A criação da União Progressista — federação formada por União Brasil e Progressistas — acendeu um alerta entre partidos do Centrão e já provoca o rearranjo de forças políticas no Congresso Nacional. MDB e Republicanos intensificaram tratativas para uma aliança entre as duas siglas, temendo perda de espaço político diante da força do novo bloco.
O movimento liderado por Baleia Rossi (MDB) e Marcos Pereira (Republicanos) sinaliza que a federação encabeçada por Ciro Nogueira (PP) e Antonio Rueda (União) já começa a redesenhar o tabuleiro político para 2026, ao mesmo tempo em que impõe desafios à direita e pressiona legendas aliadas do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
A unificação do União Brasil e do PP em uma federação foi formalizada na semana passada e formou a maior bancada do Congresso, com 109 deputados e 14 senadores, além de quase 1.400 prefeituras. Ela foi chamada de UP, sigla de União Progressista.
Pereira (Republicanos) e Rossi (MDB) se reuniram na terça-feira (6) para discutir a composição de sua própria federação. Caso o acordo avance, MDB e Republicanos somariam 88 deputados federais, 15 senadores e aproximadamente 1300 prefeituras.
“Este é o nosso segundo encontro, não por acaso, mas porque compartilhamos propostas importantes para o Brasil e uma visão comum de compromisso com a boa política”, escreveu Marcos Pereira em seu perfil no Instagram.
A aproximação entre as siglas não é inédita: no início de abril, uma primeira conversa foi realizada. Antes de avançar com o Republicanos, o MDB também tentou abrir diálogo com o PSD, comandado por Gilberto Kassab.
Internamente, o MDB vive um impasse. Parte da legenda defende a construção de uma federação como forma de garantir sobrevida institucional, enquanto outro grupo prefere manter a autonomia da sigla. A reportagem apurou que há preocupação com o enfraquecimento vivido por partidos tradicionais, como o PSDB, e temor de que o MDB possa seguir caminho semelhante.
Nesse cenário, também ganha força a ideia de desembarque do governo Lula – atualmente, a legenda comanda três ministérios: Planejamento (Simone Tebet), Cidades (Jader Filho) e Transportes (Renan Filho).
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Federação expõe estratégia de sobrevivência política
A união entre União Brasil e PP não representa uma aproximação ideológica, mas sim uma resposta pragmática às regras do sistema político brasileiro, segundo o cientista político Juan Carlos Arruda, CEO do Ranking dos Políticos.
“A federação entre União Brasil e PP sinaliza uma tendência relevante para os próximos anos: a união de partidos não necessariamente por afinidade ideológica, mas por estratégia eleitoral e sobrevivência política”, explicou.
Para Arruda, o fim das coligações proporcionais e a imposição da cláusula de barreira criaram incentivos para que legendas médias busquem se fundir a fim de ampliar tempo de TV, acesso ao fundo partidário e presença nacional. No entanto, ele alerta para possíveis efeitos colaterais:
“No caso específico da federação União-PP, o efeito colateral pode, de fato, ser uma debandada de lideranças de centro que hoje buscam manter uma identidade própria – como é o caso do MDB, que tenta se reposicionar.”
PP e União não devem embarcar em impeachment de ministros do STF
Mirando 2026, Ciro Nogueira (PP) tem reforçado o apoio a Jair Bolsonaro de forma reiterada. Ao visitar o ex-presidente, nesta terça-feira (6), ele reforçou seu apoio a Bolsonaro ao presenteá-lo com um broche da federação. O encontro ocorreu dois dias após o ex-mandatário receber alta do Hospital DF Star, onde esteve internado por 21 dias.
“Hoje tive a alegria de visitar o nosso capitão Jair Bolsonaro e ver ele melhorando mais a cada dia de sua recuperação. Já aproveitei a oportunidade para presenteá-lo com um broche da nossa nova federação União Progressista, afinal, ele foi nosso companheiro de partido por duas décadas. E, como sempre digo, ninguém se perde no caminho de volta”, declarou Ciro Nogueira.
Na oposição, a leitura sobre o novo bloco é ambígua. Há quem veja na aliança um reforço para a direita, especialmente pela ligação entre Ciro Nogueira e Jair Bolsonaro — o senador foi ministro da Casa Civil no governo anterior. No entanto, dirigentes do PL avaliam que a federação não garantirá apoio automático a pautas de confronto, como o impeachment de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). A relação é avaliada por analistas como pragmática e sujeita a negociações caso a caso.
Enquanto isso, membros da oposição de fora do Partido Liberal já miram a janela partidária de 2026. Em caráter reservado, um interlocutor do União Brasil afirmou que parlamentares da sigla devem migrar para o PL em busca de maior alinhamento ideológico e proximidade com Bolsonaro.
Pragmatismo e autonomia marcam atuação da União Progressista
Para o cientista político Adriano Cerqueira, professor do Ibmec de Belo Horizonte, uma possível aproximação entre a federação União Progressista e o Partido Liberal deve ocorrer por motivações pragmáticas, e não ideológicas. Segundo ele, a eventual parceria não abarcará apoio a pedidos de impeachment contra ministros do Supremo.
“O cenário parece indicar que a cooperação tenderia a ser muito mais pragmática, voltada para questões econômicas e burocráticas, como acesso a emendas, as negociações no Parlamento, e não em pautas mais ideológicas ou de confronto direto, como, por exemplo, o pedido de impeachment do ministro da Suprema Corte, que tantos anseiam”, afirmou Cerqueira.
Ele também projetou o comportamento da nova federação, lembrando como esses partidos se comportam em relação ao governo Lula.
“Essa federação tem um histórico de baixa fidelidade ao governo Lula. Atua com muita autonomia para defender os seus próprios interesses regionais, paroquiais, dos parlamentares que querem contemplar suas constituências, suas bases, seus estados de origem e questões de interesses regionais partidários. Ela não se engajará em pautas alinhadas ao Partido Liberal, que tem o perfil próprio do bolsonarismo e que, por definição, tem que ser mais combativo, confrontacional”, afirmou Cerqueira.