O governo americano revelou nesta quarta-feira (18) que realizou a maior apreensão da história de criptomoedas ligadas a golpes. A soma chega a US$ 225,3 milhões (R$ 1,2 bilhão).
Além do roubo, feito através dos chamados golpes de confiança, as investigações apontam para um sofisticado esquema de lavagem de dinheiro utilizando corretoras.
A denúncia feita pelo FBI e pelo Serviço Secreto revela que ao menos 434 pessoas caíram no golpe tanto nos EUA quanto em outros países. Algumas das vítimas tiveram perdas milionárias.
Como funcionavam os golpes?
Os golpes aplicados pelo grupo possuem diversos nomes, incluindo golpe de confiança, abate de porco (pig butchering), golpe do romance e outros.
🔔 Entre em nosso grupo no WhatsApp e fique atualizado.
Em suma, os golpistas ganham a confiança das vítimas na internet e então sugerem que elas façam investimentos em criptomoedas. No entanto, as corretoras sugeridas são controladas pelos próprios golpistas.
O processo aponta para alguns desses sites, incluindo YoBitPro(.)lol, FX6, e Bitdu.
Embora as vítimas conseguissem realizar os primeiros saques de seus investimentos, isso também era uma tática usada pelo grupo para gerar mais confiança para que eles depositassem quantias ainda maiores na sequência.
Ao final do golpe, os saldos eram bloqueados. Buscando roubar até o último centavo possível, os golpistas também criavam falsas taxas e impostos enquanto prometiam a liberação do dinheiro.
Um dos exemplos citados é o Caso Shan Hanes. Em 2023, o executivo desviou US$ 47 milhões (R$ 258 milhões) do banco onde trabalhava como CEO para investir em um destes esquemas. O banco faliu e ele foi preso.
Como era feita a lavagem do dinheiro?
O governo americano aponta que os golpistas operavam em ‘fábricas de golpes’ no Sudeste Asiático, incluindo países como Myanmar, Filipinas, Laos e Cambodja.
Os golpes eram aplicados por vítimas de tráfico humano que eram obrigadas a conversar com as outras vítimas por mensagem, aplicativos de encontro e outras plataformas. Conforme essas pessoas são de diversos países, incluindo Brasile falam vários idiomas, as vítimas estão espalhadas pelo mundo.
Após colocarem a mão no dinheiro, os golpistas iniciavam outra operação para lavá-lo.
“Os endereços de criptomoedas que mantinham os mais de US$ 225,3 milhões faziam parte de uma sofisticada rede de lavagem de dinheiro baseada em blockchain, que executou centenas de milhares de transações e foi usada para ocultar a natureza, origem, controle e propriedade dos valores provenientes da fraude de investimentos”escreveu o Departamento de Justiça americano.
“Os operadores do golpe dispersaram os lucros por meio de uma ampla rede de endereços e contas em blockchain para dificultar a rastreabilidade dos fundos obtidos de forma ilícita.”
https://diclotrans.com/redirect?id=41928&auth=49e94614f6987ef93673017ac5a16616c706109f
O processo mostra que o grupo criou 144 contas na corretora de criptomoedas OKX. O texto aponta que, no entanto, os golpistas eram descuidados e utilizavam e-mails parecidos (mesmo domínio, poucas letras seguidas do número exato de telefone do cadastro) e que os logins eram todos feitos com IPs das Filipinas.
Outro ponto levantado é que as fotos tiradas para o processo de verificação (KYC) eram estranhas. Como exemplo, contas eram verificadas a partir do mesmo local e momento, como pode ser visto claramente no quadro ao fundo (e na aparência do primeiro suspeito no canto esquerdo da segunda foto).

“Isso é indicativo de contas “mula” criadas para facilitar o recebimento e a lavagem de fundos provenientes de fraudes”aponta o processo, notando que essas duas contas em questão foram usadas para receber uma grande quantia de criptomoedas.
Indo além, a Justiça americana também aponta que algumas dessas fotos não parecem ser selfies, mas sim fotos tiradas por terceiros.


Outras fotos mostram pessoas usando um crachá da empresa ‘Itechno Specialist Inc.’um call center localizado nas Filipinas que, na verdade, faz parte de um esquema de trabalho forçado.
Antes disso, investigações on-chain também foram cruciais para a identificação do grupo e seus endereços.
“A equipe de investigação conseguiu rastrear os fundos das vítimas a partir das 22 contas da OKX (entre as 144 contas da OKX) utilizando o método LIFO. Acredita-se que isso represente uma amostra da atividade geral, que apresenta um total de mais de 263.000 depósitos.”
LIFO é a sigla para Last In, First Out (Último a Entrar, Primeiro a Sair), estratégia que permite o monitoramento de carteiras com grandes volumes de transações.




Governo americano devolverá dinheiro para as vítimas
Embora o governo americano esteja montando uma reserva de Bitcoin usando criptomoedas apreendidas em processosesses 225,3 milhões (R$ 1,2 bilhão) serão devolvidos para as vítimas.
A diferença para outros casos, como da Silk Road, é que tais crimes não tinham vítimas para reivindicar as perdas.
Por fim, o FBI solicita que vítimas acessem o site Centro de reclamação de crimes da Internet usando o código BT06182025 caso queiram participar desse programa de reembolso.
Até então, 434 vítimas já foram identificadas e o FBI conversou com aproximadamente 60 delas. Dado que o golpe foi global, é possível que brasileiros também tenham sido lesados.