O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) anunciou nesta segunda (12) que fechou um plano de investimentos da China no Brasil na ordem de R$ 27 bilhões. O montante será investido por empresas chinesas em áreas como tecnologia, comunicação, saúde, energias limpas, agronegócio, entre outras.
O anúncio foi feito ao final de um fórum empresarial realizado em Pequim, onde uma grande comitiva brasileira de empresários e ministros está sendo liderada por Lula.
“Frente ao ressurgimento de tendências protecionistas, apostamos na redução das barreiras comerciais e queremos mais integração”, disse o presidente, referindo-se ao “tarifaço” imposto pelo presidente norte-americano, Donald Trump.
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Lula emendou dizendo não se conformar com a taxação de Trump “do dia pra noite”, afirmando que o “multilateralismo, depois da Segunda Guerra Mundial, foi o que garantiu todos esses anos de harmonia entre os Estados, não foi o protecionismo”.
Segundo o presidente, a parceria entre o Brasil e a China tem um “potencial inesgotável”, tendo crescido 30 vezes entre os anos de 2003 e 2025. O país se tornou o principal investidor asiático, com um estoque monetário de US$ 54 bilhões.
Ele ainda aproveitou para fazer propaganda do seu terceiro mandato, dizendo que o governo liderado por ele “recuperou a capacidade industrial brasileira, implantou medidas de modernização regulatória e incentivos à inovação e parcerias público-privadas”.
“O Brasil é um país que hoje garante estabilidade fiscal, econômica, jurídica, política e social aos investidores”, pontuou, ignorando preocupações do mercado sobre a situação fiscal do Brasil. Ele também mencionou que, depois de 2010, o país só voltou a crescer acima de 3% em seu mandato atual, deixando de mencionar a crise econômica que permeou o governo da ex-presidente Dilma Rousseff (PT).
De acordo com ele, as negociações com o governo de Xi Jinping começaram em novembro do ano passado, resultando em parcerias bilaterais em áreas como tecnologia e inteligência artificial; comunicação; saúde, medicamentos, vacinas, insumo farmacêutico ativo e equipamentos médicos; energias limpas; refino de metais críticos com transferência de tecnologia para a produção de baterias elétricas; mineração de terras raras como nióbio, lítio, cobalto, cobre, grafite, urânio e tório; transição energética; combustível sustentável de aviação e hidrogênio verde; agronegócio; entre outras.
Lula ainda citou as possibilidades de cooperação na área de infraestrutura, principalmente ferroviária, como o corredor Leste-Oeste, as rotas bioceânicas e as cinco de integração da América do Sul. Na semana passada, a ministra Simone Tebet, do Planejamento e Orçamento, afirmou que os chineses querem “rasgar” o Brasil com ferrovias.
“A China tem boa expectativa no futuro do desenvolvimento do Brasil, está comprometida a trabalhar junto com o Brasil para fazer bom uso da sinergia das estratégias para reforçar a colaboração nas áreas como finanças, infraestrutura, cadeia industrial, inteligência artificial, economia digital, saúde, agrícola inteligente e biotecnologia”, disse Gao Yunlong, vice-presidente da Conferência Consultiva Política do Povo Chinês.
Afago à China e ao agronegócio brasileiro
No mesmo discurso, Lula fez um afago à China e criticou países ricos, afirmando que eles teriam esquecido de nações em desenvolvimento principalmente após a Segunda Guerra Mundial.
“A China tem sido tratada, muitas vezes, como se fosse uma inimiga do comércio mundial, quando, na verdade, está se comportando como um exemplo de país que está tentando fazer negócio com os países que foram esquecidos durante os últimos 30 anos por muitos outros países”, disparou citando a União Europeia e outros “países grandes” que teriam deixado de investir na América Latina e na África.
Lula ainda criticou as afirmações de que o Brasil exporta mais matéria-prima do que produtos manufaturados, dizendo que isso ocorre por conta do que teriam sido anos de descaso com a educação no país. Ele comparou o cenário com a própria China, que deu um salto tecnológico nas últimas décadas.
Também defendeu as exportações do agronegócio, citando a alta tecnologia empregada no desenvolvimento de variedades mais produtivas de grãos e proteínas.
“Pra gente não se sentir inferior porque só estamos exportando agronegócio. Nós temos que exportar agronegócio e utilizar o dinheiro que entra no Brasil para investir em educação para podermos ser competitivos com a China na produção de carros elétricos, de baterias, de inteligência artificial. Ninguém vai dar isso de graça para o Brasil”, completou.
Ele emendou afirmando que “se depender do meu governo, da minha disposição, Brasil e China serão parceiros incontornáveis. A nossa relação será indestrutível, porque a China precisa do Brasil e o Brasil precisa da China”.
“E nós dois juntos poderemos fazer com que o Sul Global seja respeitado no mundo como nunca foi”, finalizou. Ele deve se encontrar com o presidente chinês nesta terça (13).