E não é que os turistas “desceram para BC”, como previu aquela música que fez sucesso no final do ano? O hit refere-se ao município de Balneário Camboriú e, ao que os números indicam, essa não era a única opção na cabeça do viajante nacional. Levantamento mais recente do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) evidencia a receita e o volume de atividades turísticas em 2024 nos estados da Bahia (16,6%); Santa Catarina (12,7%); Minas Gerais (12,7%); Pará (12,1%); Goiás (12%) e Paraná (11,3%).
As porcentagens se referem ao desempenho no chamado “índice de receita nominal das atividades turísticas”, que oferece uma comparação da variação acumulada de 2024 com a de 2023. Traduzindo esses números, a pesquisa indica que os seis locais citados foram os que apresentaram maior incremento de receita turística dentre as 17 unidades federativas consideradas no levantamento.
Enquanto alguns destinos permanecem consolidados na procura do turista, outros passam por interesse renovado. “Isso deve ser decorrência de alguns movimentos que ocorreram nas atividades turísticas ao longo de 2024. O Pará, por exemplo, vive uma expectativa com a COP-30 (Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2025)”, aponta Jefferson Mariano, analista socioeconômico do IBGE e doutor em desenvolvimento econômico pela Universidade Estadual de Campinas.
“Vale lembrar que algumas unidades da federação sempre têm destaque. A Bahia se sobressai, pois é um local de grande atração turística do país”, acrescenta ele.
Praia e religião
Realmente, é fácil pensar em como as praias do litoral baiano são uma concorrência forte para outros estados brasileiros. No entanto, ações concretas do governo estadual auxiliaram o sucesso na atração de turistas. Para Ana Carolina Medeiros, presidente do conselho da Abav (Associação Brasileira de Agências de Viagens), o segredo está na estratégia de divulgação dos destinos.
“Pará e Bahia, por exemplo, têm feito um trabalho muito forte, tanto com o Mtur (Ministério do Turismo) quanto com a Embratur (Agência Brasileira de Promoção Internacional do Turismo) para promover seus atrativos”, avalia ela. “A Bahia também vem investindo bastante na ampliação de voos, tanto nacionais quanto internacionais, e também na infraestrutura, qualificando profissionais e melhorando a experiência do visitante.”
Como destinos buscados dentro do Pará, Ana menciona o Alter do Chão; as Ilhas de Marajó; e a capital do estado, Belém, “principalmente na parte histórica e religiosa”. Um dos principais eventos da vida paraense é a celebração do Círio de Nazaré, evento marcado pela devoção a Nossa Senhora de Nazaré.
Considerada Patrimônio Cultural da Humanidade pela Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e a Cultura (Unesco) desde 2004, a manifestação de origem católica acontece no segundo domingo de outubro há 232 anos. Em 2024, segundo o MTur, a procissão atraiu cerca de 2 milhões de pessoas a Belém. Na época do evento, a Agência Pará, estatal de notícias, projetava uma atração de 89 mil turistas, o que injetaria US$ 34,5 milhões na economia local.
“Estes números permitem a melhora de nossas estratégias de políticas públicas no turismo e, ainda, o direcionamento do marketing turístico na atração de novos visitantes e reforço da imagem junto àqueles que já estiveram aqui e pretendem voltar”, defendeu Eduardo Costa, secretário de Turismo do Pará, em depoimento publicado duas semanas antes da celebração de 2024.
Para a representante da Abav, a biodiversidade local é outro ponto forte para chamar a atenção dos turistas. “O legal do Pará é que ele oferece essa experiência da floresta amazônica de um jeito acessível, sem precisar de grandes deslocamentos”, ressalta.
Cataratas e cerveja na fórmula do turismo
O Sul do Brasil também foi destaque na análise de Ana Carolina Medeiros, que comentou sobre os estados de Santa Catarina e Paraná. “Os estados apresentaram um crescimento expressivo, e o que a gente percebe é que a proximidade entre eles ajudou nesse movimento. Santa Catarina investiu muito na divulgação e atraiu bastante turista, principalmente estrangeiros, como os argentinos. E isso naturalmente refletiu no Paraná, que acabou absorvendo parte dessa demanda”, analisa.
