O Brasil tem uma oportunidade de aumentar a oferta de mantimentos orgânicos. É o que mostra uma pesquisa que revelou que a demanda por esse tipo de maná tem desenvolvido em ritmo maior do que a produção.
O estudo ‘Perfil da agricultura e dos mercados de orgânicos no Brasil’ mostra que as vendas desses produtos orgânicos quadruplicaram entre 2003 e 2017 e tiveram um incremento de 30% em 2020, movimentando muro de R$ 5,8 bilhões. Apesar do aumento, os brasileiros ainda compram muitos mantimentos orgânicos importados. E é aí que pode estar o indicativo de oportunidade para os agricultores.
Oportunidade para produzir mais orgânicos
As informações vêm de dados do Instituto Brasiliano de Geografia e Estatística (IBGE), do Ministério da Lavradio e Pecuária (Planta) e do Serviço de Esteio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae). Porém, os pesquisadores apontam a falta de dados mais precisos sobre a quantidade produzida.
“Temos poucos dados e pesquisas. Mas essas pesquisas que existem mostram que o consumo de orgânicos cresce entre 15 e 30% ao ano. E se a demanda sobe e o número de agricultores orgânicos não aumenta assim, então a pergunta que a gente faz é: de onde vem o produto orgânico que vem sendo consumido crescentemente no Brasil? Uma hipótese é que está vindo de fora do Brasil. Não é do agricultor pequeno na feira, que inclusive muitas vezes é mais barato”, apontou Marcio Gazolla, doutor em Desenvolvimento Rústico, professor da Universidade Tecnológica Federalista do Paraná (UTFPR) e um dos autores do estudo.
O mapeamento mostra que são 953 certificações de orgânicos para produtos importados, que vem de 23 países, segundo dados do Planta. Entre os estrangeiros, estão alguns produzidos tradicionalmente no exterior, mas há oportunidade para o Brasil produzir mais orgânicos em culturas porquê: mendubi, arroz, soja, tomate, milho, feijoeiro e óleo de oliva, entre outros mantimentos.

Enquanto o consumo cresceu 30% em 2020, as propriedades com lavradio orgânica são somente 1,28% no país. Desse totalidade, 30% estão concentradas na Região Sudeste. “As políticas públicas [de incentivo ao orgânico] deveriam se capilarizar e chegar nos produtores bem pequenos”, frisou Gazolla.
Os orgânicos do Espírito Santo
Hoje são, aproximadamente, 400 produtores regularizados no Espírito Santo de conciliação com o Cadastro Vernáculo de Produtores Orgânicos. Eles se encaixam em pelo menos um dos três tipos de regularização da produção orgânica, segundo o Planta:
- Certificação por Auditoria
- Sistema Participativo de Garantia;
- Organização de Controle Social (OCS).
O cultivo orgânico demanda investimento e tempo, já que quando o produtor sai da produção convencional e vai para a orgânica, vagar um período para o solo se estabilizar. “Por isso, o processo de transição tem que ser muito bem elaborado”, explicou a coordenadora de agroecologia do Incaper, Andressa Alves.
Mas o retorno pode valer a pena. O esforço e a produção capixaba têm exemplos disso. “aqui no Estado teve um boom quando um produtor montou uma exportadora e tinha muita demanda de gengibre orgânico. Ele começou a incentivar os agricultores orgânicos a produzirem gengibre também, contou.
Segundo Andressa, outro destaque em orgânicos é a experiência de municípios como Cariacica, que produz muita banana orgânica e vende para São Paulo, onde há meta de 100% da merenda escolar como orgânica. Isso incentivou Estados vizinhos.
“O orgânico vem muito dessa demanda. Se não houver valorização dos consumidores, os produtores vão desanimando, porque é um trabalho a mais e é dali que eles tiram a renda da família”, afirma.
Outro município de destaque nesse trabalho é Santa Maria do Jetibá. “Lá, eles tinham muito problema com intoxicação de agricultores, por contaminação, e começaram a trabalhar com agricultura orgânica. Então, cresceram muito. Estão próximos da Grande Vitória, formaram duas associações, e de lá produzem muitas olerícolas, verduras e trazem para comercializar em Vitória, em feiras”, lembrou Alves.
As feiras: carros-chefes de vendas de orgânicos
A pesquisa pátrio também apontou uma clara tendência de comercialização por cadeias curtas, porquê feiras e vendas diretas ao consumidor, já que todas as regiões apresentam registros de pontos de feiras orgânicas/agroecológicas. Cá, a Região Sudeste mais uma vez tem o maior número, 405.
Em terras capixabas, Deolindo Butescke, presidente da Associação Santa Mariense em Resguardo da Vida (APSAD-VIDA), confirma a prestígio das feiras porquê meato de vendas. “Hoje, a feira é o melhor negócio para qualquer agricultor, onde é possível ter lucro maior. O nosso carro-chefe são feiras em locais como a Grande Vitória, Serra e Cariacica”, contou.
A associação existe desde 1985 e, em 35 anos trabalhando com orgânicos, a APSAD já passou por diferentes momentos e precisou investir em conhecimento e estrutura para os produtores. “No começo, tínhamos apenas um caminhão próprio para levar os alimentos para as feiras, depois um caminhão maior. E agora, depois de todos esses anos, praticamente cada um tem o seu caminhão próprio”, revela ele.
A APSAD, que produz principalmente hortaliças, precisa se confederar a agricultores de locais com climas diferentes para manter o fornecimento a clientes. “O convencional dá o ano todo, mas o orgânico respeita mais o ciclo das plantas”, explica ele.
Para suprir a demanda por determinados mantimentos eles têm parceria com produtores de municípios porquê Laranja da Terreno, onde se cultiva inhame, maracujá, mamão, banana, jiló, quiabo e berinjela.
E o que impulsiona a seguir com o trabalho ainda é, em privativo, a questão de bem-estar. “O principal é a saúde, né. A nossa e a do consumidor também”. Apesar disso, o cultivador ainda percebe a falta de conscientização do público porquê entrave. “Hoje ainda é pouco reconhecido. Todo mundo quer usar marca de roupa, de carro, e, na hora de comer, não pensa de onde veio e come qualquer coisa”, destaca.
Para Butescke o que poderia ajudar a alavancar de vez a produção orgânica no país é a informação. “Falta divulgar para trazer novos consumidores. Em 2019, fizemos intercâmbio na Áustria e vimos que em todo ônibus, na parte traseira, tem publicidade sobre orgânicos, por exemplo”, contou ele sobre a experiência.
Com mais incentivo, o produtor vislumbra um porvir mais próspero para o orgânico no Brasil. “Nosso sonho é ter uma sede. Compramos um terreno e queremos construir um centro de distribuição, mas hoje ainda é tudo provisório. No meu sonho será grande, porque não adianta começar pequeno, precisamos ser grandes para o futuro”, concluiu ele.
Butescke se mantém esperançado de que a demanda por orgânicos vai ajudar mais agricultores a se voltar à produção mais limpa. “Quando o poder aquisitivo das pessoas começa a voltar, elas comprarão orgânico de novo”, explicou ele, que acredita que o incremento na demanda deve seguir firme.