O início dos trabalhos legislativos mostrou a consolidação da influência dos partidos de centro e centro-direita, que passaram a liderar 17 das 27 Casas Legislativas estaduais e do Distrito Federal. As siglas MDB e União Brasil ganharam destaque ao conquistar a presidência de cinco assembleias cada uma. O levantamento realizado pelo cientista político Murilo Medeiros, da Universidade de Brasília (UnB), foi divulgado pelo jornal O Estado de S. Paulo.
O MDB assumiu o comando das assembleias nos Estados onde governa – Pará, Distrito Federal e Alagoas – e também em Minas Gerais e Piauí. O União Brasil, por sua vez, obteve a presidência nas Assembleias de Goiás e do Amazonas, onde possui governadores, além de Rio de JaneiroAmapá e Espírito Santo, onde não governa. Em contraste, os partidos de esquerda e centro-esquerda, como PT, PSB e PDT, comandam apenas quatro Assembleias.
Partidos conservadores ganham força regionalmente
Confira:
Murilo Medeiros avalia que uma nova estrutura de poder se forma no país. Os partidos conservadores ganham força regionalmente, enquanto a esquerda enfrenta menor representatividade e se limita a 15% das presidências legislativas estaduais.
“Os partidos de centro e centro-direita, com menos radicalidade ideológica e mais moderação, devem predominar nas disputas dos Parlamentos estaduais e da Câmara dos Deputados no próximo pleito eleitoral”, disse o pesquisador. “Algo já percebido pelas forças vitoriosas na eleição municipal.”
Na maioria dos Estados, os presidentes das Assembleias Legislativas mantêm proximidade política com os governadores, o que favorece a harmonia entre os Poderes. Em muitas Assembleias, a eleição transcorreu sem grandes embates. O levantamento de Medeiros indica que 70% das Casas Legislativas elegeram seus presidentes por unanimidade, sem concorrência.
O Maranhão representou uma exceção ao registrar empate entre Iracema Vale (PSB) e Othelino Neto (Solidariedade), ambos com 21 votos. A decisão ocorreu pelo critério de idade, e Iracema, com 57 anos, foi reconduzida ao cargo. Seu mandato se estenderá até janeiro de 2027.
Deputado do RJ uniu partidos como PT e PL
Em outros Estados, a eleição transcorreu de maneira tranquila. No Rio de Janeiro, Rodrigo Bacellar (União) garantiu a reeleição com apoio unânime dos 70 deputados, e uniu partidos como PT e PL. Em Minas Gerais, Tadeu Martins Leite (MDB) também foi reconduzido ao cargo sem concorrência.
Minas Gerais integra o grupo reduzido de Estados onde a presidência da Assembleia Legislativa está fora da base governista. Pernambuco, Rio Grande do Sul, Roraima e Rio Grande do Norte também fazem parte desse grupo. Essa configuração exige um esforço maior do Executivo estadual para articulação política.
Zema sofre por não ter aliado na presidência da ALMG
O governador Romeu Zema (Novo) enfrenta desafios por não contar com um aliado na presidência da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG). No segundo mandato, tentou emplacar um nome próximo, mas acabou apoiando Tadeuzinho, como é conhecido o atual presidente da Casa.
Tadeuzinho adota uma postura independente e impacta diretamente os projetos do governo estadual. Medidas como a adesão ao Regime de Recuperação Fiscal e o aumento salarial de governadores e secretários foram aprovadas. No entanto, privatizações de estatais e a criação de um teto de gastos estaduais nem sequer chegaram ao plenário. Sem apoio suficiente, Zema optou por um decreto para limitar o crescimento de despesas à inflação, medida que gerou atritos com o Judiciário mineiro.
Recentemente, Tadeuzinho desagradou Zema ao nomear aliados para as principais comissões da Assembleia, e preteriu nomes mais alinhados ao governo. Em resposta, o governador substituiu o secretário de Governo, responsável pela articulação política. Marcelo Aro (PP), ex-deputado federal, assumiu o cargo, e se tornou o terceiro ocupante da função em pouco mais de dois anos.
Em Pernambuco, o cenário também apresenta desafios. Embora a governadora Raquel Lyra e o presidente da Alepe, Álvaro Porto, pertençam ao PSDB, o relacionamento entre eles permanece tenso. Esse desentendimento ficou evidente no ano passado.
Durante a reabertura dos trabalhos legislativos em 2024, Raquel discursou para os deputados. Ao deixar o plenário, Porto, sem perceber que o microfone estava ligado, fez um comentário depreciativo sobre sua fala. Posteriormente, em entrevista à Rádio Transamérica, a governadora classificou o episódio como um caso de violência política de gênero.
Governadora do Pernambuco cogita mudar de legenda partidária
Diante do conflito, Raquel cogita deixar o PSDB e mantém conversas com outras legendas, como o PSD. Contudo, uma eventual mudança de partido pode intensificar sua disputa com Porto e criar novos desafios para sua gestão.
No cenário geral, MDB e União Brasil lideram as presidências das Assembleias Legislativas, com cinco cada um. Republicanos e PSD seguem, com quatro, enquanto PL e PT, protagonistas da disputa presidencial mais recente, possuem apenas uma presidência estadual cada um.
No Rio Grande do Sul, o PT assumiu a presidência da Assembleia Legislativa dentro de um acordo com PP, MDB e Republicanos para um rodízio no comando da Casa. O partido de Lula, que possui a maior bancada estadual, faz oposição ao governador Eduardo Leite (PSDB).
O PL, por outro lado, deve assumir a presidência da Assembleia Legislativa de São Paulo, maior Parlamento estadual do país, e consolida sua presença na política regional.