Na noite de 13 de novembro de 2024, em plena semana de comemoração da Proclamação da República, o Brasil foi impactado por um ato extremo. Um varão, em frente ao STF e próximo à estátua da Justiça, detonou explosivos e as explosões reverberaram uma vez que um grito de desespero em uma sociedade que há tempos parece dividida.
Embora não tenha destruído estruturas, as explosões no STF simbolizaram um espavento mais profundo: o do próprio tecido social, já fragilizado por disputas políticas e pela polarização exacerbada. No gesto trágico, o responsável se tornou sua própria vítima, revelando uma vez que, nas explosões de ódio e intolerância, o povo paga o preço mais tá.
No pensamento de Aristóteles, a virtude reside na “média,” no estabilidade que se encontra entre os extremos. A verdadeira força de uma sociedade está na capacidade de transformar suas teses e antíteses, suas opiniões opostas e perspectivas divergentes, em uma síntese produtiva
Esse ato, longe de ser uma anomalia isolada, se insere em uma série de eventos recentes que vêm testando os limites de nossa democracia. Desde a invasão das sedes dos Três Poderes em 8 de janeiro, testemunhamos a escalada de um fervor político que, em muitos casos, ultrapassa as fronteiras da urbanidade. Mais do que uma disputa de ideias, a polarização tem se revelado uma vez que uma espécie de esbraseamento social, pronta para irromper em qualquer momento. O resultado é uma sociedade que, ao se fragmentar, desestabiliza suas próprias bases, enfraquece o sentido do Estado Democrático de Recta e afeta até mesmo as relações familiares e amizades.
Nesse contexto, a racionalização da política emerge não somente uma vez que ideal, mas uma vez que um imperativo civilizatório. Em um momento na qual a razão é suprimida pela emoção e o diálogo pela imposição, devemos resgatar os fundamentos da racionalidade moderna, que constitui a base da convívio pacífica e democrática. O filósofo Jürgen Habermas, ao proteger a “ação comunicativa,” argumenta que é pelo diálogo que a sociedade se constrói, onde mesmo as divergências encontram espaço para coexistir de forma produtiva. Karl Popper, por sua vez, advertia sobre os perigos do extremismo, defendendo uma “sociedade aberta” que se alimenta da pluralidade de ideias sem recorrer à violência.
No pensamento de Aristóteles, a virtude reside na “média,” no estabilidade que se encontra entre os extremos. A verdadeira força de uma sociedade está na capacidade de transformar suas teses e antíteses, suas opiniões opostas e perspectivas divergentes, em uma síntese produtiva, onde o conflito se resolve não pela ruína mútua, mas pela convívio harmoniosa. Esse ponto intermediário, a síntese entre tese e antítese, é a núcleo do Estado de Recta e da democracia moderna. É o caminho do meio que acolhe as diferenças, tempera os excessos e promove o muito generalidade. Nesse espaço de convívio, as ideias não se aniquilam mutuamente, mas se complementam e se aprimoram, reforçando a construção de uma sociedade equilibrada e justa.
Que o estrondo dessa tragédia, logo, nos faça refletir. Que consigamos transmutar toda a polarização e extremismo recentes em uma novidade compreensão, uma explosão de sossego e de diálogo que reverbere em cada esfera da sociedade. Que possamos redirecionar nossa robustez para fortalecer o pacto civilizatório que nos une, reafirmando nosso compromisso com a racionalidade, o reverência e a convívio democrática. Que a explosão que nos inspire seja a que ilumina e transforma e não a que destrói, uma vez que as explosões no STF.
Antonio Carlos de Freitas Jr. é doutor e rabino em Recta Constitucional pela USP.