“Às vezes as pessoas olham para mim, para a minha barba branca e meu cabelo branco, e não acreditam que eu subi a montanha mais de 40 vezes. Eu aguento, não me sinto incapaz disso mesmo com meus 62 anos”, diz Osvaldo Souza, um dos pioneiros do Legendários no Brasil.
O movimento evangélico, conhecido por promover retiros em que homens sobem uma montanha ao longo de quatro dias em meio a momentos de oração e pregações sobre a identidade masculina, começou na Guatemala, fundado em 2015 pelo pastor Chepe Putzu, que é a principal liderança do Legendários em nível global.
No entanto, para que a iniciativa fosse difundida em outros países, a direção do movimento no país da América Central treinou e nomeou homens para implantarem o evento em suas regiões. No Brasil, a primeira edição do Legendários ocorreu em novembro de 2018 e, por alguns anos, apenas três homens tiveram permissão para abrir novas frentes do evento pelo país. São eles: Ricardo Bernardes, Osvaldo Souza e Antero Ribeiro.
Atualmente há mais brasileiros reconhecidos pelo Legendários Globala cúpula internacional do movimento, que podem promover o retiro. A direção também nomeou o brasileiro Daniel Vale para ser seu representante oficial no país. No entanto, os três pioneiros seguem sendo as mais antigas lideranças do movimento no país e estão ligados diretamente à abertura de novas pistas do Legendários, tanto no Brasil quanto no exterior.
UM Gazeta do Povo conversou com os três, que falaram sobre como veem a relevância do Legendários no Brasil e as críticas que o movimento recebeu nos últimos meses, em especial sobre valores de inscrição e suposta proximidade com influenciadores e coachs famosos.
Ricardo Bernardes (4500)
Ricardo Bernardes, pastor na igreja Embaixada, de Balneário Camboriú-SC, foi o primeiro brasileiro a tornar-se um “legendário” – alcunha dada a homens que completaram o desafio na montanha. Ele, que hoje é o coordenador do movimento em sua cidade, participou do evento na Guatemala em 2017, sendo o 4.500º homem no mundo a completar o desafio.
Cada participante que participa do retiro recebe um número sequencial de acordo com a ordem em que concluiu. Ou seja, quanto mais baixa é a numeração, mais antigo é o legendário. Já são mais de 100 mil participantes no mundo e quase metade são brasileiros.
A primeira edição do Legendários em solo brasileiro aconteceu na cidade de Ricardo, no litoral catarinense. “Com um grupo de dez homens a gente implantou aqui em Balneário Camboriú, e depois foi se espalhando para muitas outras cidades”, diz. “Dentro da Igreja temos várias ferramentas para alcançar pessoas, mas creio que a mais poderosa para alcançar homens seja o Legendários”, afirma Bernardes.
Quanto às críticas que o movimento sofreu, o pastor diz que tem a ver com o “interesse de muitas pessoas em falar sobre o desconhecido”. “Essas pessoas não costumam analisar os frutos. Na nossa cidade em média 50% dos homens que decidem participam não são evangélicos, não frequentam uma igreja. Então é algo que tem sido muito útil para levar o Evangelho para essas pessoas”, declara.
O teólogo também rechaça a acusação de que haveria inscrições no valor de R$80 mil para participar do evento. “Nunca ninguém pagou isso para participar. Esse valor foi um erro que apareceu no site, mas foi rapidamente corrigido”, diz.
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Osvaldo Souza (11.245)

Pastor da Igreja Batista Central de Belo Horizonte, Osvaldo Souza participou de uma edição do Legendários na Guatemala em 2018, com o objetivo de conhecer o evento para eventualmente reproduzi-lo em sua igreja. Foi o coordenador do movimento na capital mineira até 2023, quando passou a liderança para outro pastor. Mesmo assim, segue subindo montanhas e atuando como conselheiro do Legendários Global.
“A presença e a participação dos homens na nossa igreja cresceu muito desde que implementamos o movimento. Hoje inclusive há mais homens do que mulheres nas campanhas de oração. E não é que as mulheres pararam de orar, é que o número de homens aumentou”, explica.
Souza também lamentou as recentes críticas contra o movimento que inundaram as redes sociais após a participação de influenciadores famosos no retiro. “O fato de tantos estarem falando mal nas redes sociais mesmo sem conhecer, por incrível que pareça vai aguçar mais a curiosidade das pessoas. Mas o Legendários não precisa de polêmica. Antes dessa repercussão toda já havia uma demanda muito grande. Para você ter uma ideia, na última edição nós abrimos 850 vagas, e elas foram preenchidas em menos de um minuto”, diz o pastor.
“E não é algo apenas daqui. Se São Paulo, Rio de Janeiro, Paraná ou outros estados abrirem mil vagas, vão preencher as mil. Não é mérito de ninguém, é apenas um favor de Deus que começou forte aqui no Brasil em 2018 e que segue até hoje”, prossegue.
Antero Ribeiro (11.300)

Antero Ribeiro é o único dos três pioneiros brasileiros que não é pastor. Mesmo assim, é bastante ativo em sua comunidade, a Primeira Igreja Batista (PIB) de Curitiba, onde exerce o cargo de vice-presidente. Antero é, atualmente, coordenador do Legendários na capital paranaense.
Em 2018, ele participou da mesma edição que Osvaldo Souza, na Guatemala, com a intenção de reproduzir o evento em sua igreja. Meses depois, com o aval da cúpula do movimento na Guatemala, juntou-se a Souza e Bernardes na equipe que promoveu a primeira edição do retiro, no litoral catarinense. De lá para cá, já participou diretamente de dezenas de aberturas das chamadas “pistas” no Brasil e no exterior.
“A liderança no Brasil é o Legendários Global. Nós nos reportamos a eles, e eles têm representante no Brasil. Hoje há sedes espalhadas pelo país inteiro, e os coordenadores dessas sedes se reúnem uma vez por ano em uma grande reunião nacional”, explica Ribeiro.
“E há uma orientação muito clara por parte da direção global, de que não se pode vincular o Legendários a uma igreja, mas sim à cidade (sede). Então o movimento é da cidade, não de uma igreja em específico. Isso é importante, porque lá falamos apenas de Jesus”, emenda.