Em meio a denúncias de limpeza étnica e genocídio, o Ministério da Defesa da Síria anunciou, nesta segunda-feira, 10, a conclusão das operações militares contra os apoiadores remanescentes do ex-ditador Bashar al-Assad, deposto em dezembro.
Os confrontos entre os leais a Assad e os novos governantes islamistas do país já causaram mais de mil mortes, a maioria de civis, de acordo com o Observatório Sírio para os Direitos Humanos (OSDH).
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A onda de violência teve início na última quinta-feira, 6, quando apoiadores de Assad atacaram as forças de segurança na cidade de Jableh, na província de Latakia, na costa noroeste do país.
Também houve insurgência na região vizinha de Tartous. As duas localidades são o berço da comunidade alauíta, uma ramificação do islã xiita, à qual pertence o clã Assad.

O novo governo sírio, composto de uma coalizão de grupos rebeldes sunitas que tomaram o poder de Assad em uma ofensiva relâmpago em dezembro, reprimiu a insurgência dos alauítas.
Segundo o OSDH, que tem sede no Reino Unido e uma vasta rede de informantes na Síria, foram mortos 745 civis, 125 membros das forças de segurança sírias e 148 combatentes leais a Assad. As autoridades sírias ainda não divulgaram números oficiais sobre as vítimas.
Rami Abdulrahman, chefe do Observatório, informou que os civis mortos incluíam mulheres e crianças alauítas. Ele afirma que o número de mortos foi um dos mais altos desde um ataque com armas químicas pelas forças de Assad, em 2013, que matou cerca de 1,4 mil pessoas em um subúrbio de Damasco.
A Federação de Alauítas na Europa acusou o novo governo de estar promovendo uma “limpeza étnica sistemática”. Um porta-voz da federação disse a uma emissora de televisão que as forças governamentais “estão jogando corpos no mar ou os queimando” e pediu por ajuda internacional.
Líder da Síria anuncia investigações dos massacres
Em resposta, o líder Ahmad al-Sharaa declarou, neste domingo, 9, que uma comissão independente vai investigar os massacres contra civis, que já causaram mais de mil mortes, segundo o OSDH, em regiões associadas ao antigo regime de Bashar al-Assad.
O novo governante sírio é o líder do grupo Hayat Tahrir al Sham (HTS), ou Organização para Libertação do Levante, em português, que liderou os rebeldes na deposição de Assad.


Al-Sharaa anunciou a formação de uma “comissão de investigação independente” para apurar as “violações contra civis” e levar os responsáveis à Justiça. Ele garantiu que todos os envolvidos no “derramamento de sangue” seriam responsabilizados e punidos.
“Nós responsabilizaremos, com total determinação, qualquer um que esteja envolvido no derramamento de sangue de civis, que maltrate civis, que exceda a autoridade do Estado ou explore o poder para ganho pessoal”, afirmou Sharaa em um discurso transmitido em rede nacional. “Ninguém estará acima da lei.”
Ele também afirmou que o país se encontra diante de um novo perigo: “Tentativas de remanescentes do antigo regime e seus apoiadores estrangeiros de incitar novos conflitos e arrastar nosso país para uma guerra civil, com o objetivo de dividi-lo e destruir sua unidade e estabilidade”.
Esta foto mostra uma vila na Síria que foi completamente massacrada.
Quando Israel se defende, a indignação entra em erupção. Mas quando as aldeias sírias inteiras são apagadas, o mundo fica em silêncio. pic.twitter.com/kr7uwouakv
– Visegrád 24 (@VisEgrad24) 10 de março de 2025
Em um discurso na mesquita de Damasco, Sharaa declarou que os eventos eram “desafios previsíveis” e que a prioridade era preservar a unidade nacional e a paz civil. “Se Deus quiser, seremos capazes de viver juntos neste país”, disse ele.
Reações internacionais
Depois de mais de 13 anos de guerra civil, a restauração da segurança tornou-se o principal desafio para o novo governo da Síria.
O alto-comissário da Ele para os Direitos Humanos, Volker Türk, disse que as mortes de civis “devem cessar imediatamente”. Já o secretário de Estado dos Estados Unidos, Marco Rubio, condenou os massacres e exigiu que os responsáveis fossem responsabilizados.
UM Alemanha pediu “veementemente a todas as partes que ponham fim à violência”, e o Reino Unido pediu às autoridades sírias para “garantir a proteção de todos os sírios”.


Neste domingo, o Ministério do Interior sírio anunciou o envio de “reforços adicionais” para “restaurar a calma” em Qadmus, um vilarejo na província de Tartus, onde o governo estaria buscando “os últimos homens leais ao antigo regime”.
A agência de notícias oficial da Síria, Sana, reportou “confrontos violentos” em Taanita, um vilarejo nas montanhas de Tartus, onde “vários criminosos de guerra afiliados ao regime deposto e grupos de homens leais a Assad que os protegem” se refugiaram.
Na província de Latakia, um comboio de 12 veículos militares entrou no vilarejo de Bisnada, onde as forças de segurança estão revistando casas, segundo um fotógrafo da agência France Presse.
Extremistas islâmicos radicais estão completando e assassinando cristãos na Síria
Onde estão todas as organizações auto -proclamadas de direitos humanos ??? pic.twitter.com/euaqpfqspq
– Libs of Tultok (@libsoftiktok) 9 de março de 2025
“Mais de 50 pessoas, familiares e amigos foram assassinados”, disse um habitante alauíta de Jablé, que não quis se identificar. As forças de segurança e milicianos aliados “recolheram os corpos com escavadoras e os enterraram em valas comuns, inclusive jogando corpos ao mar”.
O OSDH e diversos ativistas publicaram vídeos que mostram dezenas de corpos e militares disparando contra três pessoas à queima-roupa. Essas imagens ainda não puderam ser verificadas de forma independente.
Em Damasco, forças de segurança dispersaram um protesto contra os massacres, quando contra-manifestantes invadiram a área aos gritos de slogans como “Estado sunita!” e palavras de ordem contra a comunidade alauíta.