Em meio às especulações sobre o nome de Tarcísio de Freitas (Republicanos) como principal sucessor de Jair Bolsonaro (PL) na disputa à presidência em 2026, uma pesquisa divulgada pela Paraná Pesquisas na terça-feira (18) apresentou indicadores importantes ao xadrez eleitoral.
Um dos pontos de destaque apontados pelo levantamento é a força política do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) sobre o principal adversário da esquerda, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), em comparação à força demonstrada até aqui por Tarcísio. A pesquisa mostra que, enquanto Bolsonaro fica à frente de Lula por 36% contra 33,8% no primeiro turno, no cenário estimulado, Tarcísio alcança 21,9% das intenções de voto contra 34,1% do candidato do PT.
“É um sinal para aqueles que já estão querendo tirar o Bolsonaro da jogada e colocar o Tarcísio de que não é uma coisa tão simples assim. A liderança do presidente Bolsonaro ainda é reconhecida a nível nacional e certamente será por muitos anos, independentemente da elegibilidade dele”, opina o deputado estadual Lucas Bove (PL).
“Os números mostram que Tarcísio tem uma projeção interessante, mas ainda falta alguma coisa para competir com Lulaque ainda é o grande líder da esquerda”, complementa o parlamentar.
No confronto direto, Tarcísio e Lula aparecem empatados tecnicamente
Confira:
- 1 No confronto direto, Tarcísio e Lula aparecem empatados tecnicamente
- 2 Pesquisa aponta Tarcísio à frente de Haddad em 2026
- 3 Tarcísio rechaça candidatura, mas alvoroço fortalece o nome dele
- 4 Fidelidade de Tarcísio a Bolsonaro é chave para fazer frente a nomes como Pablo Marçal
- 5 Tarcísio precisa se tornar mais conhecido nacionalmente, aponta consultor político
- 6 Por que a Gazeta do Povo publica pesquisas eleitorais
O levantamento do instituto Paraná Pesquisas também apontou que, em um eventual segundo turno à presidência da República em 2026, Tarcísio aparece tecnicamente empatado com Lula. Enquanto Tarcísio tem 40,8% da escolha do eleitorado, Lula soma 41,1%, diferença dentro da margem de erro de 2,2 pontos percentuais.
Em relação às pesquisas anteriores, o presidente Lula teve queda nas intenções de voto. Em janeiro de 2025, ele estava com 43,4%. Já Tarcísio de Freitas aparecia então com 40,6%, representando pouca variação em relação à última sondagem.
Esses números refletem o desempenho de ambos à frente, respectivamente, do governo federal e do governo paulista, principalmente no que se refere à economia e ao bolso do consumidor. De um lado, Tarcísio continua priorizando a agenda privatista, tendo encerrado o segundo ano de mandato com sete concessões à iniciativa privada, duas privatizações e R$ 300 bilhões em investimentos para o estado de São Paulo.
Essa política impacta em índices importantes para a percepção do eleitor, como a taxa de desocupação do estado. No ano passado, São Paulo teve uma taxa anual de desemprego de 6,2%, a menor da série históricaque se iniciou em 2012. O número ficou abaixo da média nacional, de 6,6%, e da região Sudeste, de 6,4%.
Paralelamente, no âmbito federal, a desaprovação do governo Lula dispara diante da alta inflação e de decisões impopulares como a “taxa das blusinhas” e a nova regra de monitoramento das transações na modalidade Pix, posteriormente revogada pelo governo. “Talvez seja esse o motivo da crescente popularidade de Tarcísio, enquanto Lula, de certa forma, perdeu apoio especialmente entre aqueles que defendem mais medidas voltadas ao mercado e menos políticas estatistas, como as adotadas pelo governo petista”, diz Leandro Consentino, cientista político e professor do Insper.
Na avaliação dele, era esperado de um presidente da República um desempenho bem melhor nas pesquisas do que o apresentado. “Temos aí um recado de que o seu governo está indo muito mal”, complementa.
