Dois hambúrgueres, alface, queijo, molho privativo e metas de inconstância. Esta foi a política interna do McDonald’s desde que a empresa implantou uma série de iniciativas woke para limpar sua imagem, depois suportar processos de assédio sexual e discriminação.
A guinada politicamente correta do ícone supremo do fast food começou em 2021, quando o CEO Chris Kempczinski anunciou uma ampla agenda de DEI (inconstância, isenção e inclusão). A ideia era mostrar ao mundo o “progresso real e mensurável” da companhia, logo partida devido aos problemas judiciais (muitos deles ainda não resolvidos).
“Como uma marca líder mundial que considera a inclusão um dos nossos principais valores, não aceitaremos nada menos do que um esforço para liderar com empatia, tratar as pessoas com dignidade e respeito e buscar pontos de vista diversos para impulsionar uma melhor tomada de decisão”, disse Kempczinski na ocasião.
Mas os ventos mudaram, e a novidade tendência do envolvente corporativo americano é a revisão (ou eliminação totalidade) dos programas de cunho identitário. Uma movimentação iniciada em meados do ano pretérito, quando o termômetro político passou a indicar que uma viradela conservadora tomaria conta do país.
O McDonald’s, é evidente, percebeu que sairia perdendo se ficasse do lado falso da guerra cultural. E na última segunda-feira (6) avisou seus funcionários e a prelo que também vai fechar boa segmento de suas atividades woke.
As medidas incluem o termo de “metas de diversidade” na contratação de funcionários e fornecedores (na prática, uma espécie de sistema de cotas) e a saída do ranking de pontuação da Human Rigths Campaign (Campanha de Direitos Humanos, organização que avalia o compromisso das empresas com as causas de grupos minoritários).
O enviado, porém, afirma que a empresa seguirá “incorporando práticas de inclusão em suas operações” e reformulará sua equipe de inconstância — agora rebatizada de “equipe de inclusão global”.
“Não somos mais uma anomalia”, diz ativista conservador adiante de boicotes
A informação foi divulgada somente três dias depois de Robbie Starbuck, ativista de direita espargido por promover boicotes contra marcas que adotam políticas de DEI, expressar em suas redes que pretendia iniciar uma campanha contra a rede de lanchonetes.
Em paralelo, ele entrou em contato com o diretor sênior de marketing da companhia, Guillaume Huin, para perguntar se a cúpula estava considerando alguma mudança no sentido de “adotar a neutralidade corporativa” (uma de suas principais bandeiras).
Obviamente, a decisão do McDonald’s não foi tomada assim tão rápido. Mas Starbuck não hesitou em incluir a empresa em sua lista de conquistas — que já conta com Walmart, Tractor Supply, John Deere, Harley Davidson, Polaris, Indian Motorcycle, Lowe’s, Ford, Coors, Stanley Black & Decker, Jack Daniels, DeWalt, Craftsman, Caterpillar, Boeing, Toyota e Nissan.
“Estamos mudando a política de empresas que valem mais de US$ 2,3 trilhões, e o resultado são milhões de funcionários que agora têm melhores ambientes de trabalho”, afirmou o influenciador, em um post rememorativo no X. “A era woke está morrendo diante dos nossos olhos. Somos a tendência, não mais a anomalia”.
Starbuck, no entanto, criticou a geração da novidade “equipe de inclusão global” da marca.
“Isso é ridículo, não precisamos desse tipo de departamento. É um emprego, um local de trabalho. As pessoas não precisam de um departamento para fazê-las se sentirem incluídas. Somos adultos, não estamos num jardim da infância.”
Ainda assim, ele considerou o recuo do McDonald’s a primeira grande vitória conservadora de 2025 — e a maior de toda a sua cruzada até aqui.
Suprema Namoro e eleição de Trump também contribuíram para o novo cenário
Com 745 milénio seguidores somente no X, Robbie Starbuck é mesmo uma força nesse novo cenário positivo para a direita americana.
Além das empresas citadas supra, várias outras reavaliaram suas políticas “inclusivas” sem fazer grande orgulho, receosas de que a vaga de boicotes estimulada por ele chegasse até os escritórios de seus executivos.
Porém, outros fatores devem ser levados em consideração. Começando pela decisão histórica da Suprema Namoro dos EUA, inclusive citada na notícia do McDonald’s, que invalidou ações afirmativas no processo de recepção das universidades do país, em 2023.
Em outra frente, o presidente eleito Donald Trump (um crítico ferrenho dessas iniciativas) formou um time constituído por colaboradores com ideias muito claras sobre o matéria.
Entre elas o bilionário Elon Musk (inimigo proferido do identitarismo), o vice-chefe de gabinete Stephen Miller (fundador da organização conservadora America First Lícito) e o próprio vice-presidente JD Vance (que já articulava no Congresso projetos para extinguir programas de DEI dentro do governo federalista).
Ainda é cedo para expressar se a cultura woke está realmente morrendo, conforme proclama Robbie Starbuck. Ou se será eliminada, uma vez que prometeu Trump durante a campanha eleitoral.
Mas não deixa de ser um ânimo saber que o McDonald’s, oriente símbolo do bom e velho capitalismo, está voltando a se preocupar em nutrir as pessoas — e não ideologias que só aprofundam as divisões sociais.