A poucos dias das eleições americanas, a vice-presidente dos EUA e candidata democrata à presidência, Kamala Harris, adotou um discurso mais radical sobre seu adversário político, o republicano Donald Trump, classificando-o como “fascista”, um termo que se tornou cada vez mais comum no vocabulário da esquerda.
O exemplo mais recente dessa postura foi visto em seu último discurso, na Casa Branca, na terça-feira passada, ocasião na qual a ex-promotora afirmou que Trump era um “tirano mesquinho” e “projeto de ditador”.
Até essa fase da corrida eleitoral, a substituta de Joe Biden para representar os democratas nas urnas retratava o adversário como um republicano padrão que não está comprometido com as necessidades do povo americano, apenas com empresários com dinheiro. Agora, Harris assume uma postura mais ofensiva, na tentativa de pintar o ex-presidente republicano como um autocrata que ameaça a democracia americana.
Esse discurso mais duro de Kamala surgiu após um ex-chefe de gabinete de Trump, o general John Kelly, que serviu na Casa Branca entre 2017 e 2019, afirmar que o ex-presidente se enquadrava na definição de fascista, em entrevista ao jornal The New York Times. Dias depois, ela concedeu entrevista à CNN, momento no qual expressou sua concordância com Kelly.
Trump e seus aliados classificaram essa estratégia de Kamala como um sinal de “desespero”, em um momento em que algumas pesquisas eleitorais indicam uma ligeira vantagem dele.
“A camarada Kamala Harris vê que está perdendo, e perdendo feio, especialmente depois de roubar a candidatura do corrupto Joe Biden, então agora ela está cada vez mais elevando o tom, chegando ao ponto de me chamar de Adolf Hitler, e qualquer outra coisa que venha à sua mente distorcida”, escreveu Trump em suas contas na Truth Social e no X após o comentário de Kamala na entrevista da CNN.
Mas por que Trump não é fascista? Em um artigo à revista americana National Review, o escritor Rich Lowry explica que o termo está sendo mal empregado há bastante tempo pela esquerda e já não condiz com seu significado original.
De acordo com Lowry, os fascistas do século XX odiavam a democracia parlamentar e acreditavam em um estado que controlava todos os setores. “Eles tinham desprezo pela vida burguesa”, destaca o escritor. “Fundamentalmente, o fascismo celebrava a violência em uma rejeição niilista da racionalidade e elevação da luta militar”, acrescentou.
O ex-presidente republicano não se encaixa em nenhuma dessas categorias. Em seu primeiro mandato (2017-2021), ele nomeou juízes constitucionalistas à Suprema Corte, reduziu o poder do governo federal, além de ter estimulado a livre iniciativa.
Além disso, o candidato republicano nunca disse que usaria o Exército contra seus adversários políticos, como os democratas vêm defendendo, com base em um vídeo editado de uma entrevista de Trump à Fox News.
Kamala Harris tem usado em seus comícios um trecho de uma entrevista do republicano com a apresentadora Maria Bartiromo. O conteúdo da mídia diz: “Temos algumas pessoas muito más, temos algumas pessoas doentes, lunáticos radicais de esquerda, e eu acho que eles […] que isso deve ser facilmente resolvido, se necessário, pela Guarda Nacional ou, se realmente necessário, pelos militares”.
No entanto, a democrata omite as palavras “em termos do dia da eleição”, tentando distorcer o fato de Trump estar respondendo a uma pergunta da jornalista da Fox News sobre possíveis transtornos no dia 5 de novembro. No acréscimo do vídeo, Trump diz que a Guarda Nacional poderia “facilmente resolver” tumultos na data.
Mas essa postura ofensiva contra Trump não é uma novidade dentro do governo democrata. Em 2022, antes das eleições de meio de mandato, o presidente Joe Biden já afirmava que o ex-presidente era uma “ameaça à democracia”.
Na ocasião, o mandatário americano afirmou que os republicanos que adotam a filosofia “Make America Great Again” (Tornar a América grande de novo, em tradução para o português) defendem um “semifascismo”.
Com as pesquisas eleitorais indicando um cenário acirrado entre os candidatos, estrategistas políticos afirmam que essa mudança na postura da democrata Kamala Harris é uma estratégia para alcançar republicanos moderados e eleitores que seguem indecisos, a mesma tática usada pela campanha de Biden em 2020.