Pesquisa aponta Tarcísio à frente de Haddad em 2026
Os altos gastos públicos e a política fiscal desequilibrada no âmbito federal contribuem para a queda da aprovação de Lula e, principalmente, do ministro da economia, Fernando Haddad (PT). Em uma outra possibilidade sondada pelo Paraná Pesquisas, de eventual disputa contra Haddad, Tarcísio tem 23,9% das intenções de voto no primeiro turno, em cenário estimulado.
“O Tarcísio sempre foi alguém com uma visão econômica mais para o mercado e levantou essa bandeira enquanto ministro da Infraestrutura (do governo Bolsonaro). Ele conseguiu colar essa imagem de forma bastante hábil à sua liderança no governo estadual, o que ajuda na popularidade”, analisa Cosentino.
Neste mesmo cenário testado pelo Paraná Pesquisas, outros nomes aparecem depois de Haddad e Tarcísio nas intenções de voto: Ciro Gomes, com 16,7%; Gusttavo Lima, com 12,4%; Ronaldo Caiado, com 4,2%; Eduardo Leite, com 3,8%; e Helder Barbalho, com 1,3%.
“O Tarcísio é o nome mais forte da direita depois de Bolsonaro, ele está fazendo um bom trabalho em todas as áreas como governador de São Paulo, que é o mais relevante do país. No cenário nacional ele é um nome com muita força”, diz o deputado federal Ricardo Salles (Novo).
“O grande líder da direita é o Bolsonaro e, na ausência dele, a direita precisa encontrar um nome. O nome mais forte é o Tarcísio, mas os outros estão se apresentando: Caiado, Zema e Ratinho Jr. são nomes importantes para compor chapa. Todos eles, numa composição com toda a direita, são capazes de serem cabeça de chapa ou vice, mas todas dependem se Bolsonaro vai ser candidato ou não. Ele é o principal candidato, isso é indiscutível”, adiciona.
Tarcísio rechaça candidatura, mas alvoroço fortalece o nome dele
Os cenários políticos delineados nas sondagens eleitorais elevam a pressão para que o governador de São Paulo dispute o cargo de presidente em 2026. Para seu capital político, no entanto, esse não seria o melhor momento para se candidatar e o próprio Tarcísio tem reiterado que não tem interesse na Presidência.
“Ele foi categórico tanto publicamente quanto internamente. Tarcísio já me falou que não tem nenhum interesse em disputar a Presidência. Ele disse que quer seguir no estado de São Paulo e que só cogitaria a Presidência se houvesse uma convocação expressa do presidente Bolsonaro”, diz o deputado Lucas Bove.
O fato de a reeleição de Tarcísio ao governo de São Paulo em 2026 ser considerada um caminho relativamente tranquilo também pesa na decisão. “O pleito da Presidência está muito embolado e envolveria uma série de desgastes do próprio capital político de Tarcísio, com a possibilidade de perder a reeleição o estado, algo que já está nas suas mãos”, opina Aryell Calmon, coordenador de estados e municípios da BMJ Consultores Associados.
Fidelidade de Tarcísio a Bolsonaro é chave para fazer frente a nomes como Pablo Marçal
Na análise de especialistas, o fato de Tarcísio se manter fiel ao padrinho político Bolsonaro tem sido fundamental para ele herdar os votos do ex-presidente e sair à frente de outros nomes da direita que se colocam como possíveis candidatos à Presidência em 2026, mas sem aval explícito do ex-presidente. É o caso de Pablo Marçal (PRTB), Gusttavo Lima e governadores de estado como Romeu Zema (Novo) e Ronaldo Caiado (União).
“Mesmo que esses nomes ainda se lancem como nomes de direita, Bolsonaro permanece como aquele que carrega mais capilaridade social diante da população. Ainda que esteja inelegível, ele vai ser fundamental para as eleições e 2026 e o nome da centro-direita precisa estar atrelado a eleda mesma maneira como ocorreu com Nunes nas eleições municipais em São Paulo”, diz Calmon.
Ainda que Bolsonaro faça declarações públicas diplomáticas em relação às candidaturas de Marçal e Gusttavo Lima, nomes próximos a ele os rechaçam. Durante a campanha municipal à prefeitura de São Paulo, o deputado federal Eduardo Bolsonaro, por exemplo, se posicionou contra Marçal condenando o passado político do empresário.
