O deputado federal Pedro Lupion (PP-PR), presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) no Congresso Nacional, afirmou à Gazeta do Povo que o agronegócio brasileiro está extremamente preocupado com o que deve ser anunciado pelo governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para o Plano Safra 2025/2026, já que pode ser um dos piores da história por uma soma de fatores.
Segundo Lupion, algumas preocupações colocam o segmento em alerta. Uma delas é que não há dinheiro no orçamento para um Plano Safra amplo como o setor precisa para manter as atividades do ciclo 2025/2026. O cenário ideal seria o de um acréscimo ao anunciado em 24/25, que somou pouco mais de R$ 400 bilhões.
Em seguida, estão as elevadas taxas de juros que devem refletir e impactar em cheio o próximo período de financiamento produtivo. Os créditos para financiamentos serão anunciados pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) no fim deste semestre. A Gazeta do Povo não conseguiu manifestação da pasta sobre a organização do plano.
O deputado fez as afirmações durante visita à 37ª edição de Show Rural, em Cascavel (PR), nesta semana, e criticou o fato de o governo federal não se mostrar preocupado com o segmento. A gestão petista não enviou ministros para a feira, que abre o calendário dos grandes eventos nacionais do agro. Apesar disso, a presidente do Banco do Brasil compareceu ao Show Rural nesta quinta-feira (13), mas não falou com a imprensa e também não discursou no estande da instituição financeira. (Leia mais sobre essa questão no fim da matéria).
O setor produtivo acredita que até o anúncio, que ocorre em pouco mais de quatro meses, a taxa de juros Selic possa estar em 15% ao ano. Hoje, ela está em um número considerado, segundo o deputado, extremamente preocupante de 13,25% ao ano. Em março de 2024, os juros já eram avaliados como muito elevados, em 10,65%, mas no momento do anúncio do Plano Safra 24/25, no início de julho, a Selic era de 10,5%.
“Certamente esses juros de agora terão impacto sobre o Plano Safra (apesar de ter juros subsidiados), estamos extremamente preocupados com o que está por vir. Não existe orçamento para o setor e não sabemos como será. É algo que nos preocupa e muito”, afirmou o deputado.
De acordo com Lupion, o agro também está atento quanto ao desmonte de programas como o seguro rural, que vem perdendo espaço nos financiamentos ano após ano. Ele afirmou que o governo federal precisa dar respostas, colocar o segmento a par de quais são as projeções e quais ações serão adotadas pelo Executivo.
Neste ano, o Show Rural deve receber aproximadamente 500 mil pessoas – somando os visitantes desde segunda (10) até sexta-feira (14), último dia do evento. As incertezas econômicas são tantas que esta foi uma das poucas vezes que a organização do evento não divulgou uma projeção de negócios para o período da feira.
O senador Sergio Moro (União-PR) avalia a gestão do governo Lula para o agronegócio como desastrosa. “Tanto é que o governo sequer enviou algum representante para um dos maiores eventos do setor do Brasil, que é o Show Rural. Essa é a importância que o governo dá ao segmento que cresce, graças ao que o setor faz, não pelo que o governo tem feito por ele”, destacou.
Quanto às visitas do alto escalão governamental, na edição do ano passado ao menos dois ministros estiveram no evento, Carlos Fávaro, da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, e o do Desenvolvimento Agrário, Paulo Teixeira.
Além disso, em 2023, o governo petista teve atritos com outra feira – a Agrishow, em Ribeirão Preto (SP). O ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, cancelou a ida ao evento quando soube que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) estaria na abertura. Na sequência, o governo ameaçou cortar o patrocínio do Banco do Brasil à feira. Dias mais tarde, Lula chamou os organizadores de “fascistas e negacionistas”.
Projeções do Plano Safra: agricultura e pecuária precisam de planejamento
Dilvo Grolli, presidente da Coopavel, cooperativa que realiza o Show Rural, diz que o setor vive a expectativa para o anúncio do Plano Safra e que o segmento depende desses recursos para manter os próximos ciclos produtivos com planejamento. Grolli também avaliou que a elevada taxa de juros tende a refletir de forma negativa nos financiamentos.
“Neste momento nem podemos mais pensar em 2025, mas em 2026”, afirmou. Ele salientou que o planejamento do agro precisa ser traçado com meses de antecipação, pois é necessário calcular custeio, operacionalização, armazenagem, escoamento e comercialização.
O presidente da Organização das Cooperativas do Estado do Paraná (Ocepar), José Roberto Ricken, foi outro a analisar com cautela e preocupação o que está por vir na formatação do próximo Plano Safra. Ele chamou atenção para um segmento que vem sendo sistematicamente negligenciado: a escassez de recursos para investimentos, como na área de infraestrutura.
