O ministro de Secretaria de Relações Institucionais (SRI), Gleisi Hoffmann, afirmou neste domingo, 16, que não pretende negociar com parlamentares da oposição que classifica como “radicais”. Segundo ela, o diálogo será mantido apenas com aqueles dispostos a debater temas de interesse nacional.
“Tinha um ditado que a minha avó dizia: ‘não gaste vela com santo ruim’”, disse a ministra. “Se eu não vou convencer, vou tratar bem, obviamente, respeitar porque eu não trato ninguém mal. Agora, com quem é da conversa, mesmo sendo da oposição, eu vou procurar dialogar para ver se a gente pode encontrar convergência. (…) Mas com aqueles que gritam, que agridem, aí não tem diálogo, aí não adianta gastar tempo.”
A declaração foi dada durante entrevista ao podcast PodK Liberadosdo senador Jorge Kajuru (PSB-GO), transmitido pela RedeTV! e pelo YouTube. Essa foi a primeira entrevista exclusiva concedida desde que assumiu o comando da SRI, na segunda-feira 10, e substitutiu Alexandre Padilha, que foi transferido para o Ministério da Saúde.
Expectativa de Gleisi com o Congresso e ministros
Confira:
Sobre a relação do governo com o CongressoGleisi manifestou esperança em avanços com os novos presidentes da Câmara, Hugo Motta, e do Senado, Davi Alcolumbre. Segundo ela, o Palácio do Planalto buscará manter uma relação baseada em lealdade, transparência e respeito com as duas Casas Legislativas.
Ao comentar sua relação com Fernando Haddad, ministro da Fazenda, negou qualquer conflito e afirmou que suas críticas ao arcabouço fiscal fazem parte do processo político.
“Eu entrei para o governo para somar”, enfatizou Gleisi. “Posso ter minhas críticas, posições divergentes. Eu acho que isso é normal em um processo democrático e no processo que temos de formação de governo. Mas nesse lugar da SRI estou aqui para facilitar a vida do governo, do presidente e dos ministros que executam as política. Vim para ajudar.”
Eleições e papel da oposição
Ao avaliar a atuação da oposição, Gleisi criticou a estratégia do ex-presidente Jair Bolsonaro, que não descarta uma candidatura em 2026, apesar de estar inelegível. Para ela, essa postura impede a consolidação de uma liderança alternativa na direita.
“Como Bolsonaro não está no jogo e ele quer entrar para o jogo de novo, ele não está deixando que a direita se organize”, afirmou a ministra. “Vai levar a candidatura até o final e depois, de certo, colocar um substituto que pode ser um filho. Mas aí fica difícil para a direita construir um processo.”
Gleisi garantiu que Lula disputará a reeleição em 2026. Disse ainda que o governo precisa ajustar sua estratégia de comunicação, mas confia que entregará resultados positivos.
Questão feminina na política
A ministra também abordou os desafios enfrentados por mulheres na política. Para ela, o ambiente ainda é predominantemente masculino.
“É um ambiente absolutamente masculino”, disse Hoffmann. “Não estou nem falando que é machista, misógino, porque isso é um problema de defeito mesmo, mas é masculino. E os códigos são masculinos também. A gente vai quebrando um pouco de barreiras, mas ainda assim é difícil. (…) Ir a jantares é um pouco da característica masculina. Eu tenho uma limitação, não aguento ir em mais de um não. Gosto de dormir cedo porque eu acordo cedo. Além de ir para a academia, tem que ler os jornais, chegar preparada. Isso é um ponto que pode me dar dificuldades.”
Gleisi rejeita a anistia aos envolvidos no 8 de janeiro
Sobre os atos de 8 de janeiro de 2023, Gleisi rejeitou a anistia aos envolvidos na depredação das sedes dos Três Poderes.
“Tem que ser pedagógico”, disse a ministra ao falar sobre os atos. “O que aconteceu nesse período não foi pouca coisa. Temos hoje a história de um golpe que estava sendo construído. Não foi só o 8 de Janeiro. Desde que Bolsonaro perdeu a eleição, eles começaram a tramar um golpe. As pessoas têm que ser responsabilizadas por isso.”
Quanto ao impeachment de ministros do Tribunal Supremo Federal (STF), disse que, embora seja uma prerrogativa do Senado, não vê motivos para sua aplicação no momento.
“É um instituto que existe e está previsto”, declarou. “Senado tem essa faculdade. Obviamente que se existir motivo, se existir problema realmente de fato, o Senado vai fazer, mas não pode ser utilizado como uma faca na cabeça dos ministros do Supremo para que eles façam o que grande parte do Senado quer. A Justiça precisa ter independência. Essas coisas têm que lidar com muito cuidado porque são muito desestabilizadoras das relações.”