O escritor inglês Jon Savageafirmou na introdução da pesquisa A pesquisa milenarque os jovens são aqueles que decidirão se o futuro da humanidade será a destruição completa do planeta ou a construção de um novo mundo. Como base nesta afirmação, que mais uma vez reforça a premissa de que só surgirá um novo ponto de partida no dado momento em que os seres humanos repensarem suas escolhas, ficam alguns questionamentos: Por onde a escola está navegando neste oceano? Pretende atracar em algum porto?
Grande parte das pessoas que passam por ela, ao menos uma vez, costuma realizar a experiência da observação do crescimento do feijão em um algodão. Este, aliás, deveria ser o início de qualquer letramento ambiental: perceber que sem cuidado, a natureza morre. E em grande parte das instituições falta também o desejo de educar para transformar e impactar no planeta, e como a expressão dos anos 80 sabiamente diz, “thinking outside the box” (pensando fora da caixa), este ainda é um passo a ser dado .
Promover ações com as famílias dos alunos também é um meio poderoso de conscientizar e melhorar a vida das pessoas e chamar a responsabilidade para a comunidade
Para qualquer mudança consistente na formação da criança é preciso olhar para o plano curricular obrigatório, que no caso do Brasil é chamada de Base Nacional Curricular Nacional. Lá constam as diretrizes que norteiam o que deve ser ensinado. O grande problema é que quando o assunto é meio ambiente e sustentabilidade, os temas vêm de forma rasa.
Se de um lado a escola ainda não consegue avançar, do outro, na gestão das instituições, já é possível voltar os olhos para as práticas da ESG. O termo que surgiu em 2004 e reúne políticas consistentes de meio ambiente, responsabilidade social e governança torna possível criar e colocar novas práticas em prol da evolução interpessoal quanto na mudança de comportamento do ser humano com a natureza e o planeta. Ou seja, enquanto o não surgimento de políticas públicas consistentes teimam em empacar o desenvolvimento dos ODS (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável) estabelecidos pelo Pacto Global, as instituições podem pesquisar e desenvolver novos critérios para tornar a palavra sustentabilidade não somente um termo referência para o equilíbrio do meio ambiente, mas também tornar digna e efetiva a gestão da escola, bem como da comunidade que a cerca, melhorando a vida das pessoas em busca da preservação dos seus direitos.
A pesquisa será sempre uma palavra de exímia importância dentro da escola. A gestão pode começar a caminhada apostando na formação continuada da equipe, emancipando os saberes dos diferentes cargos e olhar para cada um dos colaboradores para que possam construir um olhar transformador ao repensar o cotidiano e o consumo. Novas práticas são necessárias, como exemplo diminuir o consumo do plástico e promover a conscientização de que o uso deste petroquímico é um dos maiores colaboradores na devastação do meio ambiente do planeta.
A ideia é que os colaboradores engajados passem a influenciar pessoas de seu convívio social, seja na família, na universidade ou em um grupo de amigos. Pensar localmente, agir globalmente: termo conhecido para ilustrar exatamente o parágrafo acima. Programas ambientais independentes também podem fazer parte do cotidiano da escola. Desde a compostagem dos resíduos orgânicos, ou no foco de campanhas que colaboram com a destinação correta de elementos como o óleo vegetal, tampinhas plásticas, esponjas, entre outras.
Promover ações com as famílias dos alunos também é um meio poderoso de conscientizar e melhorar a vida das pessoas e chamar a responsabilidade para a comunidade e o planeta. É como se o repensar das escolhas formasse uma corrente que tivesse a cada dia mais e mais mãos presas a ela, como uma cadeia ambiental: a gestão forma o professor e demais colaboradores, estes por sua vez colocam em prática com seus alunos, que atingem os seus responsáveis e então passarão a propagar as práticas em seus grupos sociais, trabalho, condomínio, entre outros.
A escola possui uma responsabilidade de transformar a vida das pessoas através da educação e este precisa ser em totalidade. Não pode limitar-se à educação formal, mas precisa ir além e ecoar suas inciativas e impactar tantas pessoas quanto for possível. Sendo assim, com isso precisa fazer jus ao seu propósito, precisa ser contundente, ética e boa para aqueles que nela convivem. A gestão escolar precisa olhar para cada um dos ODS de maneira particular e engajada e através da ESG, ensinar sobre eles, e sobretudo colocá-los em prática de maneira constante em busca de um novo mundo.
Carolina Paschoal, pedagoga e diretora da Escola Pedro Apóstolo.