Costuma-se dizer que o empreendedor nasce com um dom, como se o espírito de liderança e a habilidade de assumir riscos fossem quase genéticos. Cresci ouvindo meu pai falar sobre negócios, assim como meus irmãos. Todos somos donos de empresas, mas atribuir isso apenas a um suposto talento inato ou ao “gene empreendedor” seria uma simplificação grosseira da realidade. Empreender é fruto de aprendizado, contexto e escolhas. Se fosse apenas questão de “dom”, estaríamos limitados desde o nascimento, o que não é verdade. O mito de que empreendedores nascem prontos para o sucesso desconsidera o esforço contínuo de aprender a navegar por águas incertas.
Outro equívoco comum é imaginar que o empreendedor é um apostador, alguém que corre riscos constantemente. De fato, tomamos decisões que muitas vezes envolvem incertezas, mas dizer que somos confortáveis com o risco é um mito. O que realmente ocorre é que, com o tempo, desenvolvemos a habilidade de calcular riscos, algo bem diferente de apostar no escuro. O que faço hoje, com 15 anos de empresa, é muito menos arriscado do que parecia no início. A experiência ajuda a tomar decisões mais seguras, e o risco deixa de ser uma aposta para se tornar uma estratégia.
Nem todo empreendedor quer ou precisa estar na mídia. Na verdade, muitos preferem trabalhar em silêncio, focados em seus produtos e serviços
O dinheiro também é uma motivação frequentemente atribuída ao empreendedor. Claro, o lucro é um objetivo importante, mas dificilmente é o principal motivo que nos faz continuar. Na minha empresa, por exemplo, demoramos dez anos para começar a retirar lucro. Nos primeiros anos, a prioridade foi reinvestir para garantir a sustentabilidade do negócio. O foco em crescer e entregar algo de valor vem antes de qualquer preocupação com ganhos financeiros. O dinheiro, como costumo dizer, é uma consequência de um trabalho bem feito, não a razão que nos move.
Ainda há quem acredite que empreender é coisa de jovens e que apenas quem tem energia de sobra consegue abrir um negócio. Embora a energia seja importante, a experiência é algo que não pode ser ignorado. A idade traz maturidade, e muitos empreendedores bem-sucedidos começam seus negócios mais tarde na vida. Um exemplo clássico é o Coronel Sanders, o fundador do KFC, que iniciou uma nova empresa após os 70 anos de idade. Na minha trajetória, a falta de experiência foi um dos maiores desafios nos primeiros anos, mas essa mesma ausência de vivência foi o que me impulsionou a aprender rápido. Esperar o momento ideal, em que se tenha “experiência suficiente”, pode significar nunca começar. Se você quer empreender, a hora certa é agora, com erros e acertos ao longo do caminho.
Outro mito, talvez menos discutido, é o da busca por holofotes. Nem todo empreendedor quer ou precisa estar na mídia. Na verdade, muitos preferem trabalhar em silêncio, focados em seus produtos e serviços. É interessante como, mesmo com milhares de empresas listadas em bolsas de valores, como a Nasdaq, poucos nomes de empreendedores são amplamente conhecidos. A grande maioria prefere ficar longe dos flashes, concentrando seus esforços naquilo que realmente importa: construir e entregar valor.
Além desses mitos mais conhecidos e abordados brilhantemente por Barringer e Ireland no livro “Empreendedorismo: Como Lançar Novos Negócios com Sucesso”, acredito que dois outros precisam ser mencionados. O primeiro é a ideia de que, ao empreender, você deixa de ter um chefe. Se você pensa em abrir uma empresa para fugir das ordens de um superior, sinto informar que a realidade pode ser decepcionante. Quando você é dono do próprio negócio, seus “chefes” se multiplicam. Cada cliente é, na prática, um chefe diferente, com demandas específicas que precisam ser atendidas. Esse é um aspecto que costuma ser ignorado, mas que define boa parte da rotina de quem empreende.
Outro mito frequente é o de que é necessário ter muito dinheiro para começar. Cresci ouvindo as histórias do meu pai, que abriu sua própria empresa nos anos 90 sem nenhum capital inicial. Ele juntava sucata dos próprios clientes, recondicionava as peças e as revendia, criando um novo nicho no mercado automotivo. Essa experiência familiar foi uma lição importante: dinheiro ajuda, claro, mas não é o único ingrediente para o sucesso de um negócio.
O ponto central que gostaria de reforçar é que empreender exige muito mais do que a visão romantizada que circula por aí. É uma jornada de aprendizado constante, em que o erro é parte do processo e o sucesso raramente vem rápido. O verdadeiro empreendedor está mais focado em construir algo duradouro do que em perseguir fama ou fortuna. Não existe uma fórmula mágica, e muitos dos mitos que cercam o empreendedorismo acabam por desencorajar aqueles que estão começando. Não se trata de esperar pelo momento perfeito ou ter todas as respostas. O importante é começar, estar disposto a aprender e, acima de tudo, ser resiliente. Afinal, mais do que arriscar, empreender é construir. E isso, ao contrário do que muitos acreditam, qualquer pessoa pode fazer, desde que esteja disposta a trilhar essa jornada.
Bruno Borgonovo, administrador, é fundador e CEO da BRW Suprimentos.