Em relação à pesquisa divulgada na terça-feira (18) pelo Paraná Pesquisas, Fabio Wajngartenadvogado e conselheiro político de Bolsonaro, postou em seu perfil no X que “a população brasileira deixa claro que prefere que ele (Gusttavo Lima) continue cantando”.
“Um dos dados mais curiosos revelados na pesquisa Paraná de hoje é o desempenho do PopStar Gusttavo Lima com aproximadamente 6%, já confirmada anteriormente pela pesquisa Atlas. O dado de hoje nem de perto se assemelha aos quase 20% fornecidos pela Quaest.”
O cientista político Consentino evidencia que nomes da família Bolsonaro, como Eduardo, devem ser indicados em cargos estratégicos na chapa apoiada pelo ex-presidente em 2026, como o de vice. “Do grupo mais próximo do Bolsonaro, os governadores têm projeto político próprio e posicionamento dúbio em relação a ele: ora se afastam e ora são mais fiéis ao ex-presidente. No campo da direita, apenas a família parece estar 100% fechada com Bolsonaro e o Eduardo me parece o nome mais talhado para isso”, complementa.
Tarcísio precisa se tornar mais conhecido nacionalmente, aponta consultor político
O levantamento do instituto Paraná Pesquisas mostra que, no cenário estimulado para o primeiro turno, Lula tem larga vantagem em comparação a Tarcísio na região Nordeste do país (42,8% contra 12%), seu berço eleitoral.
Do outro lado, porém, Tarcísio não apresenta vantagem sobre Lula na mesma proporção no Sul do país, região de preferência política predominantemente conservadora. De acordo com a pesquisa, Lula tem 23,6% das intenções de voto, contra 25,9% de Tarcísio.
Essa preferência por Tarcísio também não ocorre no Sudeste do país, onde ela é esperada principalmente devido ao índice de aprovação do governador de São Paulo em municípios no interior do estado. Ali Lula tem 33% das intenções de voto, enquanto Tarcísio tem 27,8%.
“De maneira geral, esses números mostram que, caso Tarcísio se candidate, ele vai enfrentar o desafio de se fazer um nome conhecido em regiões fora de São Paulo, ainda mais nesse momento em que não há campanha na televisão”, diz Calmon.
Ele lembra que a trajetória de Tarcísio como ministro de Infraestrutura foi fundamental para a construção de um nome técnico ligado a obras. “Isso pode ser importante para essas regiões que precisam de investimento, uma vez que infraestrutura e obras públicas são muito perceptíveis para o eleitor.
- Metodologia: O instituto Paraná Pesquisas realizou as entrevistas entre os dias 13 e 16 de fevereiro. O grau de confiança é de 95% com margem de erro estimada de 2,2 pontos percentuais para os dados gerais coletados no país. Para o estrato da Região Sudeste foram realizadas 848 entrevistas. Na Região Nordeste foram 558 entrevistados e no estrato da Região Norte + Centro-Oeste foram 303 entrevistas. Na Região Sul, o instituto de pesquisa ouviu 301 entrevistados.
Por que a Gazeta do Povo publica pesquisas eleitorais
UM Gazeta do Povo publica há anos todas as pesquisas de intenção de voto realizadas pelos principais institutos de opinião pública do país. As pesquisas de intenção de voto fazem uma leitura de momento, com base em amostras representativas da população.
Métodos de entrevistas, composição e número da amostra e até mesmo a forma como uma pergunta é feita são fatores que podem influenciar no resultado. Por isso é importante ficar atento às informações de metodologias, encontradas no fim das matérias da Gazeta do Povo sobre pesquisas eleitorais.
Pesquisas publicadas nas últimas eleições, por exemplo, apontaram discrepâncias relevantes em relação ao resultado apresentado na urna. Feitos esses apontamentos, a Gazeta do Povo considera que as pesquisas eleitorais, longe de serem uma previsão do resultado das eleições, são uma ferramenta de informação à disposição do leitor, já que os resultados divulgados têm potencial de influenciar decisões de partidos, de lideranças políticas e até mesmo os humores do mercado financeiro.