O que parecia impossível há quatro anos tornou-se realidade no dia 20 de janeiro de 2025. Assim como uma fênix que ressurge das cinzas, Donald Trump retorna à ribalta mundial que o cargo de presidente dos Estados Unidos da América impõe ao ocupante da Casa Branca. E, junto com Trump, vem a nova política de energia do país. Como um de seus primeiros atos, o novo presidente declarou “emergência energética nacional”, com o objetivo de ampliar a produção norte-americana de petróleo e gás natural para ajudar a reduzir a inflação, que permanece persistentemente alta. A medida inclui a permissão para novas perfurações para extração de petróleo no Alasca e no Oceano Ártico, áreas que, de certa forma, haviam sido proibidas no final da gestão Biden, por pressão de grupos ambientalistas, por meio de uma ordem executiva.
A energia é um dos principais componentes do CPI (Índice de Preços ao Consumidor, na sigla em inglês) e do PCE (Índice de Despesas de Consumo Pessoal), indicador usado pelo FED (Federal Reserve, o Banco Central dos Estados Unidos) para balizar a política monetária do país, o que justifica a preocupação de Trump. Como é sabido, a inflação foi um problema que acompanhou a gestão Biden ao longo de seu mandato, além de outras fraquezas na condução da maior economia do mundo.
Em 2023, o agora ex-presidente chegou a assinar a lei do Inflation ReductionAct (IRA), uma política pública destinada a atenuar a escalada da inflação no país, com previsão de investimentos “verdes” para ampliação da oferta interna, fomentando a produção de energia, o aumento da capacidade industrial, a aquisição de suprimentos críticos e a realização de pesquisas e desenvolvimento de tecnologias. Os investimentos previstos totalizavam aproximadamente US$ 500 bilhões, distribuídos entre subsídios, redução de taxas e subvenções.
Como ocorre com toda grande política imposta de cima para baixo por um governo central, que busca forçar um redirecionamento total de forças econômicas já estabelecidas, pode-se afirmar que o objetivo proposto não foi plenamente alcançado. Assim, Trump, na esteira das ordens executivas, também determinou a suspensão dos desembolsos ao programa de energia verde.
Os Estados Unidos já são, hoje, o maior produtor de petróleo e gás do mundo, respondendo por cerca de 19% do total global, além de abrigarem cerca de 40% da nova capacidade de exportação de gás natural liquefeito (GNL), que deve chegar ao mercado na segunda metade da década
Esses são pontos audaciosos na nova política de energia ensaiada pelo governo de Trump. De fato, estamos em uma nova era. Com o advento dos modelos de inteligência artificial (IA), a demanda por energia crescerá exponencialmente. Segundo estudo da consultoria McKinsey, com o avanço acelerado da IA e a massificação de serviços baseados em nuvem, a demanda global por data centers triplicará em menos de uma década.
Estudos da International Energy Agency (IEA) estimam que esses centros representem cerca de 1% a 2% do consumo global de eletricidade, cifra que ainda deve crescer consideravelmente nos próximos anos. No Brasil, por exemplo, essa tendência é corroborada pelo Ministério de Minas e Energia (MME), que já identificou um crescimento acelerado na demanda de energia elétrica para projetos de data centers. Os pedidos de conexão para este segmento indicam uma demanda que pode alcançar 9 GW até 2035. Para efeito de comparação, a Usina de Itaipu Binacional, nossa maior usina e a segunda maior do mundo, atrás apenas da chinesa Três Gargantas, tem capacidade instalada de 14 GW.
Diante disso, para assegurar a liderança na corrida tecnológica da inteligência artificial, é essencial possuir a infraestrutura necessária para garantir a segurança energética que atenderá à crescente demanda. Investimentos em fontes energéticas seguras e de resposta rápida tornam-se fundamentais.
A exploração de gás natural não convencional, o chamado gás de xisto, que está entre as primeiras ordens executivas de incentivo à produção determinadas por Trump, foi o principal responsável pela independência energética dos Estados Unidos, tornando o país autossuficiente e exportador de energia. É nos Estados Unidos que se encontra a maior bacia de xisto do mundo, a Bacia Permiana, que abrange o Texas e o Novo México. O país desenvolveu, dominou e continua a evoluir a tecnologia de extração do gás contido nas rochas, aproveitando como poucos a geração de riqueza proporcionada por essa exploração.
Aproveitar as riquezas naturais da terra da melhor forma possível é condição essencial para assegurar a perenidade da prosperidade econômica. É visando essas soberanias – de energia e tecnológica – que o governo americano de Trump se baseará, pelo menos nos próximos quatro anos.
Os Estados Unidos já são, hoje, o maior produtor de petróleo e gás do mundo, respondendo por cerca de 19% do total global, além de abrigarem cerca de 40% da nova capacidade de exportação de gás natural liquefeito (GNL), que deve chegar ao mercado na segunda metade da década. No entanto, quando falamos de energia, quanto maior for a segurança baseada no aumento da produção, melhor será para garantir a estabilidade do abastecimento, assegurar respostas rápidas às demandas e promover o desenvolvimento econômico, além de reduzir os preços.
Ao fomentar a indústria de óleo e gás americana, Trump também enfrenta um desafio inerente às discussões do setor de energia: a pressão das ONGs ambientalistas e de ativistas climáticos, que, se pudessem, eliminariam todas as formas de combustível não renovável de uma hora para outra, colocando a sociedade em uma nova “idade da pedra”. Esses supostos defensores do clima, além de seus próprios interesses escusos, exerceram grande poder de influência sobre o fraco governo de Joe Biden. Contudo, agora sabem que o momento é outro, e que o republicano, conhecido por sua disposição para embates, está pronto para enfrentar mais essa batalha em defesa da soberania energética americana.
Wesley Reis é economista.
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