Casos de demência avançada raramente são curados pelos próprios dementes, ou por juntas médicas que examinam o paciente e, depois de muita deliberação, acham que ele deve ser tratado com um melhoral. É o que está acontecendo com o governo Lula e sua situação de bancarrota nas contas públicas. Se o sujeito não tem mais verba para remunerar as suas despesas pessoais, e não pode aumentar a sua renda, a única saída lógica é reduzir as despesas. Tem sido assim desde os tempos do faraó; não apareceu nenhuma teoria melhor nos últimos 5 milénio anos. Em Brasília ainda não entenderam.
O governo Lula, dia em seguida dia, vai se enterrando na sua incapacidade de remunerar o que deve ou, mais exatamente, os gastos que cria — porquê o infeliz que se viciou no jogo do tigrinho e precisa cada vez mais verba para continuar apostando. O problema real, na verdade, nem seria o rombo; porquê é sabido, tudo, salvo a morte, pode ser resolvido nesta vida. O problema, no caso do Brasil de hoje, é que o doente mental quer se remediar com seus próprios diagnósticos. Não pode dar claro — sobretudo quando os médicos chamados para o tratamento não têm noção do que precisa ser feito.
No caso das contas públicas todos eles, paciente e médicos, admitem que seria preciso fazer alguma coisa — mas exigem, porquê prioridade absoluta e inegociável, que qualquer redução do déficit não os obrigue a trinchar as despesas que fazem. Falam e falam no “arcabouço fiscal”, mas fazem justo o contrário. Tiram, de dia e de noite, o concreto, o ferro e a madeira da estrutura e acham que a construção vai permanecer de pé. Uns querem carregar mais material que os outros, e todos têm certeza de que a obrigação de segurar o busto é sempre do vizinho de governo, e nunca deles.
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Está todos os dias no noticiário. Neste momento, por exemplo, há um ataque combinado do Supremo Tribunal Federalista e da Presidência da República contra o Tesouro Vernáculo — ao mesmo tempo. Não somente se recusam a gastar menos. Querem detonar o que já está no cofrinho da sacristia, de um lado, e continuar gastando porquê se o mundo fosse findar amanhã, de outro. Na primeira frente a grande estrela é, mais uma vez, o ministro Dias Toffoli. Ele já havia transformado o STF, com o escora intransigente de Lula e dos colegas, numa espécie de Tribunal de Incentivo à Prevaricação. Continua hipotecado, a cada despacho, em superar todos os “paradigmas”, porquê se diz nos cursos de coaching do tipo Pablo Marçal.
O ministro Haddad anda por aí feito um desesperado, detrás de verba. Há ministros ameaçando trespassar se cortarem alguma das suas verbas. Os militares estão bravos porque falaram em mexer no seu queijo. Daí vem Toffoli e tira R$ 18 bilhões do Tesouro Público, somando tudo, para entregar a ladrões que confessaram, de sua livre espontânea vontade e com a assistência de advogados criminais milionários crimes de prevaricação ativa — na ocasião, concordaram em restituir secção do verba roubado, para trespassar da prisão. São os 18 bi que Toffoli está mandando de volta a eles. Devem encontrar que isso é prioridade absoluta.
Trata-se, realmente, da última maravilha criada pela “suprema corte” deste Brasil “recivilizado” pelo ministro Barroso: a derrogação do transgressão confesso. Não se sabe de zero parecido no planeta. Os criminosos nunca retiraram uma única sílaba das suas confissões. Uma vez que é provável, portanto, o STF expor que elas não valem mais zero? Mas é isso mesmo: Toffoli decretou que as provas são “imprestáveis”. Digamos, só digamos, que tenha havido qualquer erro nas provas contra os bilionários amigos de Lula. Mas portanto a anulação teria de se limitar a levante caso específico, claro? Falso. Em vez de julgar caso por caso, Toffoli estendeu sua remissão a todos os crimes de prevaricação da era Lula–Dilma, sem exceção.
Lula, o STF e as classes que se descrevem porquê “progressistas” querem que você, um ser racional, acredite que tudo isso está claro. Também tem de crer que Toffoli é um gênio do Recta mundial. Sua obra é de “notável saber jurídico”, lida com veneração pelos maiores juristas dos cinco continentes – é um ás da hermenêutica, isso para não falar da propedêutica. Mas a sua única obra visível é o que está escrito aí supra – e a esquerda insiste que você ligeiro o STF a sério.
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Uma vez que o governo Lula nunca admite promover uma calamidade por vez – e ele tem os direitos autorais dessa calamidade, armada para proteger seus amigos da Odebrecht e da J&F – já engatou uma segunda, agora com Janja. Neste mesmo momento em que o Tesouro está enfiado na bacia das almas, e seu marido prenúncio “cortar verba de todo mundo”, a primeira-dama se lança num desesperado janjapalooza para queimar o sumo de verba público numa paçoca que chamam de “ação cultural”. Serve, unicamente, para a sua insistência em ser vista porquê a Evita Perón do século 21.
O festival de auto culto, mais uma vez, vai ser financiado até o último tostão com verba do pagador de impostos. Num dos casos mais espetaculares, para permanecer só nesse, a Itaipu está socando 15 milhões para remunerar um dos shows do janjapalooza; é transferência líquida de renda, dos cidadãos comuns para o bolso dos artistas da preferência de Janja. A estatal de pujança elétrica diz, com a maior seriedade do mundo, que essa despesa tem “importância estratégica” para o Brasil. Mas não é só mais um show, possivelmente meia-boca? Sim, mas o governo quebrado acha que é um ato de estratégia.
Esses 15 milhões são só da Itaipu, ela sozinha. O arrastão está levando também o Banco do Brasil, a Caixa, a Petrobras e o BNDES, tanto quanto se sabe até agora. A diferença é que nenhuma dessas empresas revela o quanto vão gastar na sarau de Janja. Faça as suas contas e sinta o cheiro final da brilhantina. Mais que a torrefação maciça de verba público desesperadamente limitado, porém, temos à nossa frente o clima mental em que vivem hoje os nababos do governo Lula – talvez esteja aí, no fundo, a moral da história.
Um dos destaques da ofensiva artística e cultural de Janja é um show com cantores amigos, os mesmos de sempre, cada um recebendo cachê de R$ 30.000. Até aí, é o que se espera: gastar verba do Tesouro, porquê a cólica dos outros, nunca dói em quem gasta; toca um zero a mais e vamos em frente. O prodigioso, nessa história, é que o “estafe” da primeira-dama disse que o cachê de R$ 30.000 para cada um é “simbólico”. Acredite se quiser; Janja acha que esse verba é uma mixaria. O pior é que pode ser mesmo – para ela. Na sua cabeça, “qualquer um” tem um trocadinho desses no bolso. É a intervalo, cada vez maior, entre o mundo de Lula e o mundo das coisas concretas. A seguir por aí, Maria Antonieta poderia vir fazer em breve um curso de doutorado no Palácio do Planalto.
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