Ele avalia que isso pode se repetir no próximo ciclo. Ricken afirmou que as cooperativas aguardam, com expectativa, pelas linhas de crédito e, principalmente, pelo anúncio das taxas de juros cobradas sobre elas.
Por outro lado, o presidente da Ocepar acredita que o desempenho do setor cooperativista em 2025 deva ser melhor do que o registrado em 2024.
“O ano de 2024 foi extremamente desafiador e, mesmo assim, o segmento manteve crescimento. Mas foi um ano muito difícil pela questão cambial, juros e o cenário em si. Este ano tende a ser um pouco melhor, mas com muitas preocupações ainda, como os elevados juros e os reflexos que eles trarão ao mercado”, destacou Ricken.
O segmento cooperativista do Paraná é o maior do Brasil com um faturamento de R$ 200 bilhões. Ele responde por quase um terço do faturamento do setor em todo o país.
A superintendente da Organização das Cooperativas do Brasil (OCB) e presidente eleita do Instituto Pensar Agro (IPA), Tânia Zanella, disse à Gazeta do Povo que o Plano Safra 2025/2026 deve vir repleto de desafios e preocupação ao setor.
Zanella afirma que o plano deve ser altamente impactado pelas elevadas taxas de juros e que, na teoria, os valores anunciados podem até superar os de 2024/2025, que foram na casa dos R$ 400 bilhões, mas que, na prática, a liberação dos recursos e as contratações efetivas podem ficar muito abaixo do que foi anunciado.
A superintendente avalia que isso ocorre por uma série de fatores, entre eles a dificuldade para o acesso ao crédito e sobretudo pelo dinheiro mais caro com juros impeditivos, tanto para custeio quanto para investimentos.
Zanella reforça a necessidade de mais crédito e com juros adequados para o setor de investimentos, que tem “ficado sempre no fim da fila do Plano Safra”.
A superintendente também opina que há um desmonte do seguro rural, o que prejudica e coloca em risco a produção brasileira diante das interpretes climáticas, com casos sucessivos de estiagens prolongadas ou de enchentes devastadoras.
Presidente do Banco do Brasil comparece ao Show Rural
Com uma mudança nos planos de última hora, depois de não confirmar a presença de nenhum representante do primeiro escalão governamental em uma das maiores feiras do agronegócio brasileiro, a presidente do Banco do Brasil, Tarciana Medeiros, visitou o Show Rural nesta quinta-feira (13).
O nome dela só foi para a agenda oficial horas antes de sua chegada ao parque tecnológico. Pelos planos originais, ela não visitaria a feira. Apesar de sua estada no parque tecnológico, a presidente do BB não falou com a imprensa nem usou a palavra em ato oficial no estande do banco.
A assessoria disse que, como o BB deve divulgar na quarta-feira da próxima semana os resultados de 2024, este seria um momento de “silêncio” necessário para não impactar o mercado. O Banco do Brasil é um dos principais agentes para contratação de recursos do Plano Safra e responde no atual ciclo por pelo menos 43% do crédito disponível para os agricultores e setor produtivo.
Em um comunicado oficial divulgado poucos dias antes do Show Rural, Tarciana Medeiros disse que o Banco do Brasil está presente desde a primeira edição do evento e que reforçava seu compromisso com o setor.
“Vamos, cada vez mais, reafirmar a nossa proximidade, oferecendo atendimento personalizado e soluções adequadas às necessidades de cada produtor, seja ele pequeno, médio ou grande. Estamos sempre ao lado de quem produz e sabemos da nossa responsabilidade em apoiar o crescimento econômico do país e o desenvolvimento sustentável do agronegócio brasileiro”, disse a presidente do Banco do Brasil em comunicação oficial anterior ao Show Rural.
Segundo o Banco do Brasil, a instituição destinou R$ 147,4 bilhões à safra 2024/2025 até janeiro deste ano e o volume “está em linha com o realizado no mesmo período da safra anterior (23/24)”. Somente o BB tinha para o plano safra 2024/2025 R$ 260 bilhões de um total de R$ 400 bilhões designados a linhas de crédito, incentivos e políticas agrícolas para médios e grandes produtores em 24/25.
Um coordenador do Ministério da Agricultura e Pecuária era aguardado no Show Rural nesta quinta-feira, mas não foi confirmada sua agenda no parque tecnológico. A Gazeta do Povo contatou a pasta em busca de mais informações sobre a visita do coordenador e para solicitar uma entrevista, mas não obteve retorno.