Levei até um susto ao ver que meu texto de segunda (11), intitulado “Ecos da vitória de Trump: sobre o amor desmedido e pervertido pela política”, foi um retumbante fracasso de audiência e repercussão. Mas tudo muito. Esfera pra frente até ela transpor pela risca de fundo, pensei. Os dias se sucederam. Até que na noite de quarta (13), um varão jogou uma explosivo (ou duas bombas, ou fogos de artifício, sei lá) em frente ao STF. Viu? Não disse?, pensei cumeeira e só a Catota, que deve ter poderes telepáticos, ouviu
Isso & aquilo
Confira:
Não que eu estivesse feliz com o ato tresloucado de Francisco Wanderley Luiz. Muito menos com a minha suposta razão ao expressar que tem muita gente usando a política para preencher um vácuo em sua vida. Pelo contrário! Tanto isso quanto aquilo são lamentáveis. Primeiro porque o STF vai usar o gesto excitado de um infeliz para aumentar a repressão. Por fim, os ministros consideram todo mundo de direita (o que quer que signifique isso), inclusive você, uma ameaço em potencial.
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Desconsolo
E depois porque estar com a razão pode até me envaidecer por uns cinco minutos. Mas logo dá lugar ao que, na falta de termo melhor, vou invocar aqui de desconsolo. Por fim, basta sugerir ao leitor que ele cultive uma vida interno rica em humanitarismo ou que ele ignore a política por uns instantes, e simplesmente agradeça pelo ar que enche seus pulmões, para ser xingado. Ou pior: ignorado.
Incerteza sem resposta
Insisto, porém, no erro. E por isso nesta missiva reforço o recomendação. Não, não é um recomendação. Quem sou eu para dar conselhos? Está mais para uma proposta de reflexão. Uma incerteza sem resposta: no seu coração, a política está ocupando o lugar do quê? E cá eu muito poderia expandir essa reflexão e propor um sonoro porquê. Mas vou deixar quieto. Não sei nem se eu estou pronto para essa conversa.
Ignore
De qualquer modo, vou fechar esta missiva mais curta do que o normal (sempre digo isso e nunca é) para pedir que você ignore por um momento as possíveis consequências políticas do que já está sendo chamado de “atentado terrorista motivado por discurso de ódio”. Por obséquio, ignore. E, já que está ignorando isso, ignore também os oportunistas e até mesmo os analistas sérios e bem-intencionados.
Um Chico
E pense no drama que Francisco, um Chico uma vez que tantos outros, vivia. No que ele sofreu por deixar a política tomar conta de sua vida. Por se ver uma vez que vítima e por crer numa versão diabolicamente mundana da Salvação. Pense no orgulho que leva uma pessoa a descobrir que sua morte fará com que os ventos ideológicos soprem na direção “certa”. Um orgulho que, não por possibilidade, muito se assemelha ao daqueles que acham que suas canetadas “recivilizarão” o Brasil.
Coringa
Pense mais, pense fundo, pense na pessoa. No quidam. Imagine a dor que ele sentia ao furar as redes sociais e, cego para as coisas boas da vida, se ver impotente diante de tanta malícia. Use todas as suas referências, inclusive a do Coringa do filme, para se pôr no lugar desse outro e tentar, só tentar, compreender o que leva alguém a desaceitar da vida para entrar para a história. Ou melhor, para um rodapezinho da história.
Jacente
E, se provável, note a regular invisível nesse e em todos os outros casos de violência política, uma vez que o do varão que sequestrou um avião para jogá-lo sobre Sarney; ou do sujeito que se imolou na mesma Terreiro dos Três Poderes em protesto contra Dilma; ou ainda do petecídio em Foz do Iguaçu; ou da facada em Bolsonaro; ou do caso recente de um varão que matou a família e se matou, supostamente por razão da vitória de Trump. Estou falando dele: o pânico.
Não tenha pânico!
Não por possibilidade, a exortação “não tenha medo, pô” aparece centenas de vezes na Bíblia (sem o “pô”, evidente) tanto no Velho quanto no Novo Testamento. Mas a gente insiste em não ouvir. Em não encarregar. E se desespera e, quando vê, está jogando a vida fora. E por causo di quê? Por pânico de umas figuras patéticas e transitórias, de quem poder mastodôntico e insaciável se alimenta justamente do nosso… pânico. Veja só.
Aquele amplexo do
Paulo
[Esta coluna é uma reprodução da carta que chega à caixa postal dos assinantes toda sexta-feira. Se você ainda não se inscreveu, lá em cima, logo depois do primeiro parágrafo, tem um campo para isso].
