A Operação da Polícia Federalista – que resultou na prisão de militares por supostamente planejarem um golpe de Estado em seguida a eleição de 2022 – repercutiu de formas opostas entre representantes da direita e da esquerda nesta terça-feira (19). Parlamentares de oposição ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) classificaram a ação da PF uma vez que uma estratégia para desviar a atenção dos problemas enfrentados pela gestão federalista. As declarações feitas pelas redes sociais apontam para um suposto uso político das instituições.
Do outro lado, congressistas da base de Lula afirmaram que as relevações da Operação Contragolpe são graves e tentaram associar a investigação ao ex-presidente Jair Bolsonaro. Eles ainda defenderam que todos os envolvidos sejam punidos com rigor.
Segundo as investigações, o grupo pretendia chacinar o logo presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o vice Geraldo Alckmin (PSB) e o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federalista (STF). Quatro militares e um policial federalista foram presos.
Para o líder da oposição no Senado, senador Rogério Marítimo (PL-RN), o governo quer gerar narrativas para encobrir o que chamou de “desastre” da gestão petista.
“Já está cansativa essa narrativa de golpe, inflação, corrupção, deslumbramento, equívocos diplomáticos, apoio a ditaduras, dívida pública fora de controle, aparelhamento de estatais e fundos de pensão, ministros do STF fazendo análises políticas e prejulgamentos, inquéritos de ofício que não terminam, censura prévia… Enfim, é mais uma cortina de fumaça para encobrir o desastre desse desgoverno. Padrão PT”, escreveu Marítimo.
No mesmo tom, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) questionou a consistência das acusações feitas contra os investigados e ironizou o que chamou de “narrativa”.
“Quer dizer que, segundo a imprensa, um grupo de 5 pessoas tinha um plano [de militares] pra matar autoridades e, na sequência, eles criariam um “gabinete de crise” integrado por eles mesmos para dar ordens ao Brasil e todos cumpririam??? Por mais que seja repugnante pensar em matar alguém, isso não é crime. E para haver uma tentativa é preciso que sua execução seja interrompida por alguma situação alheia à vontade dos agentes. O que não parece ter ocorrido”, argumentou.
Flávio Bolsonaro também acusou a mídia de atuar com dois pesos e duas medidas ao tratar de ameaças contra Lula em conferência às que foram feitas ao ex-presidente Jair Bolsonaro. “Quando o alvo de ameaças muito mais reais era o Presidente @jairbolsonaro, o tratamento nas redações era: protesto, manifestação, polêmica. Mas agora a mídia bombardeia todos para acreditarem que estas mesmas instituições estão preocupadas com a vida de um presidente. Muito tarde para pôr esta narrativa goela abaixo. Está escancarado o que eles realmente desejam”, afirmou.
A deputada federalista Carla Zambelli (PL-SP), por sua vez, foi mais direta em sua sátira ao governo e às investigações: “Já não seguem a lei faz tempo. E pior é quererem ver a montagem de cortinas de fumaça para tentar ligar isso ao nosso Presidente. É repugnante”, comentou.
O deputado federalista Eduardo Bolsonaro (PL-SP) repetiu as críticas de Flávio Bolsonaro à prelo e opinou que as instituições estariam agindo com parcialidade.
Apesar das declarações dos parlamentares, outra segmento da oposição adota cautela sobre o tema. Indagado pela reportagem, em suplente, um parlamentar se limitou a responder: “me inclua fora dessa”.
Porquê os desdobramentos ainda estão sendo conhecimentos, a percepção de alguns oposicionistas é que se deve esperar o desenrolar das investigações relacionadas aos militares para que haja um posicionamento mais robusto.
Operação ocorre em momento em que governo é pressionado por falas de Janja
Já o deputado federalista Nikolas Ferreira (PL-MG) ironizou o vestuário de a Operação Contragolpe ocorrer no momento em que o Palácio do Planalto é pressionado por conta das declarações da primeira-dama, Rosângela Silva, a Janja, contra o bilionário Elon Musk. No sábado (16), durante o Cria G20, a socióloga xingou o empresário. “A Janja fez tanta mer** que tiveram que voltar com o tal golpe de estado”, disse o deputado no X.
