Neste sábado, 14, o Parlamento da Coreia do Sul aprovou o impeachment do presidente Yoon Suk Yeol (Partido do Poder Popular). Os parlamentares confirmaram a decisão com 204 votos em prol e 85 contra, número que superou a exigência de 200 votos dos 300 possíveis.
Com isso, Han Duck-soo, atual primeiro-ministro e indicado por Yoon, assumiu a presidência interina, conforme estipulado pela Constituição sul-coreana.
+ Leia mais notícias do Mundo em Oeste
O Tribunal Constitucional tem um período de 60 dias para sentenciar se Yoon será permanentemente removido do missão. Se a destituição for confirmada, novas eleições presidenciais deverão ser convocadas. Yoon Suk Yeol enfrenta agora uma investigação criminal e está sob restrição de deixar o território pátrio.
Por que o presidente da Coreia do Sul virou meta de impeachment
Confira:
Ó impeachment ocorreu depois de Yoon estatuir e revogar a Lei Marcial em um pequeno espaço de tempo. Em 3 de dezembro, Yoon justificou a imposição da lei ao alegar a premência de proteger o país de forças comunistas.
O cenário político estava tenso, em virtude das negociações sobre o orçamento do ano seguinte entre o partido de Yoon e o Partido Democrático, principal força de oposição. Durante a vigência da Lei Marcial, as atividades políticas foram severamente limitadas.

“Todas as atividades políticas, incluindo as da Assembleia Nacional, dos conselhos locais, dos partidos políticos e das associações políticas, bem como assembleias e manifestações, são estritamente proibidas”, informava um expedido solene. Aliás, a mídia sofreu controle rigoroso durante o período.
O Parlamento, em resposta, foi fechado. Mas, o presidente da Vivenda Legislativa convocou uma sessão de emergência para discutir o decreto presidencial. Com a presença de 190 dos 300 parlamentares, aprovou-se uma moção exigindo a suspensão imediata da Lei Marcial. Esse movimento foi crucial para o processo de impeachment que se seguiu.
Yoon está em cenário desfavorável
O cenário para Yoon, que já não era favorável, tornou-se de isolamento político diante da rota da tentativa de Lei Marcial. Conforme a descrição de Alexandre Uehara, coordenador do núcleo de estudos em negócios asiáticos da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM) de São Paulo, “o Parlamento já era opositor, a popularidade entre a população não chegava a 20%, e agora seus próprios ministros estão renunciando aos cargos”.
Dessa forma, o profissional diz ser pouco provável que o presidente permaneça no missão. Uehara aposta em um aumento da pressão por um processo de impeachment contra Yoon, mas não descarta a chance de repúdio.
A projeção é a mesma feita pelo coronel Fernando Montenegro, professor da Autonoma Academy em Lisboa. “Provavelmente, Yoon deverá renunciar ao cargo ou ficar fragilizado politicamente, e a instabilidade interna deverá se agravar na Coreia do Sul.”


Política sul-coreana
Eleito em 2022, Yoon Suk Yoel venceu por margem apertada e enfrenta possante oposição no Parlamento desde logo, explicou Uehara. O presidente, portanto, não tem conseguido implantar políticas e leis de seu projecto de governo.
Além da fragilidade política, pesam ainda acusações de prevaricação contra a mulher de Yoon. “Então, já havia ali no cenário uma possibilidade de ação de impeachment contra ele, em função dessa situação toda”, diz Uehara. Foi tal contexto que influenciou o presidente sul-coreano a estatuir Lei Marcial.
No entanto, a tentativa fracassou devido à resistência dupla: do Parlamento e da população. Apesar de a Lei Marcial estar prevista na constituição da Coreia do Sul, ela só é aplicável quando de traje há uma situação de prenúncio externa, de “exceção claramente colocada”, segundo o professor da ESPM.
Yoon justificou o decreto com a alegado de que há uma aproximação de políticos sul-coreanos com a Coreia do Setentrião. O argumento, de conciliação com Uehara, é frágil.
“É muito difícil de imaginar que alguém do Parlamento ali de fato estivesse se alinhando com a política da Coreia do Norte”, afirma o professor. “Não vejo que exista uma admiração por políticos da Coreia do Sul com relação à Coreia do Norte, em particular quanto ao Kim Jong-un.”
Desdobramentos para a geopolítica global
Além do contexto sul-coreano isoladamente, Montenegro vislumbra novas tensões no Extremo Oriente diante do início do procuração presidencial de Donald Trump, nos Estados Unidos. “Tudo indica que a decretação da lei marcial na Coreia do Sul está intimamente conectada com a geopolítica internacional.”


Ele explica que, com a invasão da Ucrânia pela Rússia em 2022, a formação de blocos de países com interesses comuns se acelerou. Porquê o consumo de recursos de diferentes matizes é premência permanente para todos os lados de uma guerra, diz o coronel, “russos, chineses, iranianos e norte-coreanos aproximaram-se para fazer frente aos europeus, australianos, norte-americanos e israelenses”.
Dessa forma, o presidente da Rússia, Vladimir Putin, começou a se aproximar da Coreia do Setentrião. O objetivo inicial, de compartilhamento de armas e munições, logo passou a abranger tropas militares.


Em contrapartida, o presidente sul-coreano entendeu que seria interessante concordar militarmente a Ucrânia, explica Montenegro. No entanto, o atual governo dos Estados Unidos, do democrata Joe Biden, vetou a teoria.
“Tudo isso ocorre num ambiente interno de disputa de poder em que Yoon Suk Yeol, presidente conservador, acusa a oposição de traição por colaboração com a Coreia do Norte para gerar o caos na Coreia do Sul”, diz Montenegro. Assim, de conciliação com ele, as implicações da crise política sul-coreana podem ser maiores que o contexto sítio permite mensurar.