O policial federal Wladimir Soares, denunciado pela Procuradoria-Geral da República (PGR) por tentativa de golpe, afirmou que fazia parte de uma “equipe de operações especiais” com “poder de fogo elevado” para defender o então presidente Jair Bolsonaro (PL) e “matar meio mundo de gente” com o objetivo de viabilizar a suposta tentativa de golpe de Estado em 2022. Áudios com as declarações foram encontrados pela Polícia Federal durante a perícia dos celulares do agente.
Soares foi preso na Operação Contragolpe, em novembro de 2024, acusado de participar da suposta trama golpista que incluía um plano para assassinar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) e o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes. Segundo a PF, o policial conversou com um contato sobre o planejamento em mensagens de áudio, no aplicativo WhatsApp.
“A gente está num barco afundado… Eu estive lá também, né. Eu posso falar para você aqui no privado, morre {{aqui}}, eu fiz, eu ia, nós fazíamos parte, fazemos, né, de uma equipe de operações especiais que estava pronta para defender o presidente armado, sabe, e com poder de fogo elevado para empurrar quem viesse à frente”, disse o policial.
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Soares destacou que o grupo estava à espera de uma “canetada” de Bolsonaro para colocar o plano em ação, mas, segundo ele, o ex-presidente “deu para trás” após ser “traído” pelo Exército.
“Esperávamos só o ok do presidente, uma canetada, para a gente agir, só que o presidente deu para trás, porque na véspera que a gente ia agir, o presidente foi traído dentro do Exército, né. Os generais foram lá e disseram que não iam mais apoiar ele”, afirmou.
Em seguida, o agente cita uma suposta conspiração entre o PT e a cúpula do Exército. “Na realidade o PT pagou para eles, comprou esses generais. Os generais se venderam ao PT no último minuto que a gente ia tomar tudo… A gente ia com muita vontade, a gente ia empurrar meio mundo de gente, matar meio mundo de gente, tava nem aí”, acrescentou.
Wladimir Soares foi denunciado pela Procuradoria-Geral da República (PGR) no “núcleo 3” da suposta trama golpista, formado também por militares da ativa e da reserva. A Primeira Turma do STF decidirá se recebe a denúncia e torna os acusados réus no próximo dia 20.
Além do agente da PF, formam o “núcleo 3”: Bernardo Romão Correa Netto (coronel), Cleverson Ney Magalhães (coronel da reserva), Estevam Cals Theophilo Gaspar De Oliveira (general da reserva), Fabrício Moreira de Bastos (coronel), Hélio Ferreira Lima (tenente-coronel), Márcio Nunes de Resende Júnior (coronel), Nilton Diniz Rodrigues (general), Rafael Martins de Oliveira (tenente-coronel), Rodrigo Bezerra de Azevedo (tenente-coronel), Ronald Ferreira de Araújo Júnior (tenente-coronel), e Sérgio Ricardo Cavaliere de Medeiros (tenente-coronel).
Bolsonaro “tentou fazer tudo certinho” e “só se ferrou”, disse policial
Soares afirmou que “tinha que ter cortado a cabeça” de Moraes quando o ministro impediu o então diretor-geral da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), Alexandre Ramagem, de assumir a chefia da Polícia Federal por indicação de Bolsonaro. O policial ressaltou que Bolsonaro “tentou fazer tudo certinho”, dentro das “quatro linhas” da Constituição e, segundo ele, “só se ferrou” ao não agir contra o ministro no episódio da indicação de Ramagem.
“O Alexandre de Moraes realmente tinha que ter tido a cabeça cortada quando ele impediu o presidente de colocar um diretor da Polícia Federal, né, o Ramagem. Tinha que ter cortado a cabeça dele, era ali, você tá entendendo? Mas não fez, foi frouxo, entende, cara? E tentou fazer tudo direitinho, quatro linhas, não sei o que e só se ferrou”, afirmou.
Em outro momento, Soares volta a citar uma suposta conspiração entre Moraes e Alckmin para derrubar Lula da presidência. Ele disse ainda que Bolsonaro viajou aos Estados Unidos no final de 2022, porque Moraes supostamente emitiria um mandado de prisão contra o ex-presidente.
“Tinha que ter cortado a cabeça logo. Vai prender, prende logo. Não tem muita conversa. A gente estava preparado para isso inclusive, para prender o Alexandre de Moraes”, reiterou o policial federal. Ele também disse que o então comandante da Marinha, Almir Garnier, foi o único entre os chefes das Forças Armadas a concordar com o suposto plano de golpe.
“O Garnier foi o único, o único. A Marinha, desde o começo, foi a única que apoiou ele 100%, o resto riou o corpo”, disse. O almirante e a própria Marinha negam qualquer adesão a suposta tentativa de golpe de estado em 2022.