O xingamento de Janja gerou possante repercussão nas redes sociais e na diplomacia brasileira, e colocou o governo em uma posição de atrito com Musk, horizonte superintendente do Departamento de Eficiência Governamental (DOGE) do presidente eleito dos EUA Donald Trump.
Em resposta, o possessor do X fez uma publicação rindo da situação e disse: eles vão perder a próxima eleição” – em referência à próxima eleição presidencial no Brasil, em 2026.
Na segunda-feira (18), a oposição se mobilizou para apresentar uma série de requerimentos que miram a primeira-dama.
O deputado Gustavo Gayer (PL-GO) apresentou três requerimentos: o primeiro pediu a aprovação de uma moção de repúdio contra Janja. Os outros dois solicitaram informações por segmento do Ministério das Relações Exteriores, o Itamaraty, acerca da “repercussão negativa” na diplomacia brasileira por conta da enunciação e em relação a diplomatas chineses supostamente terem informado à pasta de que não queriam a presença da primeira-dama nas agendas entre China e Brasil.
Outros dois pedidos para moções de repúdio à fala de Janja também foram apresentados, nesta segunda, pelos deputados Evair Vieira de Melo (PP-ES) e Zé Trovão (PL-SC).
Governistas associam investigações da PF a Bolsonaro
Aliados do Palácio do Planalto, por outro lado, aproveitaram a operação da PF contra os militares para associar a investigação ao ex-presidente Jair Bolsonaro. Secção das informações colhida pelos investigadores foi encontrada no computador do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens da Presidência.
“[Mauro Cid] era a pessoa que tinha a senha das contas pessoais do cartão do Bolsonaro”, afirmou o ministro da Secretaria de Informação da Presidência (Secom), Paulo Pimenta.
“Nós não estamos falando de figuras que estão longe de um núcleo de poder, [estamos falando de pessoas] que estavam dentro do Palácio do Planalto, o que leva essa investigação cada vez mais para a porta do gabinete do próprio Bolsonaro e [para] a proximidade que ele e as pessoas próximas a ele têm com todo o planejamento da tentativa de golpe que aconteceu no Brasil”, opinou o ministro da Secom.
Na mesma risco, o ministro do Desenvolvimento Agrário e Lavradio, Paulo Teixeira, afirmou que o caso ainda “precisava” chegar ao ex-presidente Bolsonaro. “É preciso chegar em quem estava no topo desse absurdo. Ainda falta um: Jair Bolsonaro”, escreveu o ministro na rede social X.
Coligado do governo, o presidente do Senado e do Congresso Vernáculo, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), defendeu que os militares sejam “punidos” no rigor da lei e condenou o suposto projecto golpista. “Não há espaço no Brasil para ações que atentam contra o regime democrático, e menos ainda, para quem planeja tirar a vida de quem quer que seja. Que a investigação alcance todos os envolvidos para que sejam julgados sob o rigor da lei”, disse Pacheco em nota.
Já a deputada Gleisi Hoffmann (PR), presidente vernáculo do PT, aproveitou a operação para tutorar que não haja anistia aos presos do 8 janeiro. O governo trabalha para que o projeto que trata sobre a anistia aos presos dos atos não avance na Câmara e no Senado.
“Foram reuniões conspiratórias, descrédito das urnas, desvio de dinheiro para organizar a ida de caravanas bolsonaristas para acampamentos em frente aos quartéis. Lembrem que os cinco são servidores públicos, com o conhecimento técnico-militar que aprenderam através do Estado, atentando contra a democracia e a vida”, disse a petista.
Já o deputado Guilherme Boulos (PSOL-SP) também afirmou o incidente aponta para “uma organização golpista muito bem articulada”. “Está na hora de ir detrás dos mandantes… A prisão do líder também é fundamental e urgente”, afirmou Boulos.