O presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez ao menos 23 declarações controversas nos últimos dois meses. Foi exatamente nessa época, no fim de dezembro, que o marqueteiro Sidônio Pereira começou a exercer sua influência no governo, embora ele só tenha tomado posse como ministro da Secom no dia 14 de janeiro.
Sidônio assumiu a posição prometendo estratégias de comunicação para melhorar a avaliação pública do governo federal. O método, no entanto, parece ter tido efeito adverso. Levantamento feito pelo site Poder360 mostra que Lula nunca falou tanta bobagem em tão pouco tempo, sobretudo em relação à inflação descontrolada e ao aumento do preço da comida no país.
Leia o artigo “Exposto e decomposto”, de Alexandre Garcia, na Edição 257 da Revista Oeste
Em entrevista às rádios baianas Metrópole e Sociedade da Bahia, Lula sugeriu que uma forma de “controlar os preços” dos alimentos é a população evitar comprar produtos caros. “Se você vai ao supermercado em Salvador e você desconfia que tal produto está caro, você não compra”.
Lula defende ‘processo educacional’ da população sobre preço dos alimentos e sugere compra de “similares”.
“Eu não posso comprar aquilo que eu
acho que está sendo exagerado o preço. Eu compro amanhã, eu compro outra coisa, eu compro similar”, afirmou o presidente em entrevista… pic.twitter.com/egslwuhili– Metrópoles (@metropoles) 6 de fevereiro de 2025
A oposição reagiu rapidamente. Políticos como o deputado federal Gustavo Gayer (PL-GO) e os senadores Sérgio Moro (União Brasil-PR) e Flávio Bolsonaro (PL-RJ) usaram o X para criticar o presidente.
A dieta do ovo de ema de Lula
Confira:
Em 13 de fevereiro, durante evento de entrega de terras da União ao Amapá, Lula afirmou que mudou sua dieta e passou a consumir ovos de pata e ema por terem mais “sustância”.
Estou fascinado em como esse discurso do nosso presidente começou em “Inglaterra e França exploram petróleo na América do Sul” passou para “vou comer ovo de jabuti” e terminou com “vou abrir o ovo de ema, colocar açaí dentro e ver que gosto tem”.
Íntegra:
“É a Inglaterra que… pic.twitter.com/qtwdednyb2
– Sam Pancher (@sampancher) 14 de fevereiro de 2025
O deputado federal Kim Kataguiri (União Brasil-SP) anunciou que encaminhou uma representação à Procuradoria Geral da República (PGR) contra o presidente, alegando que a ingestão de ovos de ema configura “crime ambiental”.
Inflação e medidas fiscais
Em entrevista coletiva no Palácio do Planalto, Lula declarou que, se depender dele, “não haverá mais nenhuma medida fiscal”. No final, elogiou os jornalistas presentes e brincou que eles levariam uma bronca dos editores por terem sido “gentis”, acrescentando que gostaria de ser “apertado” em entrevistas.
Outro tema controverso foi a inflação. Em 5 de fevereiro, Lula afirmou que a taxa estava “razoavelmente controlada”. Entretanto, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) superou a meta de 3% e o teto de 4,5%. O Banco Central indicou que pode descumprir a meta em junho.
No dia seguinte, Lula defendeu a regulamentação da imprensa digital para impedir “canalhice” e a propagação de “mentiras todo santo dia”. A Secom enviou nota ao Poder360 afirmando que ele se referia às plataformas digitais, não à imprensa profissional.
Na mesma ocasião, Lula disse que o ex-presidente Jair Bolsonaro deixou o Brasil com um rombo nas contas públicas. No entanto, em 2022, o governo Bolsonaro teve superávit de R$ 54 bilhões (0,5% do PIB), enquanto sob Lula houve déficit de 2,1% em 2023 e de 0,4% em 2024.
Confusões e críticas sobre gestão
Em 12 de fevereiro, em entrevista à Rádio Diário FM, do Amapá, Lula criticou a demora do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) em liberar a exploração de petróleo na foz do Amazonas.
Segundo ele, o órgão não pode atuar contra o governo, já que faz parte da estrutura estatal. No mesmo dia, confundiu-se ao afirmar que a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP30) ocorrerá no Amapá, quando, na realidade, o evento será em Belém (PA) em novembro deste ano.
Mais bobagens de Lula: declarações sobre mulheres e economia geram repercussão
Durante evento no Amapá, em 13 de fevereiro, Lula mencionou os dentes de uma apoiadora, Maria Costa Jane, de 59 anos. Chamou a primeira-dama do Estado, Priscilla Flores, que é dentista, e pediu que ela ajudasse a mulher por meio do programa Brasil Sorridente.
“Como você é uma senhora de 50 anos, você não tem vergonha, você abre a boca, fala, não tem vergonha, mas não é correto”, disse à apoiadora. “Então deixa eu falar aqui com o governador. A senhora vai acertar com a primeira-dama, a senhora vai no Brasil Sorridente, vai tratar seus dentes, vai colocar uma prótese de qualidade para ficar mais bonita, poder sorrir e comer o que você quiser.”
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Na sequência, afirmou que as mulheres estão “ficando inteligentes e deixando de ser escravas de maridos”. Segundo ele, a maior inserção no mercado de trabalho permitiu que escolhessem suas carreiras.
Em Belém, em 14 de fevereiro, o presidente declarou que não se importaria em “dormir uma noite olhando para as estrelas” durante a COP30. A capital paraense, contudo, enfrenta dificuldades para acomodar as delegações internacionais que participarão do evento.
No evento de lançamento do Programa de Renovação da Frota Naval da Petrobras, Lula disse que não bebe gasolina, mas “outro álcool”, sugerindo o consumo de bebidas alcoólicas.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva declarou, nesta segunda-feira, 17, que não bebe gasolina, mas sim “outro álcool”. “Não como petróleo, não bebo gasolina, bebo outro álcool”, disse o petista. pic.twitter.com/9jkjrtc7fz
— Revista Oeste (@revistaoeste) 17 de fevereiro de 2025
Ele também cobrou que a estatal tome uma “atitude” para evitar que a população seja “assaltada” por intermediários da cadeia de produção de combustíveis. Como solução, defendeu a venda direta de diesel ao consumidor.