As denúncias de gastos considerados abusivos da presidência da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) trouxeram ao futebol brasileiro um clima de medo. Depois que reportagem da revista Piauíintitulada “As extravagâncias sem fim da CBF”, foi publicada, críticas à atual gestão ficaram ainda mais intensas.
A situação, de acordo com matéria do portal UOL, gerou a suspensão dos jornalistas Dimas Coppede, Gian Oddi, Paulo Calçade, Pedro Ivo Almeida, Victor Birner e William Tavares, do canal esportivo ESPN. No mesmo dia, pela TV Bandeirantes, o apresentador Galvão Bueno, no programa Galvão e Amigospediu investigação do Ministério Público sobre as denúncias contra a CBF.
A própria matéria do site da ESPN, a respeito das denúncias contra o presidente da CBF, Ednaldo Rodrigues, não está mais no ar.
Entidades representativas dos jornalistas, procuradas por Oestepreferiram não se manifestar a respeito do ocorrido. Um profissional ligado a uma entidade de jornalistas, que pediu para não ter seu nome revelado, afirmou que o caso foi uma forma de censura.
“Considero que este episódio (é ESPN) fere o conceito de liberdade de expressão e vejo que isto é algo presente na grande maioria dos veículos”, afirmou. “Baseio-me nos fatos que foram divulgados, nos quais os jornalistas fazem o programa, falam e no dia seguinte são afastados. Logicamente não é coincidência.”
O motivo do afastamento teria sido a série de críticas dos jornalistas à gestão da CBF, com base nas informações da reportagem da Piauí. A CBF, por meio da agência PEAK, contratada da Liga Forte União, negociou os direitos de transmissão do Brasileirão Série B deste ano com a ESPN, que transmite os jogos.
Segundo o UOL, as falas dos jornalistas, durante o programa Linha de Passefizeram a cúpula da emissora ser procurada pela direção da confederação para discutir o conteúdo.
O programa ainda trouxe um áudio em que o presidente licenciado da Federação Amapaense de Futebol, Roberto Góes, pede que Ednaldo prolongue a estada paga do amapaense e de sua mulher em São Paulo, em função de uma cirurgia pela qual ela iria passar. Filiado ao União Brasil, Góes é deputado estadual e vice-presidente na gestão de Rodrigues.
Segundo o UOL a diretoria da ESPN se irritou ao não ter sido comunicada previamente sobre o conteúdo que iria ao ar. A emissora ainda não se pronunciou oficialmente sobre o tema.
Os jornalistas foram afastados dos dois programas seguintes e, segundo informação de Gian Oddi nas redes sociais, irão retornar nesta quinta-feira, 10, com liberdade para darem suas opiniões. Oddi disse que a ESPN argumentou que processos não foram seguidos durante o programa.
“Volto ao Linha de Passe na quinta-feira, não só eu, como também os meus colegas”, disse Oddi. “Sinceramente, se eu volto é porque eu tenho a consciência de que a gente vai poder continuar falando as coisas da maneira como a gente sempre falou, com a liberdade que eu sempre tive desde que eu entrei na ESPN há mais de 15 anos, contratado pelo José Trajano.”

UM CBFpor meio de nota, negou qualquer interferência, com a afirmação de que “respeita a liberdade de imprensa com responsabilidade e não pede interferências de nenhum tipo na linha editorial de veículos de comunicação”. A entidade vê má-intenção neste tipo de acusação. “Qualquer narrativa diferente desta é mentirosa e leviana.”
O programa é ESPN
No dia 12 de março, o ex-atacante Ronaldo Nazário desistiu de sua candidatura à presidência da CBF. Nas redes sociais, alegou que não recebeu apoio das federações estaduais e que sequer conseguiu apresentar seu projeto ao colégio eleitoral da confederação. Ele fez críticas ao atual sistema.
No dia 24 de março, Ednaldo Rodrigues foi reeleito por aclamação na CBF, com 100% dos votos no colégio eleitoral, para um mandato que vai até 2030.
A reportagem da Piauí afirmou que, em 2023, último ano de balanço disponível, a receita líquida da CBF passou de R$ 1 bilhão.
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A revista acusou Ednaldo de — entre outros gastos extravagantes, como viagens pagas para familiares, políticos e autoridades, em hotéis de luxo — ter aumentado o pagamento da CBF aos presidentes das federações estaduais.
“Até 2021, cada presidente de federação ganhava R$ 50 mil”, relatou a reportagem. “Quando assumiu a CBF, Rodrigues deu belos reajustes nos contracheques da cartolagem, tanto que, hoje, um presidente de federação ganha R$ 215 mil, com direito a décimo sexto salário.”