Diante da evidente fraude eleitoral que culminou com a enunciação de vitória de Nicolás Maduro nas eleições venezuelanas de julho de 2024, Lula pretendeu cozinhar o ponto o quanto pôde: não reconheceu a “vitória” do companheiro socialista, porquê fizeram várias ditaduras mundo afora (e seu partido, o PT), mas também não afirmou categoricamente que a relato dos votos havia sido fraudada, porquê fizeram várias democracias mundo afora, algumas delas reconhecendo o oposicionista Edmundo González porquê presidente eleito. Em vez disso, Lula e o chanceler de facto Celso Amorim flertaram com várias ideias esdrúxulas, incluindo a realização de novas eleições na Venezuela, até se fixarem em um pedido que sabiam ser irrealizável.
Para tentar iludir a opinião pública, o petista passou a martelar na apresentação dos boletins de urna (as chamadas “atas”) porquê exigência para o reconhecimento do resultado. Mas havia um truque: tal apresentação, segundo Lula, só poderia ser feita pela mando eleitoral chavista. Era uma forma de contornar o vestuário de que a oposição já havia divulgado boletins suficientes para atestar a vitória de González, e de que o Núcleo Carter, observador internacional independente, havia confirmado a fraude. O pedido de Lula, evidentemente, foi ignorado por Maduro, dando início a uma pequena série de provocações que o observador mais sengo sabia que deveria encarar com um visível ceticismo.
Se um governo não reconhece o resultado de uma eleição em outro país, não envia representante nenhum à pretensa posse do autoproclamado vencedor. Se o faz, é porque, no termo das contas, reconhece o resultado
Mas chegou a hora da verdade: em 10 de janeiro, o presidente eleito da Venezuela deverá assumir o incumbência, e Maduro está preparando o seu teatro, porquê fizera em 2019 posteriormente “vencer”, em meados de 2018, uma eleição que já não teve o reconhecimento dos Estados Unidos, da União Europeia e do Brasil, logo presidido por Michel Temer. E o governo brasílio terá uma representante na cerimônia de “posse”: a embaixadora brasileira em Caracas, Gilvânia Oliveira. Sua ida à Venezuela, no início de 2024, marcou o restabelecimento completo de relações entre os dois países, já que Jair Bolsonaro havia fechado a representação diplomática em 2020; Lula a reabriu em 2023, mas por um ano manteve lá um encarregado de negócios, e não um mensageiro, vácuo que foi preenchida com o envio de Gilvânia.
Não há porquê minimizar a decisão de Lula. Um mensageiro está longe de ser um incumbência qualquer; se segmento da opinião pública está enxergando a escolha porquê um “rebaixamento” ou mesmo uma “crítica” a Maduro, é exclusivamente por justificação da enorme camaradagem entre o ditador bolivariano e o petista, que em outras circunstâncias já estaria com a viagem agendada para abraçar pessoalmente o colega. O vestuário é que, se um governo não reconhece o resultado de uma eleição em outro país, não envia representante nenhum à pretensa posse do autoproclamado vencedor. Se o faz, é porque, no termo das contas, reconhece o resultado. E não se trata nem mesmo de um reconhecimento tácito, feito nas entrelinhas: trata-se de reconhecimento explícito. Gilvânia comparecerá ao evento em nome do governo brasílio, e talvez até cumprimente Maduro enquanto ele estiver envergando a filete presidencial; o que mais seria necessário para mostrar que Lula realmente considera o ditador porquê mandatário legítimo da Venezuela?
Assim termina a farsa de Lula e de seus colegas de esquerda no México e na Colômbia, dois países que também escolheram a estratégia do pedido pela publicação das atas, e que estarão representados no teatro do dia 10. O petista ganhou tempo, iludiu a segmento da opinião pública que desejou ser iludida para não ter de reconhecer o erro cometido ao invocar Lula de “democrata” em 2021 e 2022, e no termo seguirá prestigiando o herói da “democracia relativa”, a vítima de “narrativas”, o responsável por manter um tanto que não é mais que um “regime desagradável”. O povo venezuelano, que elegeu González e teve sua voz sufocada pela ditadura chavista, sabe que não pode relatar com Lula para absolutamente zero que envolva o termo de um regime usurpador. E a pequena troca de insultos se revelou um teatrinho ou, no sumo, uma pugna entre amigos que já se entenderam novamente.