No leilão de títulos públicos federais, realizado pelo Tesouro Pátrio nesta quinta-feira, 28, o governo Lula não conseguiu vender os títulos NTN-F Jan-31 e NTN-F Jan-35. Esses títulos são uma forma de o governo captar moeda, prometendo devolvê-lo com juros no horizonte.
A NTN-F é diretamente vinculada à dívida pública. É uma forma de o governo se financiar, pois ajuda a entupir gastos que não podem ser pagos exclusivamente com impostos, uma vez que investimentos ou dívidas anteriores.
Ao enunciar NTN-Fs, o governo aumenta a dívida pública, mas consegue “rolar” dívidas antigas, trocando-as por novas. Isso permite financiar despesas sem aumentar impostos de inesperado.
Porém, o governo precisa prometer que poderá remunerar os juros e os valores no horizonte, o que afeta o controle e a sustentabilidade da dívida.
Normalmente, investidores estrangeiros são os principais compradores desse tipo de título. Apesar das altas ofertas feitas neste leilão, no entanto, não houve interesse por segmento destes investidores.
Especialistas consultados por Oeste afirmaram que a falta de compradores pode indicar preocupações com índices futuros de inflação e falta de crédito na gestão atual.
Juros ofertados pelo governo Lula não atraíram investidores
Segundo o economista Denis Medina, professor da Faculdade de Transacção de São Paulo, a Bolsa de Valores brasileira tem enfrentado quedas nos últimos meses, e o real tem perdido valor em relação ao dólar.
Ele explica que, embora a remuneração oferecida pelo Tesouro Pátrio — que é subordinado ao Ministério da Quinta — seja simpático, investidores estrangeiros questionam até que ponto a moeda brasileira continuará se desvalorizando.
Isso acontece porque a desvalorização impacta diretamente os ganhos futuros desses investidores. Outrossim, há o risco de a dívida pública aumentar, e o governo não conseguir pagá-la. Para atrair compradores dos títulos, o governo pode precisar sublevar o valor da remuneração oferecida.
Ele também explica que a falta de interesse pelos títulos NTN-F pode ser resultado da preocupação com a inflação, que está perto do limite da meta. Especialistas esperam aumento das taxas de juros e maior endividamento do governo.
“Os investidores sempre analisam a relação risco-retorno: rentabilidade aceitável e risco tolerável”, disse Medina, durante entrevista a Oeste. “Neste caso, a relação risco-retorno dos títulos brasileiros não foi vista como favorável pelos possíveis compradores.”
De pacto com o professor, a recente evasão de investidores internacionais do mercado brasiliano também prejudica a captação de empréstimo por segmento do governo.
O economista Márcio Hermes também reforçou que as condições oferecidas pelo Tesouro Pátrio não convenceram os investidores. Ele explicou que há a possibilidade de o mercado financeiro estar projetando uma inflação supra da que foi calculada pela equipe de Fernando Haddad.
“Como o Governo atual, gasta mais que arrecada, a diferença precisa ser coberta de alguma forma”, disse. “Isso é uma tendência de todas as gestões desde a República. Essa diferença pode ser coberta pela emissão de moeda, títulos de da dívida pública ou empréstimos internacionais.”
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Assim, o governo pode lançar um lote com juros mais altos para tentar atrair investidores. No entanto, isso pode gerar suspicácia no mercado quanto às previsões econômicas.
Se a falta de investidores continuar, o Brasil pode perfazer tendo que recorrer ao Fundo Monetário Internacional (FMI). “Eu esperava não ver acontecer novamente, após o Plano Real de 1994. Ao que parece, estava enganado”, relatou, em entrevista a Oeste.
Feriado não afeta negociações
Nas redes sociais, alguns internautas lembraram que hoje é feriado de Ação de Graças nos Estados Unidos. No entanto, títulos vendidos durante o feriado da independência (4 de julho) e o Thanksgiving do ano pretérito foram comprados normalmente.
Outrossim, investidores de qualquer segmento do mundo, e não exclusivamente os da Bolsa dos EUA, podem comprar esses títulos.
Desinteresse foi registrado um dia depois de proclamação de pacote fiscal
A falta de compradores foi observada no dia seguinte ao proclamação de um pacote fiscal elaborado pela equipe do ministro da Quinta, Fernando Haddad. O projecto inclui a isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 milénio, reajuste do abono salarial e outras medidas.
O mercado financeiro reagiu negativamente: nesta quinta-feira, o dólar chegou a R$ 6. Foi a primeira vez que a moeda americana alcançou leste valor. O dólar mercantil atingiu o recorde histórico às 11h21, com subida superior a 1% em relação ao fechamento de quarta-feira, 27. Às 12h22, estava cotado a R$ 5,99, e fechou o dia em R$ 5,98.
Os investidores reagiram mal ao pacote do governo Lula. Flavio Conde, exegeta da Levante Investimentos, disse à Reuters que as medidas foram “desanimadoras”, pois não incluíram cortes efetivos de despesas.
Sobre a isenção do Imposto de Renda até R$ 5 milénio, Conde expressou dúvidas sobre a capacidade das medidas compensatórias mencionadas por Haddad de gerar o montante necessário. Para ele, o mercado adotou a posição defensiva correta antes do proclamação.
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