A Rua dos Protestantes, principal ponto de venda de drogas no centro antigo de São Paulo – que faz parte da região conhecida como Cracolância – amanheceu vazia na terça-feira (13).
Para surpresa de parte da imprensa e de políticos, as forças de segurança do estado e do município em conjunto com diversos órgãos realizaram uma operação para remover os usuários do local com o objetivo de “estrangular” o tráfico.
No início da manhã, durante uma entrevista à rádio Massa FMo governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), disse que o crime organizado usa o fluxo de usuários de acordo com a sua conveniência para manipular o mercado imobiliário.
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“Você tinha uma lógica do crime organizado operar o fluxo de acordo com a sua conveniência mobiliária. Joga o fluxo para cá, abaixa o preço dos imóveis e compra tudo. Compra uma série de negócios e, a partir deles, vai lavando dinheiro. Compram pousadas e restaurantes que viram pontos de receptação de produtos roubados e vendas de drogas”, disse o governador.
Em uma publicação nas redes sociais, Tarcísio disse que o seu governo está fazendo o que “ninguém teve coragem de fazer” e que a “Cracolândia vai acabar”.
O secretário de Segurança do estado de São Paulo, Guilherme Derrite, comemorou a operação e disse que as principais lideranças do tráfico de drogas no centro de São Paulo foram presas.
“Desmascaramos pensões e hotéis que serviam de pontos de distribuição de entorpecentes e para lavagem de dinheiro do PCC, que explorava o vício de dependentes químicos. A droga parou de chegar, fazendo com que o centro de São Paulo deixasse de ser um ponto interessante para a criminalidade”, afirmou o secretário.
“Estamos no caminho certo para trazer dignidade novamente para essa região e o segredo é a integração com outras ações do governo, como saúde e assistência social”, completou.
O vice-prefeito associou o agravamento da situação a políticas implementadas durante a gestão de Fernando Haddad
De acordo com as informações, a ação de esvaziamento da Cracolândia, na Rua dos Protestantes, contou com o auxílio da Guarda Civil Metropolitana (GCM), que segue no apoio para impedir o retorno dos usuários ao local.
O vice-prefeito de São Paulo, Coronel Mello Araújo (PL), esteve no local e agradeceu a atuação dos agentes da GCM.
Em suas redes sociais, Araújo elogiou o trabalho das equipes de saúde, assistência social, segurança pública, Polícia Militar, subprefeitura, bombeiros, limpeza e Secretaria de Desenvolvimento e Trabalho.
“Parabéns a todos. Nossa função é ouvir quem está no dia a dia dos dependentes, familiares a todos os órgãos e equipamentos envolvidos. A luta não acabou, não estamos iludidos, mas estamos no caminho certo”, disse Araújo.
O vice-prefeito tem repetido que, na sua visão, o problema da Cracolândia foi agravado a partir de um programa criado pela prefeitura, em 2014, chamado “São Paulo de braços abertos”, que acabou ficando conhecido como “bolsa crack”.
O programa, lançado durante a gestão do então prefeito Fernando Haddad (PT), se baseava na ideia de “redução de danos”, que propõe uma “dosagem segura” das drogas até que o usuário consiga largar o vício.
Destino dos usuários é incerto
De acordo com jornais, pequenos grupos de usuários de drogas foram vistos em diversos pontos da cidade após a operação na Cracolândia.
Em entrevista à CNN Brasil, nesta quarta-feira (14), o prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), mostrou incômodo com as críticas a respeito do paradeiro dos usuários.
Nunes citou diversos locais com atendimento especializado que os usuários podem procurar ajuda, mas não confirmou ações de monitoramento das pessoas removidas da Cracolândia.
Segundo o prefeito, parlamentares do PSOL e parte da imprensa estão tentando criar problemas em vez de comemorar o resultado da ação na Cracolândia.
É que o PSOL ingressou no Supremo Tribunal Federal (STF) com uma ação pedindo a demolição de um muro construído pela prefeitura em um dos lados da rua onde funcionava a Cracolândia. O PSOL acusou a prefeitura de segregação. A ação foi rejeitada, no mês passado, pelo ministro Alexandre de Moraes.
Segundo Nunes, na terça pela manhã, menos de 50 usuários estavam no local quando os agentes de segurança chegaram para realizar a operação.
O prefeito afirmou que esse pequeno número de usuários já era resultado de outras ações adotadas no sentido de coibir a venda e o consumo de drogas no local.
Entidade acusa governos municipal e estadual de “tortura”
Ao comentar sobre a ação na rua dos Protestantes, a Craco resisteentidade favorável à legalização das drogas, disse que o prefeito Ricardo Nunes e o governador Tarcísio de Freitas estão agindo com truculência.
“O que está acontecendo nas ruas do centro de São Paulo chama-se tortura! Tortura a céu aberto, protagonizada pelo poder público e custeada por toda a população. Foram as diversas formas de violência que levaram as pessoas à Cracolândia e não vai ser a pancada que vai tirá-las de lá. Isto já foi tentado, já se sabe ineficaz, cruel e muito caro aos cofres públicos”, disse o movimento em um comunicado nas redes sociais..
“A política não é nova, remete à ‘Operação Dor e Sofrimento’ posta em prática em 2012 pela gestão do prefeito Gilberto Kassab. À época, a polícia era orientada a impedir que as pessoas permanecessem nas calçadas e provocou a formação do que parte da imprensa chamava de ‘procissões do crack’, vagando pelas ruas empurradas pelas patrulhas e viaturas”, diz outro trecho do comunicado.