O advogado Antônio Carlos de Almeida Castro, conhecido como Kakay, divulgou uma carta aberta neste domingo, 16, na qual demonstra sua preocupação com o atual governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O texto foi compartilhado com diversos grupos, segundo o blog de Andréia Sadi no g1.
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Aliado histórico do Partido dos Trabalhadores (PT), Kakay afirma que o terceiro mandato de Lula apresenta sinais claros de isolamento político e perda de sua habilidade de articulação. “O Lula do 3º mandato, por circunstâncias diversas, políticas e principalmente pessoais, é outro”, escreveu. “Não faz política. Está isolado. Capturado.”
No texto, o advogado relembra momentos da trajetória política de Lula e destaca a capacidade de articulação dos governos anteriores. Ele menciona um episódio ocorrido durante a gestão de José Dirceu na Casa Civil, quando um senador da oposição conseguiu rapidamente uma reunião com o governo.
“O Zé — de longe o mais preparado dos ministros — deu um show discorrendo sobre o Estado de origem do senador, que saiu de lá com o número do celular do Zé e completamente encantado”, recorda Kakay.
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Em contraste, o cenário atual seria de distanciamento e dificuldade de diálogo: “Outro dia alguns políticos me confidenciaram que não conseguem falar com o presidente”, escreveu o advogado. “É outro Lula que está governando.”
Kakay enfatiza que Lula foi essencial para derrotar Jair Bolsonaro em 2022, mas alerta para o fato de que a falta de articulação pode colocar em risco um futuro governo petista. “Lula fez o que de melhor podia ao enfrentar Bolsonaro e ganhar do ‘fascismo’ impedindo que tivéssemos mais quatro anos de Bolsonaro.”
No entanto, o advogado pondera que a aliança necessária para vencer as eleições tornou o governo refém de compromissos políticos diversos, o que o levou a decisões pragmáticas que nem sempre condizem com a trajetória histórica do PT. “Só o Lula conseguiria unir e fazer este amplo arco para derrotar Bolsonaro.”
Kakay não perde a oportunidade de criticar Bolsonaro
Para Kakay, o distanciamento de Lula do jogo político tradicional pode abrir caminho para uma vitória da direita em 2026. Ele alerta para pesquisas recentes, que mostram que “62% não querem que Lula seja candidato à reeleição”.
Segundo o advogado, o presidente não tem trabalhado para criar uma rede sólida em torno de si, e isso compromete a formação de um sucessor. “Não foi feito um grupo ao redor do presidente, que se identifique com ele e de onde sairia o sucessor político natural.”
Kakay ainda critica o ex-presidente Jair Bolsonaro, mas reconhece que a sua derrota em 2022 ocorreu mais pelos próprios erros do que pelo mérito do adversário petista. “Bolsonaro só perdeu porque era um inepto”, avalia. “Tivesse ouvido o Ciro Nogueira e vacinado, ou ficado calado sem ofender as pessoas, teria ganho com a quantidade de dinheiro que gastou.”
Em um tom pessimista para a esquerda e para o PT, Kakay sugere que Lula está em um caminho perigoso que pode levar à derrota no pleito de 2026. “Perder uma reeleição é muito difícil, mas o Lula está se esforçando muito para perder”, considera. “E não duvidem dele, ele vai conseguir.”
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Apesar das críticas ao governo Lula, Kakay ainda enxerga esperança na figura do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, a quem classifica como “o mais fenomenal político desta geração em termos de preparo” e “um gênio”. Para ele, Haddad está “pronto para assumir seu papel”, mas precisará contar com o apoio de um grupo forte dentro do governo.
O advogado também defende o crescimento de uma nova direita no Brasil, que possa ser uma alternativa ao “bolsonarismo”. Ele aposta na condenação e na eventual prisão de Bolsonaro até setembro, o que, em sua visão, abriria espaço para novas lideranças políticas de centro-direita. “Já fico olhando o quadro e torcendo para o crescimento de uma direita civilizada.”
No desfecho da carta, Kakay cita o poeta Torquato Neto para enfatizar o momento crítico que o Brasil vive: “É preciso que haja algum respeito, ao menos um esboço, ou a dignidade humana se afirmará a machadada”. A citação sugere que, se o atual governo não conseguir recuperar sua credibilidade, o futuro do país poderá ser definido por rupturas bruscas.
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