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Nasci em 1989 em uma casa onde fui apresentada aos clássicos da leitura: Machado de Assis, Jose de Alencar, Álvares de Azevedo, Miguel de Cervantes, Richard Bach, entre outros. Lembro de, aos doze anos, ter me aventurado a ler “Os sertões”, de Euclides da Cunha, mas a leitura era pesada por conta das palavras deveras difíceis para minha idade. Me debrucei a ler os poemas contidos em “Dom Quixote”; não li na íntegra na época, infelizmente. O primeiro clássico que li foi “Esaú e Jacó”, do nosso grande Machado.
Graças a meu pai – que até hoje cultiva esse hábito – desenvolvi o interesse pela leitura muito cedo. Hoje, pela misericórdia divina, tenho mais livros que meu pai ( e que não cabem na estante – risos). De clássicos da literatura a política, de biografias a livros religiosos, os livros são as maiores ferramentas que uso até mesmo para escrever para o Mundo Conservador.
Desde jovem sempre me questionei por que as escolas não apresentavam obras clássicas para seus alunos; penso que um dos motivos do ensino em nosso país ser este caos é o fato de ter sido abandonada a leitura e discussão dos mesmos. E isso trouxe como resultado uma geração “Felipe Neto”.
Em 2021, o youtuber postou em seu perfil do Twitter: “Forçar adolescentes a lerem romantismo e realismo brasileiro é um desserviço das escolas para a literatura”. Bom, talvez para ele seja melhor que crianças e adolescentes sejam expostos a livros com temática sexual.
Óbvio que o imitador de foca mor foi criticado por pessoas que ainda possuem o juízo perfeito. Entre as críticas está Stephanie Ribeiro, apresentadora do Decore-se, na GNT. “É um absurdo e retrocesso um youtuber com milhões de seguidores chamando de desnecessária a literatura clássica brasileira, e citando nominalmente Machado ao dizer que não é uma leitura pra adolescente”, escreveu.
Me lembro que, quando iniciei na faculdade de jornalismo em 2009, fomos obrigados a ler uma obra tosca e abjeta chamada “Meu querido canalha”, que era um compilado de textos de homens relatando suas experiências sexuais da maneira mais suja possível. Repleto de palavrões e com zero conteúdo jornalístico, se não lêssemos, nossa nota seria zero. Como eu queria que aquilo tudo acabasse rapidamente, comprei o maldito livro para realizar a atividade.
Contudo, por ser uma universidade, eu poderia ter tomado outra atitude – ter denunciado, enfrentado o zero ou outra situação. Afinal, era um absurdo realizar uma atividade com uma obra tão repugnante e que não tinha nada a ver com o curso. Mas eu era muito jovem – 20 anos – e ainda morava com meus pais. Tudo o que eu não queria era criar uma celeuma. Porém, se eu tivesse a cabeça que tenho hoje, alguma atitude teria tomado.
Agora, chamo o leitor para uma reflexão: se eu, com 20 anos em uma universidade PARTICULAR (era bolsista do Enem) me senti constrangida a ler algo tão abjeto, imagine uma criança de cinco, seis ou sete anos de idade, que não sabe se defender?
O livro “O avesso da pele”, escrito por Jeferson Tenório, foi o vencedor do prêmio Jabuti Edição 2021. A obra foi selecionada para compor o Programa Nacional do Livro Didático (PNLD) em 2022. A portaria que oficializou a decisão foi assinada por Gilson Passos de Oliveira, à época vinculado à Secretaria de Educação Básica do Ministério da Educação.
O livro conta a história de Pedro, que, após a morte do pai, assassinado numa desastrosa abordagem policial, sai em busca de resgatar o passado da família e refazer os caminhos paternos. Ah, se fosse só isso…
Creio que Machado de Assis seria acometido de uma síncope se tivesse contato com este livro; não me refiro à pobreza da linguagem que, infelizmente, acomete a maioria dos escritores. Há algo de pior e mais baixo – e que está à disposição das crianças.
Um dos trechos da obra faz uma referência explícita ao tamanho da genitália masculina. Em outro trecho, é narrada uma relação sexual: “Vem, minha branquinha. Vem, meu negão. Chupa a tua branquinha. Chupa o teu nego. Adoro a tua pele branquinha. Adoro a tua pele, meu nego. Adoro tua b… branca. Adoro teu p… preto”.
Outro trecho mostra enfileira grosserias de forma gratuita: “Pegando uma lata de cerveja, ele deu uma boa olhada na minha mãe e perguntou onde ela havia aprendido aquilo. Aprendido o quê?, ela quis saber. Aprendido a trepar como uma p…, ele disse. Porque nunca vi uma moça virgem gemer daquele jeito na cama, mexer daquele jeito, onde você aprendeu isso, sua piranha?”.
Também tem referências diretas ao consumo de drogas. “Alguns iam nadar no rio, outros na cachoeira, e havia ainda os que buscavam diversão num baseado ou em cocaína”
O leitor consegue imaginar uma criança lendo isso?
Para a mídia (progressista) de massa, a obra foi “vítima de censura” após alguns governadores determinarem o recolhimento dos exemplares das escolas; para os ditos “especialistas de ar condicionado”, houve uma “reação equivocada” ao conteúdo do livro.
Aliás, darei espaço para este trecho da matéria do G1:
“Especialistas ouvidas pelo g1 afirmam que a justificativa apresentada pelos governos do Mato Grosso do Sul, de Goiáse do Paraná para recolher os exemplares do livro “O Avesso da Pele” das escolas públicas é falha, fraca e escorada no racismo, repetindo procedimento de censura típico dos anos da Ditadura Militar.”
E mais:
“Me parece uma decisão baseada em um gosto pessoal, de alguém que não gostou da obra e automaticamente acha que as outras pessoas nem deveriam ter acesso a ela”, afirma a professora Carla Risso, da Universidade Federal da Bahia (UFBA) e integrante do Observatório de Comunicação, Liberdade de Expressão e Censura (Obcom) da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP).
Ou seja, para estes “especialistas”, poupar nossos filhos de serem expostos a um material familiar ao pornográfico é perpetuar o racismo e reavivar a censura do regime militar. São estes que diem que homeschooling perpetua o racismo, o elitismo e também alegam que os filhos não são nossos, mas propriedade do Estado.
Há pessoas que possuem talento para escrever contos eróticos e cada um que utilize o livre-arbítrio dado por Deus da forma que lhe aprouver. Mas jamais se deve normalizar que este tipo de conteúdo seja apropriado para menores. Não se pode, com a desculpa esfarrapara de combater racismo ou algo que o valha, permitir que menores tenham acesso a algo tão escabroso.
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