Irmãos residentes em Araguaína, no norte do Tocantins, encontraram uma fortuna escondida nos pertences do pai, falecido. Uma mala guardava quase 32 milhões em cruzados, moeda do século passado. A história foi divulgada nesta terça-feira, 29.
“Chegou o tempo em que ele faleceu, entrávamos na casa dele e não mexíamos em nada”, relatou Waloar Magalhães à TV Anhanguera, filial da Globo em Tocantins. “Até que encontramos uma mala cheia de dinheiro.”
+ Leia mais notícias de Brasil em Oeste
O tesouro herdado consiste inteiramente em cruzados, datados da década de 1980, com notas e moedas estampadas com imagens de políticos e personalidades da época. No entanto, a quantia foi substituída pelo Cruzado Novo (1989-1990), Cruzeiro (1990-1993), Cruzeiro Real (1993-1994) e, finalmente, pelo real que circula atualmente.
Segundo especialistas, as notas e moedas encontradas pelos irmãos não têm mais valor financeiro. André Luiz Padilha, presidente do Clube Numismático do Estado do Rio de Janeiro, explica que a desvalorização das moedas se deve, em parte, à maneira como foram armazenadas pelo pai.
Leia mais:
“O fato de ele ter encontrado as cédulas dobradas, todas unidas, com manchas e marcas, e por serem cédulas de grande produção, faz com que seu valor numismático seja muito baixo, em comparação com cédulas novas”, afirma Padilha. “Assim, as cédulas gastas já não possuem valor algum.”
Waloar e seus irmãos esperam conseguir vender a herança para colecionadores ou trocar as moedas pela moeda corrente em agências bancárias. “Se Deus ajudar e ainda houver uma maneira no banco de fazer essa troca, daria para a gente começar uma nova vida”, disse.
Cruzados foram instituídos em 1986
Lançado em fevereiro de 1986, sob o governo do presidente José Sarney, o Plano Cruzado foi o primeiro pacote econômico a intervir de maneira drástica na economia brasileira, com o objetivo de eliminar a hiperinflação.
Além das medidas econômicas, o plano se destacou por ações simbólicas, que representavam uma ruptura com o regime militar e marcavam o começo de um ciclo republicano.
Entre suas inovações, estava a reforma monetária, que substituiu o antigo cruzeiro pela nova moeda nacional, o cruzado. Em abril, o Congresso aprovou o plano econômico com facilidade: na Câmara, foram 344 votos a favor e apenas 13 contra; no Senado, apenas um dos 49 parlamentares votou contra.
Inicialmente, a mudança de moeda e o congelamento de preços proporcionaram um aumento no poder de compra da população. Em retribuição, os brasileiros se tornaram “fiscais do Sarney” e ajudaram a combater os aumentos de preços abusivos, o que elevou a popularidade do presidente.
No entanto, essa popularidade se manteve apenas enquanto o plano parecia eficaz. Em novembro de 1986, o ministro da Fazenda, Dilson Funaro, anunciou novas medidas de correção “para evitar o sacrifício dos mais pobres”, que ficaram conhecidas como o Plano Cruzado II.
Na ocasião, Funaro deu uma longa entrevista a seis jornalistas, que se estendeu pela madrugada, para explicar os ajustes, que incluíam aumentos em produtos como automóveis. Nos anos seguintes, o governo tentou controlar a economia por meio de outros programas de estabilização, mas sem sucesso. A inflação superava 50% ao mês quando os brasileiros foram às urnas, em 1989, para eleger, finalmente por voto direto, um novo presidente.
Leia também: “Bagunça institucional, econômica e afins”, artigo de Adalberto Piotto publicado na Edição 219 da Revista Oeste