Como destaque, o Paraná tem as Cataratas do Iguaçu, um dos principais destinos turísticos do Brasil, conforme ressalta Ana Carolina. O cartão-postal também é celebrado por Márcio Nunes, secretário de Turismo do Paraná.
“O Parque Nacional do Iguaçu (em Foz do Iguaçu), por exemplo, registrou mais de 1,8 milhão de turistas em 2024”, diz. Ele também aponta a criação do Viaje Paraná, serviço autônomo que atua na divulgação comercial do estado, como um triunfo.
Paraná se beneficiou do movimento de turistas no estado vizinho de Santa Catarina.
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“Empresários, profissionais da área e geradores de produtos do turismo estão sendo vistos, convidados a expor e mostrar seus serviços e produtos. E nós estamos fazendo a nossa parte, que é colocar esses serviços para fora do estado, convidando os turistas a conhecerem o que esses empresários e essas cidades têm a oferecer”, afirma Nunes.
Outra estratégia relembrada pelo secretário foi a criação de novos voos internacionais sem escalas. “Hoje temos voos diretos de Santiago (Chile), Lima (Peru), Assunção (Paraguai), Montevidéu (Uruguai) e também para Buenos Aires (Argentina)”, aponta. Para se ter ideia do efeito, do número total de estrangeiros que visitaram o Paraná no ano passado, 323.342 deles eram paraguaios.
Essa estratégia vai ao encontro da ideia defendida por Catiane Seif, que assumiu a Secretaria do Turismo de Santa Catarina em janeiro deste ano. “No ano de 2023, o governador Jorginho Mello criou a secretaria que, desde então, vem desempenhando um papel fundamental na promoção e divulgação do estado. No primeiro ano, foi desenvolvida uma nova identidade visual para Santa Catarina. Essa renovação trouxe também uma mudança de postura na participação de feiras e rodadas de negóciosposicionando o estado como um destino turístico de excelência.”
Em 2024, o estado bateu o recorde de R$ 4,5 bilhões na arrecadação com o turismo em janeiro. “Expandimos nossas rotas aéreas internacionais, com a inauguração de voos diretos para Panamá, Lisboa e Chile. Esse avanço refletiu-se no aumento expressivo da entrada de turistas estrangeiros, que registra um crescimento de 71%”, diz a secretária.
Segundo dados do MTur, Santa Catarina recebeu cerca de 495 mil estrangeiros em 2024, tornando-se o quarto estado com mais turistas de outro país, atrás de São Paulo, Rio de Janeiro e Paraná. Apesar de nova no cargo, Catiane compartilhou qual é sua missão para 2025.
A pasta se aproximará dos municípios catarinenses para “ajudá-los a identificar seus produtos turísticos e transformá-los em uma matriz econômica sustentável para cada região”, ampliando a divulgação das tradicionais festas de outubro, como a Oktoberfest de Blumenau, a Fenarreco De Brusque EA Surto de Itajaí.
Para crescer em 2024, o setor do turismo indica ter levado a ferro e fogo o velho ditado “a propaganda é a alma do negócio”. Ações de promoção e a criação de novas linhas aéreas, como é o caso de Santa Catarina e do Paraná, trazem resultados perceptíveis e devem seguir como tendência para os próximos anos.
Também não é difícil de imaginar que, dentre os 90,1 milhões de ouvintes da canção da dupla Brenno & Matheus no Spotifyalguém não tenha ficado com vontade de visitar alguma praia de Balneário Camboriú. No último réveillondados do MTur indicam que a cidade litorânea recebeu 2 milhões de turistas (o dobro de visitantes em relação à virada de 2023 para 2024). E aí cabe a pergunta: será que investir em novas músicas também pode virar estratégia dos governos?
