O ex-presidente Jair Bolsonaro postou nas redes sociais nesta quarta-feira, 19, uma gravação com áudios divulgados em março do ano passado, quando o tenente-coronel Mauro Cid afirmou que estava sendo coagido a delatar um suposto plano de tentativa de golpe.
Bolsonaro foi acusado formalmente de tentativa de golpe em denúncia apresentada pela Procuradoria-Geral da República na terça-feira 18; no dia seguinte, o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), levantou o sigilo dos depoimentos de Cid, que fundamentam a ação.
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A gravação repostada por Bolsonaro foi divulgada pela revista Veja há um ano. Nela, o ex-ajudante de ordens diz que foi pressionado a fazer determinadas afirmações e que havia “uma narrativa pronta”. Também disse que o ministro Alexandre de Moraes, relator dos inquéritos relativos aos atos de 8 de janeiro e à suposta tentativa de golpe, “é a lei” e que ele já estava “com a sentença pronta”.
“Eles são a lei agora. A lei já acabou há muito tempo, a lei é eles. Eles são a lei. O Alexandre de Moraes é a lei. Ele prende, ele solta quando quiser, como ele quiser, com Ministério Público, sem Ministério Público, com acusação, sem acusação”, declarou Cid, no áudio.
Cid mudou versão sobre trama sob ameaças de prisão de Moraes
A postagem de Bolsonaro foi feita no dia em que Moraes levantou o sigilo da delação de Cid e que se constatou que o militar alterou sua versão sobre aspectos centrais do suposto esquema golpista durante uma audiência em que o ministro Alexandre de Moraes ameaçou prendê-lo, cancelar o acordo de colaboração e avançar em investigações que poderiam envolver seus familiares.
Em 21 de novembro de 2024, o tenente-coronel compareceu ao STF sob pressão, depois de um pedido da Polícia Federal e um parecer da Procuradoria-Geral da República (PGR) que recomendava sua prisão por violação dos termos do acordo de delação.
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A audiência foi presidida pelo próprio Moraes, que abriu sua fala com as seguintes palavras: “Vamos começar de forma bem direta, o que caracteriza o meu estilo”. Em seguida, Moraes deixou claro que aquela era a “última chance” para que Cid falasse a verdade.
Naquela ocasião, o tenente-coronel declarou que uma reunião realizada em novembro de 2022 na residência do general Braga Netto — que foi candidato a vice-presidente na campanha de reeleição de Bolsonaro — tinha como propósito criar um “caos social”, o que justificaria uma intervenção das Forças Armadas para manter o presidente no poder.
Antes, o tenente-coronel afirmava que a reunião era apenas um encontro casual de militares que desejavam tirar fotos com Bolsonaro e Braga Netto.
Leia aqui a reportagem completa sobre a mudança de versão de Mauro Cid.
Leia a transcrição do áudio de Mauro Cid vazado em 2024
“Eles queriam que eu falasse coisa que eu não sei, que não aconteceu. E não vai adiantar. Não adianta. Você pode falar o que você quiser. Eu vi isso ontem. Eles não aceitavam e discutiam, que a minha versão não era verdadeira, que não podia ter sido assim, que eu estava mentindo.
“Eles já estão com a narrativa pronta, eles não queriam que eu dissesse a verdade, eles queriam só que eu confirmasse a narrativa deles. Entendeu? É isso que eles queriam. E toda vez eles falavam: ‘Olha, a sua colaboração está muito boa’. Tipo assim, ele até falou: ‘Vacina, por exemplo, você vai ser indiciado por nove negócios de vacina, nove tentativas de falsificação de vacina, vai ser indiciado por associação criminosa e mais um termo lá. Só essa brincadeira são 30 anos pra você’.
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“Eu vou dizer o que eu senti: eles já estão com a narrativa pronta deles, é só fechar. E eles querem o máximo possível de gente para confirmar a narrativa deles. É isso que eles querem. Eles são a lei agora. A lei já acabou há muito tempo, a lei é eles. Eles são a lei. O Alexandre de Moraes é a lei. Ele prende, ele solta quando quiser, como ele quiser, com Ministério Público, sem Ministério Público, com acusação, sem acusação.
“O Alexandre de Moraes já tem a sentença dele pronta. Acho que essa que é a grande verdade. Ele já tem a sentença dele pronta. Só está esperando passar o tempo, o momento que ele achar conveniente, denuncia todo mundo, a PGR acata, aceita e ele prende todo mundo.
“Se eu não colaborar, vou pegar 30, 40 anos (de prisão). Porque eu estou em vacina, eu estou em joia. Não, vai todo mundo. Vai entrar todo mundo em tudo. Se você vai somar as penas lá, vai dar mais de 100 anos para todo mundo.
“A cama está toda armada. E vou dizer: os ‘bagrinhos’ estão pegando 17 anos. Teoricamente, os mais altos vão pegar quantos?”.
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