O presidente interino da Síria, Ahmad Sharaa, fez um pedido por “unidade nacional” e “paz civil” no terceiro dia de confronto entre as forças de segurança do país e os apoiadores do ditador deposto Bashar Assad. Em dois dias, o conflito interno já deixou mais de mil mortos. As vítimas são principalmente alauítas, uma minoria étnico-religiosa apoiadora de Assad.
“O que está acontecendo no país são desafios que eram previsíveis”, declarou Sharaa durante discurso em uma mesquita de Damasco. O atual presidente liderou a coalizão islâmica que derrubou Assad.
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Os alauítas são uma minoria xiita que apoiava o ditador Bashar al-Assad, deposto em dezembro. O grupo que assumiu o poder é sunita e é acusado de promover uma “limpeza étnica sistemática”. Sharaa continuou afirmando que é preciso “preservar a unidade nacional, a paz civil, tanto quanto possível e, se Deus quiser, seremos capazes de viver juntos neste país”.

Organização fala em perseguição
O Observatório Sírio para os Direitos Humanos, um monitor de guerra baseado no Reino Unido, afirmou no sábado 8 que os dois dias de combates na região costeira do Mediterrâneo representaram alguns dos episódios de violência mais graves em anos no conflito civil que já dura 13 anos.
Os confrontos continuaram durante a noite em várias cidades, onde grupos armados dispararam contra as forças de segurança e emboscaram veículos em rodovias que levam às principais cidades da região costeira, disse uma fonte de segurança síria à Reuters neste domingo.
Organizações de direitos humanos denunciaram o assassinato de centenas de civis da minoria alauíta pelas forças de segurança do novo governo da Síria. A Federação de Alauítas na Europa diz que há “limpeza étnica sistemática” na região.
A versão do governo
Segundo o governo sírio, o Exército fazia uma operação na região de Latakia, quando teria sido atacado. A ofensiva seria um levante de forças ligadas ao antigo regime do ditador Bashar Assad.
Os alauítas negam essa versão do governo, dizendo que têm sido alvo de perseguição dos sunitas radicais que tomaram o poder em dezembro passado e que são vistos por esses radicais como “hereges”.
A Síria é majoritariamente sunita, mas foi governada por cinco décadas pela família Assad, que segue a linha alauíta. Bashar al-Assad ficou no poder por 24 anos até ser deposto por integrantes do HTS, um dos grupos que lutavam na longa guerra civil do país.
Na sexta, o ex-comandante do HTS e hoje presidente da Síria, Ahmed al-Sharaa, disse: “Vamos continuar a perseguir os remanescentes do regime que querem continuar a opressão e tirania, aqueles que cometeram crimes contra a população e ameaçam a segurança e a paz. Eles serão submetidos a julgamento”.
Quem governa a Síria?
O grupo Hayat Tahrir al-Sham, cujo nome significa Organização para a Libertação do Levante, foi a principal milícia rebelde à frente da ofensiva que derrubou rapidamente o ditador Bashar Assad. Agora, a organização está liderando um processo de transição para um novo governo sírio.
O líder rebelde Mohammed al-Bashir, afiliado ao Hayat Tahrir al-Sham, foi nomeado primeiro-ministro interino até 1º de março. Ele serviu anteriormente como chefe do governo em Idlib, um território controlado pelos rebeldes no noroeste.
O histórico do Hayat Tahrir al-Sham em Idlib pode oferecer algumas pistas sobre como o grupo deverá controlar um território muito maior. A organização manteve uma força de segurança interna robusta para confrontar outras facções militares e críticos internos, provocando protestos regulares contra seus métodos autoritários e as duras condições em suas prisões.


A aliança governista afirmou que concederá anistia a funcionários do governo e soldados de escalão inferior, mas prometeu caçar e punir funcionários de alta hierarquia do regime anterior envolvidos em torturas e outros abusos.
“Não vamos deixar de responsabilizar criminosos, assassinos, autoridades de segurança e militares envolvidos na tortura do povo sírio”, disse Al-Shara, o líder do movimento rebelde, que era conhecido anteriormente pelo nome de guerra Abu Mohammad al-Jolani.
A Hayat Tahrir al-Sham foi afiliada da Al-Qaeda e rompeu com a rede terrorista internacional anos atrás, passando a dominar Idlib, o último reduto da oposição da Síria durante a guerra civil de 13 anos.
Redação OesteAssim, com informações da Agência Estado