das redes sociais com ataque público a Musk. “Ao insistir na narrativa, perdeu de vista o papel simbólico que exerce como esposa do presidente da República, tratando o evento internacional como conversa informal entre amigos. Não se pode nem misturar as estações”, disse.
Deois observa que, por não ter procuração popular nem exercitar funções oficiais no governo, o protagonismo assumido por Janja provoca desconforto em aliados de Lula e até ciúmes em líderes próximos ao presidente.
“A primeira-dama tem ocupado espaços estratégicos em debates culturais e em pautas caras à esquerda, mas precisa ajustar o discurso para construir pontes em vez de gerar conflitos. O episódio com Musk invadiu um campo que só a diplomacia pode manejar”, anotou.
Segundo informações de bastidores, o que mais irritou o entorno de Lula com as falas infelizes de Janja durante o G20 não foi tanto a repercussão da ofensa na política externa. Apesar de o insulto ser visto uma vez que potencial problema diplomático, diplomatas acreditam que o impacto nas relações entre os dois países é contornável. A verdadeira frustração foi o veste de que as declarações da primeira-dama ofuscaram o ato final do G20 Social, planejado para primar o legado da presidência brasileira do fórum com foco no combate à inópia e à desigualdade.
O desconforto interno foi tão grande que Lula, pela primeira vez, corrigiu Janja publicamente, afirmando: “Não temos que xingar ninguém.” Embora sempre tenha defendido o papel ativo da primeira-dama uma vez que conselheira, ele precisou agir.
Em poucos minutos, ela insultou Musk sem justificativa, chamou de “bestão” o varão que se suicidou em frente ao STF na semana passada e, em outro pintura, respondeu de forma áspera a uma mulher da plateia que mencionou o “Janjapalooza”, corrigindo-a: “Não, filha, é aliança global contra a fome e a pobreza. Vamos ver se consegue entender a mensagem, tá?”.
Janja não pede desculpas a Musk e ainda serpente gabinete e agenda no Planalto
Apesar da última controvérsia, envolvendo Musk, Janja não fez qualquer pedido de desculpas ou reparo, segue a mesma postura e até renovou, em entrevista à CNN Brasil, sua demanda por maior estrutura dentro do governo para desempenhar funções, incluindo geração de gabinete próprio e uma agenda institucional.
Os eventos públicos, com ou sem Lula, e reformas no terceiro caminhar do Palácio do Planalto para acomodá-la melhor, foram insuficientes.
Em julho, deputados do Novo solicitaram esclarecimentos sobre gastos de Janja e sua comitiva durante participação na início dos Jogos Olímpicos de Paris, na qual representou Lula. A primeira-dama é citada em obras e compras luxuosas para a sede e a residência da Presidência e até na decisão por um novo avião presidencial.
“Depois de ofuscar o G20 com extravagância de um festival e deselegância em suas falas, Janja estimula o governo a gastar mais de R$ 1,4 bilhão em um novo Aerolula. Quer mesmo combater a fome?”, questiona o senador Eduardo Girão (Novo-CE).
Perito aposta em candidatura de Janja a deputada federalista em 2026
Antônio Flávio Testa, professor de ciência política, avalia que as últimas polêmicas envolvendo Janja ainda refletem “seu deslumbramento com o status de primeira-dama, embora ela não se comporte como tal”. Ele destaca as postagens dela em redes sociais em tom informal e tentativa de lucrar visibilidade em fotos oficiais e em visitas a áreas afetadas por calamidades, uma vez que no Rio Grande do Sul.
“Ao insultar Musk, Janja só reforçou uma imagem que até a mídia favorável ao governo tende a desprezar. Com essa atitude, a primeira-dama se consagra como personagem menor em comparação às mulheres de outros líderes mundiais. A baixa repercussão do Janjapalooza também sepulta suas ambições de se projetar internacionalmente. Em 2026, ela deve sair candidata a deputada federal pelo PT”, prevê.
Para Testa, o G20 foi ofuscado por questões internas, uma vez que o ataque de criminosos ao Tropa, o roubo de um coche solene e a falta de respaldo unânime ao exposição de combate à inópia. Ele também considera a visitante do presidente americano Joe Biden à Amazônia mal explicada em termos de intenções estratégicas.
Sobre as relações com Trump, Testa acredita que serão tensas, não só pelo incidente de Janja sobre Musk, mas pelo tratamento do Judiciário brasiliano aos seus críticos. “Se Trump e seu futuro secretário de Estado, Marco Rubio, cumprirem suas promessas, as relações bilaterais devem ser profundamente revisadas”, conclui.