O Partido dos Trabalhadores (PT) parece passar por uma pequena crise interna depois do resultado que consolidou sua derrota nas eleições municipais. O desentendimento se iniciou nesta segunda-feira, 28, depois de o ministro Alexandre Padilha ter dito que a sigla ficou na “zona de rebaixamento”.
Padilha declarou que o PT elegeu “cidades importantes” no segundo turno, mas precisava de um “esforço de recuperação”. “O PT é o campeão nacional das eleições presidenciais, mas, na minha avaliação, não saiu ainda do Z4 que entrou em 2016 nas eleições municipais”, acrescentou.
A fala do ministro de Lula gerou reações internas. O deputado federal Jilmar Tatto (SP), secretário nacional de comunicação do PT, criticou o posicionamento durante reunião da executiva do partido: “Parece que tem ministro jogando futebol de várzea, sem articulação nenhuma. É um barata-voa.”
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Ainda na reunião, a presidente da sigla, Gleisi Hoffmann, afirmou que a declaração do ministro tinha sido “desrespeitosa”. “Inclusive eu convidei Padilha para vir aqui, mas ele disse que não podia”, relatou.
Mais tarde, Gleisi criticou Padilha publicamente. Afirmou que era preciso “refrescar a memória” do ministro. “Pagamos o preço, como partido, de estar num governo de ampla coalizão. E estamos numa ofensiva da extrema direita”, escreveu no Twitter/X.
“Ofender o partido, fazendo graça, e diminuir nosso esforço nacional não contribui para alterar essa correlação de forças”, continuou. “Padilha devia focar nas articulações políticas do governo, de sua responsabilidade, que ajudaram a chegar a esses resultados. Mais respeito com o partido que lutou por Lula Livre e Lula Presidente, quando poucos acreditavam.”
Gleisi defende apoio do PT em Boulos
Em coletiva de imprensa na noite desta segunda-feira, 28, Gleisi Hoffmann também criticou diretamente as falas de Jilmar Tatto e do deputado federal Washington Quaquá, prefeito eleito de Maricá (RJ). Eles definiram como um “erro” o apoio do PT à candidatura de Guilherme Boulos (Psol) para a Prefeitura de São Paulo.
“Eu discordo completamente, assim como a maioria”, afirmou. “O Boulos foi o candidato que nós apoiamos nas eleições de 2020 que foi para o segundo turno e teve 40% dos votos. Depois, foi o deputado que teve mais de 1 milhão dos votos.”
A presidente do partido esclareceu que o psolista cumpria um “quadro” do que era esperado para São Paulo. Destacou que o deputado federal tinha “competitividade”.
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“Eu me pergunto: ‘Quem do PT iria disputar ou que outra candidatura iria ser construída?’”, indagou. “Tinha de ser Boulos, sim, foi o melhor candidato que nós tivemos. Teve um desempenho impressionante nas eleições, com coragem, ousadia e em nenhum momento deixou de ir para o combate.”
Gleisi Hoffmann ainda disse que não poderia ser “esquecido” que, “nos piores momentos”, Boulos se fez presente. Citou como exemplos a prisão de Lula e o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff.
“Ele poderia, muito bem, ao ser líder de um partido de esquerda, fazer uma disputa política conosco em um momento em que estávamos enfraquecidos. Esse tipo de coisa não pode ser esquecida na política”, acrescentou.
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