O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) vê na eleição de Donald Trump nos Estados Unidos um “passo importantíssimo” para o que ele chamou de “sonho” de voltar à presidência do Brasil em 2026. Ele acredita que a vitória do coligado norte-americano representa um sinal de esteio e poderia fortalecer a percepção de que sua inelegibilidade foi uma armação para impedi-lo de concorrer novamente.
Bolsonaro foi tornado inelegível em 2022, em seguida ser réprobo por desfeita de poder político e econômico e pelo uso indevido dos meios de notícia. Já Trump foi eleito com uma ampla vantagem sobre a democrata Kamala Harris, com 277 delegados a 224.
“Eu não sei como é que cheguei à Presidência. Aconteceu. Dei o melhor de mim. Estava preparado? Não estava. Apesar de 28 anos de Parlamento, quando você vê aquela cadeira lá, cai para trás. Agora a minha pretensão [é a] de voltar. Eu tenho um sonho. Qual é o sonho? De ajudar o Brasil”, disse em entrevista à Folha de S. Paulo publicada nesta quinta (7).
Jair Bolsonaro foi réprobo à inelegibilidade pelo Supremo Tribunal Federalista (STF) por conta de uma reunião com embaixadores durante seu governo em que levantou dúvidas sobre a lisura do sistema eleitoral de votação brasiliano. Também de ter utilizado a comemoração do Bicentenário da Independência em favor próprio.
Para ele, isso se trata de perseguição, dissemelhante do que acontece com o atual governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). “O ser humano gosta de mandar e apareceu a brecha… Para o Lula está muito bom. Comigo tinha no mínimo uma intervenção do Supremo por semana”, pontuou.
No entanto, ele acredita que a vitória de Trump nos Estados Unidos fortalece a direita – e seus aliados – no Brasil a pressionarem pela sua indulto. “aqui no Brasil talvez fique um recado da própria eleição que queremos, cumprimento das leis, Estado democrático de Direito não da boca para fora, mas na prática”, pontuou.
Base de Trump em 2026
Ele ainda lembrou da relação amistosa que teve com Trump durante seu procuração e que o norte-americano “tinha interesse de fazer o Brasil como irradiador de democracia na América do Sul”.
“Tenho certeza de que ele gostaria que eu viesse a ser candidato”, disse Bolsonaro. Segundo ele, há especulações na mídia sobre um provável esteio, embora afirme não ter discutido diretamente o matéria com Trump.
Bolsonaro afirma que pretende fortalecer sua base política para 2026, com uma bancada ampla no Senado e na Câmara dos Deputados. Atualmente, ele estima que teria esteio de 20% dos deputados e 15% dos senadores, números que considera baixos para um eventual retorno ao poder.
“Acredito que vem uma bancada enorme em 2026”, estimou.
Ele vê, ainda, a possibilidade de que ter uma bancada mais possante pode influenciar numa melhor separação entre os Três Poderes. Para Bolsonaro, o parlamento “tem que ser o Poder de última palavra, o poder vem de lá, que tem o voto. Depois, o Executivo. Quem não tem o poder de se intrometer em nada é o Judiciário, o Judiciário é para resolver conflitos”.
Na noite de quarta (6), um dos filhos de Bolsonaro, o senador Flávio (PL-RJ) afirmou que não há “plano B” para 2026, e que o pai será candidato. “O plano A é Jair Bolsonaro, e o plano B é o plano A”, disse em entrevista à CNN Brasil.
Temer vice?
Questionado sobre uma provável associação com Michel Temer (MDB), que poderia se tornar seu vice segundo especulações de bastidores, Bolsonaro respondeu de maneira vaga, evitando confirmar, mas sem descartar a possibilidade de conversar sobre o tema.
“Não descarto conversar com ninguém, até com você. Ele é garantista, é um ex-presidente”, comentou lembrando que o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff em 2016, no qual Temer assumiu a presidência, foi o que abriu espaço para sua própria candidatura. “Não existe impeachment sem vice”, finalizou.