Francisco Wanderley Luiz, o Tiu França, que se suicidou na Rossio dos Três Poderes nesta quarta-feira, 13, era um varão do muito, centrado, satisfeito e muito humanista. Ao menos é o que descrevem seus irmãos, em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo.
No entanto, Sônia, Maria Irlete e Rogério reconhecem que Tiu França havia mudado muito de comportamento no último ano.
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O varão que se explodiu usando fogos de artifício já foi candidato a vereador pelo Partido Liberal (PL) em Santa Catarina e esteve Supremo Tribunal Federalista (STF) em agosto.
Chaveiro, ele disputou a eleição de 2020 — um ano antes da filiação do ex-presidente Jair Bolsonaro à {sigla} — com o nome de urna Tiü França, em Rio do Sul (SC), mas não foi eleito.
Antes de morrer, publicou uma série de mensagens sobre o ataque, misturando declarações de cunho político e religioso.
Câmeras de segurança gravaram o momento em que o chaveiro Francisco Wanderley Luiz atira bombas, na Rossio dos Três Poderes, em Brasília, na noite desta quarta-feira, 13. Logo depois de agentes de segurança se aproximarem dele, Francisco joga um explosivo no pavimento e se deita por… pic.twitter.com/gV0Khw955L
— Revista Oeste (@revistaoeste) November 14, 2024
Maria Irlete diz não entender porquê o irmão mudou tanto, a ponto de fazer o que fez. “Ele sempre foi irreverente, bom crítico, muito humanista, de querer o muito de todos “, afirmou ela à Folha.
“Eu não sei em que momento isso aconteceu”, acrescentou. “Ainda mais quem é familiar: você vai convivendo e não sabe quando acontece a mudança. Ele andava passeando bastante.”
Uma das suas viagens, segundo a mana, foi para um acampamento em Brasília, em frente ao Quartel-General (QG) do Tropa, de onde saiu um grupo que realizou os atos do 8 de janeiro, de conciliação com o irmão Rogério Luiz. Ele não sabe, porém, se Tiu França estava na capital no dia da revelação.
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“Eu acredito que não”, disse. “Ele esteve lá, mas acho que foi antes ou depois. Ele não tinha uma sequência de percurso por esses locais.”
Francisco e o irmão costumavam ser bastante próximos, mas se afastaram nos últimos tempos. Muito por razão de uma visão de mundo distinta.
Rogério diz que ele não tinha um perfil violento, era educado, “mas o tempo foi talvez contaminando a cabeça”, segundo o irmão.
“De um ano para cá, ele se tornou bem diferente do que ele era”, afirmou à Folha. “Tanto é que eu digo para ti que eu não reconheço a pessoa que explodiu lá como meu irmão. Lá era outra pessoa, transtornada.”
“Ele tinha muita amizade, era carismático, inteligente, mas eu já não conseguia interagir com ele, porque minha linha de raciocínio era uma e a dele já era outra”, acrescentou Rogério.
Ele prosseguiu: “São peças que vão se acumulando na cabeça da pessoa, mas a gente ficou abismado de ter chegado nisso.”
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“A pessoa vai alimentando algo, tende a fazer algo, e aconteceu o que aconteceu”, lamentou. “A pessoa que estava lá [na praça] não era o Tiu França. Ele mudou muito. Antes, era uma pessoa educada, gentil, que trabalhava.”
Mana diz que não sabia de candidatura de Tiu França
Sônia, que mora no Paraná e por isso só tinha contato com o irmão pela internet, diz que ele vinha viajando muito.
“Eu sabia que ele estava como a maioria dos brasileiros, com expectativa de mudança no Brasil, que qualquer um tem, que eu tenho, você tem, mas de ser fanático eu não sabia”, afirmou à reportagem. “Na verdade, eu não sabia nem que ele tinha sido candidato a vereador.”
À Polícia Federalista (PF) uma ex-companheira de Tiu França, chamada Daiane, declarou que ele queria atingir o ministro do STF Alexandre de Moraes. Rogério, o irmão, diz que não confia na informação da ex-cunhada, com quem estava rompido.
“Se ele pensava dessa forma, ninguém da família estava ciente disso”, afirmou. “Se ela soubesse disso, ela deveria comentar isso com a Justiça, falar: ‘Vamos evitar, vamos alertar para o que pode acontecer’. E ela não fez isso.”
“Por isso eu acho que é inverdade”, acrescentou. “Não vou dizer também que ele não falou, não insinuou, como muitas pessoas insinuaram ou falaram, porque o Alexandre de Moraes está muito visado. Mas não era o caso dele. Ele não tinha esse perfil, de ser violento. Muito me estranha ele ter esses artefatos, ter feito algo premeditado.”
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Francisco havia sido réprobo e recluso por violência doméstica em 2014, em processo que está em sigilo de Justiça. A vítima foi Daiane, com quem o chaveiro teve uma relação de idas e vindas, porém duradoura.
A agressão ocorreu em 15 de dezembro de 2012, e Tiu França foi recluso no mesmo dia e liberado mediante fiança. Sentenciado a três meses de prisão em regime semiaberto, não recorreu e cumpriu a pena de 1º de abril de 2014 a 30 de junho do mesmo ano.
