O presidente Lula enfrenta o pior momento de seu terceiro mandato e precisa ouvir mais os partidos aliados. É essa a avaliação de Antonio Rueda, presidente do União Brasilpartido que ocupa dois ministérios no governo.
A crítica surge no contexto de uma reforma ministerial, em que diversos partidos buscam mais espaço, mas até agora Lula só contemplou o PT. Rueda também criticou a escolha de Hoffmannpresidente do PT, para a pasta focada na articulação política, e a possível nomeação do deputado Guilherme Boulos (Psol-SP) para a Secretaria-Geral da Presidência.

Para Rueda, essas ações indicam um distanciamento do governo em relação aos aliados. Ele destaca a baixa popularidade de Lula e diz acreditar que o presidente deveria ampliar o diálogo, mas não parece disposto a ouvir mais.
“O governo não está bem”, diz Rueda. “Não sou eu que estou dizendo, são as pesquisas.”
O presidente do União Brasil diz ainda que Lula “está passando pelo pior momento e não parece estar ouvindo”. Ele citou como exemplo a rejeição ao nome do líder do MDB, Isnaldo Bulhões (AL), para a Secretaria de Relações Institucionais, mesmo com o apoio dos dirigentes do centrão.
Rueda argumenta que a possível nomeação de Boulos para a Secretaria-Geral seria um sinal “de que só querem falar entre eles”, mesmo que a função da pasta seja voltada para o relacionamento com movimentos sociais. “O presidente da República tem que ser ‘assessorável’, tem que ouvir as melhores pessoas.”


Apesar das críticas, Rueda descarta a possibilidade de o União Brasil deixar o governo de imediato, como sugeriu recentemente o presidente do PP, Ciro Nogueira, em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo. “Queremos que o governo dê certo”, afirmou o dirigente do União. “Mas, se o governo não melhorar, ninguém vai querer ficar.”
Aliados de Lula cobram fidelidade do União Brasil no Congresso
As declarações de Rueda acontecem enquanto alguns aliados do governo cobram maior fidelidade do União Brasil nas votações no Congresso, sob a ameaça de perder espaço na reforma ministerial. Também vêm no contexto das negociações para uma possível fusão com o PP, partido alinhado ao ex-presidente Jair Bolsonaro.
O União Brasil ocupa dois ministérios, cujos titulares buscam garantir a permanência na base governista. Além deles, o ministro da Integração Regional, Waldez Góes, foi indicado por Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), hoje presidente do Senado, com o apoio do PT.


Na última quarta-feira, 5, Rueda posou para fotos ao lado de Bolsonaro em Angra dos Reis, a convite do presidente da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), Rodrigo Bacellar (União Brasil), que é pré-candidato ao Governo do Rio. Estava em debate uma aliança para a disputa ao Palácio Guanabara no ano que vem.
Rueda descreveu o encontro como um exercício da democracia. “Tenho que ouvir as forças relevantes”, disse. “E Bolsonaro é relevante”
Centrão está de olho nas próximas eleições
Além das negociações para a reforma ministerial, onde o centrão continua a aumentar suas exigências e o governo tem se mostrado em queda nas pesquisas, há também discussões voltadas para as eleições de 2026.
As críticas de Rueda e Ciro Nogueira refletem a insatisfação nos bastidores do centrão. Quando Gleisi foi indicada para a articulação política em vez de Bulhões, a reação foi de que Lula estava apostando tudo no PT e deixando os aliados em segundo plano.
Para aliados mais governistas, essa movimentação de Lula mostra que os partidos do centro buscam ampliar seu espaço no governo, especialmente porque apoiar um governo com baixa popularidade torna-se mais oneroso eleitoralmente.
No Congresso, há a percepção de que Lula está perdendo o tempo para fazer uma reforma ministerial que abra espaço para o centrão e garanta maior governabilidade. A expectativa é que essa troca ministerial ocorra nas próximas semanas.
Neste ano, o foco do Parlamento foi resolver a questão das emendas parlamentares, especialmente depois de uma recente decisão do ministro Flávio Dino, do STF.