O mote da campanha desenhada pela Secretaria de Notícia (Secom), que passou a ser comandada neste mês pelo marqueteiro Sidônio Palmeira, é de que “não haverá mudança nos Pix”. A estratégia do governo visa justamente tentar volver a imagem junto à população de que a portaria do Fisco resultaria em taxação das transações bancárias.
Todavia, esse não era o ponto principal das críticas da população que acabaram derrubando a medida. Não se acreditou que haveria uma taxação direta da instrumento Pix, mas a medida gerou o temor de que o governo quer aumentar a cobrança de impostos já existentes por meio de uma maior fiscalização não só do Pix, mas de todas as outras transações financeiras. Ou seja, a novidade campanha tende a continuar focando no ponto falso e pode dar mais argumentos para a oposição.
O orçamento reservado para a ação publicitária será de R$ 50 milhões e terá porquê foco peças e comercias para rádio, TV e redes digitais. A campanha já vinha sendo desenhada desde a chegada de Sidônio ao governo, mas foi acelerada pelo Planalto depois que o vídeo do deputado federalista Nikolas Ferreira (PL-MG) sobre a portaria do Pix ampliou o debate nas redes sobre o tema e gerou a substituição da normativa por uma medida provisória.
Integrantes do Planalto admitem que a ideia inicial seria a de unicamente tentar volver a vaga do que consideram “fake news” sobre o tema, mas uma avaliação feita pela equipe de Sidônio constatou que a oposição já tinha se “apropriado” da discussão. A revogação da portaria foi anunciada justamente posteriormente uma série de reuniões em que o novo ministro da Notícia sinalizou que a “batalha nas redes estava perdida”.
“Não tem absolutamente nenhuma mudança, não vai se cobrar nada. Isso é uma atitude criminosa que estamos vivendo, causando sérias consequências para quem tem seu pequeno comércio”, afirmou Sidônio na semana passada.
Governo tenta volver repudiação dos empreendedores
A preocupação interna é de que essa crise tenha impactado a imagem do governo, principalmente, na filete da população de empreendedores autônomos e trabalhadores informais, que em algumas pesquisas eleitorais são classificados porquê “precarizados” e têm grande potencial para inspirar no resultado de eleições.
Lula tenta se aproximar dessa fatia do eleitorado e usou a sua fala na buraco da primeira reunião ministerial deste ano, realizada nesta segunda-feira (20), para fazer um gesto para estes grupos.
“É importante que a gente compreenda que o povo que nós estamos trabalhando hoje não é o povo dos anos 80. Não é o povo que queria apenas ter um emprego em uma fábrica com carteira profissional assinada. É um povo que está virando empreendedor e ele gosta de ser empreendedor e nós precisamos aprender a trabalhar com essa nova característica, com essa nova formação do povo brasileiro”, declarou Lula.
Apesar disso, o próprio petista já admitiu publicamente as dificuldades do governo em dialogar com esse segmento da sociedade. O Planalto apresentou no ano pretérito um projeto de regulamentação dos trabalhadores de aplicativo de transporte, mas a medida enfrentou potente resistência e segue paragem no Congresso Pátrio.
“O PT tem essa dificuldade, e ela está demonstrada na própria estruturação [do partido]. Houve mudança substancial do mundo do trabalho. Nós precisamos adequar o nosso discurso ao mundo do trabalho, que não é só carteira profissional assinada”, disse Lula em outubro do ano pretérito.
Lula dá bronca em Haddad e centraliza poder nas mãos de Rui Costa
Além de tentar se aproximar dessa filete do eleitorado, o presidente Lula usou a reunião ministerial para proferir que “nenhum ministro” vai poder fazer portaria sem antes passar pela Mansão Social, comanda pelo ministro Rui Costa. A fala foi vista internamente entres os integrantes petistas porquê um recado ao ministro da Quinta, Fernando Haddad, sobre o normativo do Pix publicado pela Receita Federalista. O órgão está sob o guarda-chuva do Ministério da Quinta. Ou seja, Haddad perde terreno enquanto Rui Costa se fortalece.
“Daqui para frente, nenhum ministro vai poder fazer uma portaria que depois crie confusão para nós sem que passe pela presidência através da Casa Civil. Muitas vezes a gente pensa que não é nada, faz uma portaria qualquer e depois arrebenta na Presidência da República”, disse Lula.
A medida deve ampliar a influência de Rui Costa sobre as portarias e normativos que serão publicados pelo governo a partir de agora. Conforme apurou a reportagem, pastas porquê a Mansão Social e a do Empreendedorismo, da Microempresa e da Empresa de Pequeno Porte, por exemplo, não foram consultadas sobre o documento da Receita Federalista sobre o monitoramento do Pix.
“Independentemente do instrumento, instrução normativa, portaria ou decreto, é importante que a gente tenha centralidade nas ações e nos anúncios. É preciso que, neste mundo de alta velocidade da comunicação, que a informação organizada chegue primeiro à população, antes de chegar a mentira, antes de chegar a desinformação. Precisamos de um plano de comunicação para todas as ações de governo”, explicou Rui Costa.
Essa não é a primeira vez que Lula tenta concentrar decisões que afetem a imagem do governo. Antes disso, o Ministério da Resguardo já havia editado uma portaria para que campanhas institucionais das Forças Armadas só fossem divulgadas posteriormente o aval da pasta comandada por José Múcio Monteiro.